Eu queria fazer algumas considerações sobre o artigo de Mario Sergio Conti a
respeito da morte de Ferreira Gullar,na Folha de São Paulo da semana passada.Um
artigo grosseiro e que acabou juntando o poeta com a tragédia da Chapecoense.
Nele o jornalista
ridiculariza as manifestações de pesar sobre as duas
efemérides,afirmando no final que tais atitudes de luto e compaixão individuais
e coletivas existem para que nos
sintamos melhores ,não havendo por debaixo, sentimentos verdadeiros.
Aqueles que leram “ Du Contrat Social” de Jean Jacques
Rousseau ,sabem que para este teórico a soberania do povo só se exerce,não se
transmite.Esta verdade mostrou desde então que todo homem individualmente
considerado ou resolve os problemas do “corpo político” ou perde esta condição
pela representação.Que todo cidadão, por mais bem intencionado, não tem meios para sozinho solucionar os
graves problemas de sociedades complexas como as em que vivemos.Isto ficou
claro cada vez mais,contra e ao mesmo tempo a favor de Rousseau,porque de um
lado a história demonstrou ser impossível por na prática sua concepção de
soberania e por outro, os descaminhos da representação provam que ele estava
certo.Vivemos nesta contradição.
Mesmo assim é preferível viver numa sociedade que se preocupa
com estas tragédias do que em outra ,cruel e sanguinária.Além do mais não é
verdade que o individuo não se esforce eventualmente para dar um impulso a
estas soluções ,pois muita gente pratica atos de bondade em relação às pessoas
que sofrem tragédias pequenas e que não saem no jornal.
A pessoa que fecha o vidro do carro para não ver o menino
vendendo laranja,pagou impostos vultosos que permitem ao estado em geral tirar
esta criança da rua,mas em vez disso ,o capital vai para os iates e para as
jóias de criminosos de colarinho branco.Não há invisibilidade da miséria coisa
nenhuma.Todo mundo se apavora.Como dizia Josué de Castro:” No Brasil aquele que
come não dorme com medo daquele que não come”.
E de certa maneira estas abnegações individuais e coletivas podem ser vistas como um começo de
mudança,um permanente estado de busca da utopia.
Então quando manifestamos homenagens a pessoas conhecidas que
morreram, estamos nos ligando a este desejo de uma cotidianidade melhor.E não
se venha dizer que o volume de pessoas que foram ao estádios,o fizeram por um propósito cínico,gastando dinheiro da
entrada para não obter nenhum tipo de retorno.
Quem tem ficado cada vez mais cínico é o jornalismo
brasileiro.
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