quarta-feira, 29 de abril de 2015

A Praça é do povo como o céu é do Condor- Diálogo com o movimento negro



Continuando a análise das  posições  do  movimento negro quanto  ao engajamento  abolicionista de Castro  Alves(e  de  outros)devo dizer  que  eu não  sou  propriamente  contra  a escolha  do dia  20  Novembro  como a  da “  consciência  negra”,mas  acho  que  deve ser  mantida  a  outra,13  de  maio,como  uma  porta de  entrada  para  a discussão permanente  do  abolicionismo  brasileiro  e  suas  conseqüências  sempre  presentes  no Brasil.
Na  minha  opinião , vale  ter  uma  postura  positiva  idêntica  à luta  de  Zumbi  contra a escravidão,mas a  outra  data  não  é propriamente  concessão  das    classes  altas”,mas  resulta  também  da  luta dos escravos(principalmente nos quilombos)para  obter  um reconhecimento  quanto ao  papel  colonizador  dos negros,no  Brasil.Mais  do  que  colonizadores  eles  são  construtores  permanentes  do país,e  como  eu já disse  em  outro artigo,o estado é construído  pelos trabalhadores o qual  deve   devolver  ,diante  desta  contribuição,em  benesses,para  eles.Isto  desde  o Brasil  colônia,passando  pelo  13  maio e  chegando aos dias  de  hoje,desde  que  a  escravidão foi instituída.
Este  virar as  costas  ao  13  redunda  em  não  analisar  constantemente  as  causas  dos  problemas  que  os  negros enfrentam  no  Brasil ,substituindo  esta  necessidade  de estudo  por  uma atitude  rebelde  que se  esvai no  puro individualismo.
Quero dizer, muitos  imaginam  que  vestir-se  bem,fazer  arte,é suficiente  para afirmar  o  poder  do  trabalhador  negro,mas  é preciso mais.É preciso isto  e  mais,isto e  compreensão  da  realidade,das  causas do problema,para  superá-lo.
Tenho impressão  que esta  postura  pela metade é o  que  está por  trás  da  desqualificação que  vem  ocorrendo quanto à  legitimidade  e honestidade do abolicionismo de  algumas  figuras  históricas.
A  postura  de  Castro  Alves não é a  mesma  da  Princesa  Isabel e dos latifundiários  brasileiros,que  os “  libertaram”,mas os excluíram  da  sociedade  brasileira,para  mantê-los,nos  campos,como mão-de-obra  barata.Castro  Alves,embora  envolvido,como poeta que  era,emocionalmente,tinha  concepções  afeitas  ao abolicionismo republicano  da  época.
Não  me venham  dizer  que ele  desejava  que os  escravos permanecessem  em  condições  semelhantes  às  da  escravidão depois de livres.Quem    o  “ABC de  Castro  Alves “de Jorge  Amado,percebe  claramente  o  grau  de  humanidade que  o  poeta  demonstrava,sentindo-se  igual  aos negros  que ajudava    a libertar,não  concedia.
O  movimento  negro brasileiro  corre  o risco sério de ,com estas atitudes,  se  isolar  mais e mais  numa  postura  egocêntrica de    legitimar  a  conquista por seus  próprios meios esquecendo que  as  classes  não  existem por si  e  as raças também  e  que  depois da  libertação  real    existe  uma  sociedade com  a qual  se  deve  conviver.
Se  não for  assim,da  mesma  forma  que  como a  Abolição  foi feita , as conseqüências foram funestas,a  libertação real  poderá  criar  ressentimentos  intransponíveis,ressentimentos que  são a  matriz  psicológica  das  guerras.

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