sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Liberdade e Norma

Desde que acabou o império romano,na Idade Média, se criou uma estrutura vertical,que está aí,mutatis mutandi,até hoje.Esta estrutura reconfirma o que veio do mundo antigo,das primeiras civilizações,que substituíram a comunidade primitiva.Substituíram é um termo discutível,porque a civilização destruiu o igualitarismo inicial da humanidade para colocar exatamente esta estrutura,que visava garantir o novo modo de distribuir a escassez,inclusive e principalmente ,através de repressão. A mais importante regra que vem destes períodos antigos é que tudo vem de cima,de cima par baixo,dos pais e dos reis,para os cidadãos e os filhos.Ainda que ,com Rousseau,em termos conceituais ,tenha havido uma suposta troca em favor dos debaixo,temos que concordar com Foucault sobre o fato de que o comportamento ainda não é mentalmente de acordo com estas novas regras de justiça e convivência social.Comparando com as afirmações de “ Vigiar e Punir”,ainda que as penas cruéis sobre o corpo tenham acabado,as formas de crueldade mental e cultural são igualmente excludentes e repressivas.Bobbio faz uma observação semelhante em seu livro sobre “ Direitos Humanos”,pois que estes são universalmente admitidos como verdadeiros e não aplicados. Nós podemos dizer a mesma coisa sobre a esquerda,os partidos,a politica moderna,em todo o seu diapasão.Fala-se na massa,nos direitos do trabalhador,na necessidade de sua emancipação,mas sempre a partir de uma perspectiva de vanguarda,de mando,de alguém que conduz o processo,nunca todos juntos o conduzindo. A estrutura medieval se baseava no fato de que os de cima não trabalhavam para proteger os de baixo,únicos encarregados disto.Os pais escolhiam os filhos,segundo critérios de poder,atinentes a eles,não aos filhos. No inicio da sociedade burguesa se pretendia ter superado esta situação,mas só quem tinha dinheiro votava,participava dos negócios públicos. Acaso não é assim hoje?Os Partidos recebem votos ,mas fazem o que bem entendem,os pais liberam os filhos,mas só pensam em educá-los quando já estão viciados.De uma maneira indireta o preceito medieval continua valendo. Naquele tempo,como na maior parte da História,o de baixo,só é reconhecido se aceitar regras impostas a ele ,desde o nascimento.Ainda que em nossa época se tenha a liberdade de sair,os constrangimentos sociais impedem-no,à maioria.Ainda que os filhos tenham a liberdade de procurar livremente o seu parceiro,só as mediações do sexo e do dinheiro importam e o pais não se importam com os filhos porque segundo eles a liberdade basta.Mas não existe liberdade sem norma,sem certo e errado(Kant). E até mesmo as “ soluções socialistas” repetem o critério medieval:você tem tudo para viver,mas não pode discordar do governo.É a mesma relação com a Inquisição:se você não acredita em Deus não é,simplesmente não existe.Por isto e outras coisas entendo que o socialismo fracassou:ele não se desvencilhou do passado. A história da humanidade é a busca desta mínima conjunção entre liberdade e norma.

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