Nunca fui uma
pessoa demagógica e nunca tive apreço por
quem misturava (e mistura) política com mentira.É lógico que é de causar indignação a violência predominantemente masculina sobre a
mulher,mas nós devemos ter em vista que esta questão é mais complexa do que
pura e simplesmente aquilo que ela
pode provocar em termos de escândalo
coletivo(e político).
Porque o problema da violência contra a mulher é um
problema das relações entre homem e mulher e portanto,embora a lei Maria da
Penha incida sob a égide do direito privado,ela é um assunto privado e ainda que a
intervenção,de fora,seja mais que
exigível,da lei,os critérios desta
intervenção devem atender à necessidade
de proteção da intimidade e evitar o uso
político da situação.A senhora Maria da Penha teve que buscar ajuda pública
e na política porque não teve ajuda , e
agiu corretamente.As campanhas públicas têm um significado pedagógico e de repressão para inibir os
homens violentos e modificá-los
no sentido da paz.
Até mais ou
menos o ano de 68 se falava muito (e com razão)na questão do amor livre.Nós conhecemos
opiniões díspares como as de
Engels,Comte ,Kardec e Simone de
Beauvoir(entre outros),mas todos estão de
acordo em afirmar que o “ amor
livre” significa aquele amor que
não sofre nenhum óbice ou imposição no seu elemento decisivo de liberdade consciente de escolha(do parceiro).
A violência
masculina contra a mulher não é apenas a
decisão de um sujeito perverso contra uma mulher inocente,ela é resultado de todo um conjunto de imposições arcaicas
a esta associação da liberdade
com o amor ,passando pela maturidade e
consciência das pessoas.
É lógico que
é mais comum esta violência do homem
contra a mulher,mas dentro da família,dentro deste contexto referido,a mulher ajuda na sua inconsciência e por reproduzir muitas vezes o esquema arcaico que foi
imposta a ela desde o berço.
A mulher,não
raro,aceita o critério de masculinidade associado ao poder e ao significado institucional do macho como
chefe da casa(concepção paulina que muita feminista aceita por aí...e
manipula...politicamente inclusive).
Desde
Marcuse que nós sabemos como se deu na História da humanidade este processo
de “patriarcalisação”.Quando a humanidade era nômade,predominava o matriarcado
e a mulher sabia de quem era o filho e podia ser responsável pela linhagem da
tribo.
Com a
civilização e o surgimento das cidades,a
mulher foi confinada na casa,para que o marido vigiasse a sua linhagem.Ao longo da História este esquema
básico foi sendo “ atualizado”.No império romano a mulher era tida como parte dos
utensílios da casa.Mas o
cristianismo,através de Constantino e sua mãe
Santa Helena,conformou o quadro arcaico da relação homem/mulher,pelo
menos,claro,no ocidente,que é onde se fazem estas discussões que redundaram no problema da violência
doméstica e na Lei Maria da Penha(a lei Maria da penha foi gestada na
Igreja Católica).
No
cristianismo católico(o mais hegemônico)existe um conceito de que tudo que a
mãe (e a mulher )faz deve ser aceito.Este conceito existe exatamente para que a religião administre a família,quando
ocorre uma crise(a mulher geralmente a chama para dirimir o
problema).Esta confusão entre família e
religião, como entidade política, surgiu na relação de Constantino com sua mãe Santa Helena,que vemos abaixo:
O cristianismo foi uma grande
válvula de escape para a mulher
romana,que era muito reprimida.O cristianismo valorizou em muito esta figura
emocional de pessoa que só pensa nos
filhos e Constantino usou a famosa
piedade da mãe para reunir em torno de si os seus súditos,na maioria cristãos,em
torno de sua figura politica,porque
supostamente ele comungava desta piedade ,deste emocionalismo(o que não era
verdade).
Para beneficiar o sistema que o Imperador montara era preciso
criar o culto desta “ mãe”,desta pessoa
intocável,que depois “ evoluiu”
para o culto(supersticioso)da Virgem Maria,que embora seja
melhor que Santa Helena,por ser
mãe de Cristo,cumpre ,neste mecanismo,o mesmo papel.
Acrescente-se a isto que a mulher,ao nascer,é “educada” para
se constituir,para se formar,como pessoa,dentro deste
contexto,deste mecanismo e é muito
difícil,numa sociedade arcaica,organizada assim,ela se modificar,pois ela,ao longo da História,não
teve sequer a rua para encontrar novas possibilidades.Quando isso acontecia
a mulher se transformava
numa prostituta.
Raras mulheres foram aquelas que ao sair conseguiram uma alternativa
diferente desta(Chiquinha Gonzaga,no Brasil).Neste contexto evidentemente repressivo contra a mulher(contra ela só),a
sua reação ao dominio do marido
muitas vezes era(e é)no sentido de afastá-lo da casa,da situação familiar,por acusações
procedentes ou não e pela
atitude vitimológica.Esta atitude nem sempre
é consciente,mas parte de uma
patologia e é uma imposição quase que inevitável a ela.
O direito penal,a
criminologia,estudaram este fenômeno séculos a fio e é claro que existe um acúmulo de conhecimento
desta situação.Contudo,hoje ,em que
mulher muito justamente,adquiriu
o direito de expor o
corpo,de fazer sexo por prazer(por
causa da pilula),tendo o direito de se
divorciar(além de outros
legítimos direitos)esta vitimologia não tem mais lugar.
No passado,na época da tragédia de Euclides da Cunha e de S´anninha,era admissível a traição,por causa da
presença dos elementos referidos acima.Mas hoje, com estas imensas(ainda que insuficientes)garantias, a postura de
traição,de manipulação da situação
familiar,a identificação da mulher como a “ dona real da casa” não cabe.É como diz Foucault:a
sociedade se modifica,progride,mas as consciências não.
Para mim,havendo o divórcio a
solução da incompatibilidade de
uma mulher com o seu marido se resolve desta forma e
não com a traição.Trair e provocar
têm um significado, a meu ver,de preconceito e de politica,no sentido de amealhar
a família para si e de
obter aprovação social,espiroqueteando o escândalo da traição.De que
adianta implantar o divórcio se as
pessoas não exercem os seus direitos.
Se é verdade( e é mesmo)que o marido,o homem,o macho,bate na mulher por causa do seu sentimento improcedente de posse,de
poder,esta posse ,este papel institucional,que é “ ensinado” a ele,desde pequeno , a mulher,não raro,exige dele que cumpra
este papel.
A mulher,de modo geral,só
entende o critério de masculinidade
associado ao poder,à sua condição de instituição dominadora da
família,vista dentro de um princípio
arcaico,próprio das antigas monarquias,em que o pai é visto como o
representante do rei,do monarca,já que a
família era o esteio deste regime politico.
A família,no entanto,não tem que ter
este papel,sendo a sua tarefa
a construção da felicidade.Não me venham
dizer que a mulher,principalmente a latina
não exige este critério de maculinidade
e quando o homem o questiona,o mundo desaba
sobre ele.existem outras formas d
e definir masculinidade.
O diálogo dificil na hora da violência é
porque o homem exerce um papel
imposto pela sociedade e que a mulher reproduz.
Se é verdade que ele agride por causa
disto,é verdade que não
raro,quando a alternativa de se
oferecer,como direito da mulher,mais
poder a ela,mais direitos a ela,ela o recusa,porque não foi preparada para
pensar diferente e os movimentos
politicos e feministas acabam reproduzindo esta
realidade porque raciocinam em
termos só de repressão ao crime,quando,antes de
criar a delegacia da mulher era necessário mudar a
relação homem e mulher,o que não acontece.Dá mais ibope (eleitoral)intervir
num escândalo,do que evitá-lo no cotidiano através de terapias e
do processo educacional,porque neste último caso a televisão não vai.
A televisão mostra o homem matando,mas não mostra os erros do outro
lado,quando,como mostra a criminologia,a
mulher,na busca de atenção
provoca o marido ou coloca os filhos
contra ele.(caso .O.J. Simpson e
caso Euclides da Cunha).
Ao crime de agressão do homem
corresponde o de “ alienação parental” mais afeito às
mulheres.
Assim como os corifeus da esquerda
não querem acabar com a pobreza ,fazendo mera assistência social(a popular administração do
capitalismo),pois sem ela eles mesmos desapareceriam,o movimento feminista não
aprofunda as questões da violência
contra a mulher por que assim a
sua tutela desapareceria também.E as suas eventuais lideranças correriam um risco sério de questionamento.
No tempo das sufragistas,inicio do século XX,a concessão do
direito de voto às mulheres era
uma estratégia machista de manipular mulheres,que ,em sua maioria,não
tinham consciência politica.Ao adquirirem progressivamente,foram obtendo este direito legítimo(porque adquiriram
consciência politica).
Uma das razões que eu acho causa da
dificuldade em equiparar salarialmente a mulher com o homem,é que,no
fundo,a mulher ainda prefere o contexto
familiar arcaico,como sua área de “ dominio”,do que falar de
igual para igual como homem,na família e no trabalho e o movimento
feminista,pelas razões aludidas ,não
toca no verdadeiro problema.
É muito melhor ser tutelado do que
exercer liberdade,porque a liberdade implica em responsabilidade.