Não importa
se a resposta é sim ou não.O que importa
é a situação narrada.Ninguém defende um traficante assassino,o que não é
admissível é que só ele seja responsabilizado pelo problema.
El Chapo,como
todo traficante,como todo fora-da-lei,é manipulado pela” boa sociedade”,que o
financia e e esconde quando ele é pego.Não existe crime sem a conivência da “ boa sociedade” .Ela não
resolve os problemas sociais e permite que as formas de crime surjam como
compensação e continuidade do regime social de exclusão e exploração.
O “ charme”
do bandido cria ,na mídia,as condições para sua reprodução(do charme)econômica
,em filmes ambíguos,em que o bem e o mal são baralhados e confundidos,no “ tudo
junto e misturado inconsciente”,que dilui a culpa e torna tudo uma
novela,provavelmente com o final feliz,isto é, o único culpado na cadeia e os bons vivendo felizes para sempre.
No inicio do
século passado,para lembrar a profissão de Sean Penn,Erwin Piscator criou o
Teatro Político ,que visava colocar o homem comum dentro da trama artística de
modo a comprometê-lo com a solução de problemas que ,afinal,o atingiam
cotidianamente.
Era o
rompimento com o distanciamento típico de Aristóteles,em seu princípio da
“catarse”.O espectador via uma tragédia,se compadecia e saia do teatro renovado
pelo aprendizado moral do que não se devia fazer na vida social.
Embora nem em
Piscator ,nem em Aristóteles houvesse uma ambigüidade moral(ainda que os
critérios de cada um sejam discutíveis),no primeiro a questão moral torna-se um
para-si em relação ao sujeito que associa a sua problemática com a ação resolutiva
dos grandes dramas humanos.Neste processo,neste caminho,as mudanças morais
e éticas são admissíveis.Mas não se fala
em “ falta de critério” e sim em construção.
Bertolt
Brecht transformou o teatro político em dialético estabelecendo não só o
diálogo do personagem com o público(e vice-versa)mas também entre as classes.
O problema da
exploração não pode,se quisermos apontar uma solução,ser abordado dentro da
visão vitimista,típica da “ Cabana do Pai Tomás”,que visa escandalizar o
público para vender o texto.Ele tem que demonstrar a sua complexidade,como se dá o processo,na
relação entre o explorador e o explorado,entre o dominador e o dominado.A “
Cabana” chama atenção,cria o fato,mas
não dá continuidade.
Esta é a
perspectiva quanto ao que aconteceu no
episódio de EL Chapo e que é comum a outros:é uma visão intencionalmente
simplista de ocultação diabolizar só o bandido,mas a resposta para a solução do
problema está nas mulheres glamurosas,na reprodução capitalista,antiartística dos blocbusters,no
consumo da classe média,que financia o seu vazio e mantém o regime social de
exclusão no lugar dele.
Não sei se esta
foi a intenção de Sean Penn,mas eu preconizo que ele o faça.Eu aqui já
comecei.Por tudo isto é que eu não aceito que um dos critérios para ser de
esquerda,hoje,no Brasil(e no mundo)e dar o tapinha,pois isto reproduz o capitalismo
mais predatório e as esquerdas não são mais do que aquilo que
chamou Trotski de “ reação termidoriana”.
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