sexta-feira, 1 de julho de 2016

Sean Penn é comunista? II



Não importa se a resposta  é sim ou não.O que importa é a situação narrada.Ninguém defende um traficante assassino,o que não é admissível é que só ele seja responsabilizado pelo problema.
El Chapo,como todo traficante,como todo fora-da-lei,é manipulado pela” boa sociedade”,que o financia e  e esconde quando ele é pego.Não existe crime sem a  conivência da “ boa sociedade” .Ela não resolve os problemas sociais e permite que as formas de crime surjam como compensação e continuidade do regime social de exclusão e exploração.
O “ charme” do bandido cria ,na mídia,as condições para sua reprodução(do charme)econômica ,em filmes ambíguos,em que o bem e o mal são baralhados e confundidos,no “ tudo junto e misturado inconsciente”,que dilui a culpa e torna tudo uma novela,provavelmente com o final feliz,isto é, o único culpado na cadeia e os bons vivendo felizes para sempre.
No inicio do século passado,para lembrar a profissão de Sean Penn,Erwin Piscator criou o Teatro Político ,que visava colocar o homem comum dentro da trama artística de modo a comprometê-lo com a solução de problemas que ,afinal,o atingiam cotidianamente.
Era o rompimento com o distanciamento típico de Aristóteles,em seu princípio da “catarse”.O espectador via uma tragédia,se compadecia e saia do teatro renovado pelo aprendizado moral do que não se devia fazer na vida social.
Embora nem em Piscator ,nem em Aristóteles houvesse uma ambigüidade moral(ainda que os critérios de cada um sejam discutíveis),no primeiro a questão moral torna-se um para-si em relação ao sujeito que associa a sua problemática com a ação resolutiva dos grandes dramas humanos.Neste processo,neste caminho,as mudanças morais e  éticas são admissíveis.Mas não se fala em “ falta de critério” e sim em construção.
Bertolt Brecht transformou o teatro político em dialético estabelecendo não só o diálogo do personagem com o público(e vice-versa)mas também entre as classes.
O problema da exploração não pode,se quisermos apontar uma solução,ser abordado dentro da visão vitimista,típica da “ Cabana do Pai Tomás”,que visa escandalizar o público para vender o texto.Ele tem que demonstrar  a sua complexidade,como se dá o processo,na relação entre o explorador e o explorado,entre o dominador e o dominado.A “ Cabana” chama  atenção,cria o fato,mas não dá continuidade.
Esta é a perspectiva quanto ao que aconteceu  no episódio de EL Chapo e que é comum a outros:é uma visão intencionalmente simplista de ocultação diabolizar só o bandido,mas a resposta para a solução do problema está nas mulheres glamurosas,na reprodução  capitalista,antiartística dos blocbusters,no consumo da classe média,que financia o seu vazio e mantém o regime social de exclusão no lugar dele.
Não sei se esta foi a intenção de Sean Penn,mas eu preconizo que ele o faça.Eu aqui já comecei.Por tudo isto é que eu não aceito que um dos critérios para ser de esquerda,hoje,no Brasil(e no mundo)e dar o tapinha,pois isto reproduz o capitalismo mais predatório  e  as esquerdas não são mais do que aquilo que chamou Trotski de  “ reação termidoriana”.

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