Estas foram duas semanas infernais,desde o passamento de
Fidel Castro.Agora a noticia é a morte de Ferreira Gullar,o
poeta/político(contra a vontade dele).O que dizer desta grande figura,das artes
e da política?
Ferreira Gullar,mal comparando(a favor dele)está nesta
categoria de artistas/políticos,como o Lord Byron,como Pier Paolo
Pasolini,Percy Shelley,Wagner,Mishima e alguns outros,que não foram artistas alienados
de seu tempo e se engajaram em causas,às vezes românticas,às vezes sociais e
políticas.
E o momento em que se dá esta consciência em Gullar é o seu
rompimento com os concretistas,que eram, na verdade,continuadores do conceito “
arte pela arte”,do século XIX,fazendo uma poesia dissociada do mundo,baseada
nos recursos de linguagem que a lingüística no século XX havia oferecido aos
literatos de todos os lugares.
A independência da linguagem,não só na poesia,mas também nas
artes plásticas, resultou em experimentos formais,nem sempre bem
fundamentados.A performance,a participação ativa do público,escamoteavam uma
alienação real da arte frente aos problemas da vida e fora da arte parecia não
haver mais nada,nem ela própria,como
parte da vida que é!
Sem deixar de se aprofundar nas teorias e sem deixar de reconhecer o papel autônomo,cada vez mais,da linguagem(que o une um pouco a João Cabral de Melo Neto),Gullar teorizou que era possível incluir conteúdos simbólicos,vitais,sociais e políticos(para escândalo dos concretistas) e evitar que jogos de palavras escamoteassem o mundo.
Sem deixar de se aprofundar nas teorias e sem deixar de reconhecer o papel autônomo,cada vez mais,da linguagem(que o une um pouco a João Cabral de Melo Neto),Gullar teorizou que era possível incluir conteúdos simbólicos,vitais,sociais e políticos(para escândalo dos concretistas) e evitar que jogos de palavras escamoteassem o mundo.
Foi esta “ viragem” que o tornou capaz,apesar de não ser
político ,de cumprir um papel de direção responsável nos acontecimentos que
antecederam ao 13 de dezembro de 68,o AI-5,que ele poderia evitar.
A sua concepção da vida,que transparecia na poesia,permitiu
entender que o confronto com a ditadura era pior.
A sua poesia,por ter conteúdos,não significava um engajamento
político direto,mas indiretamente tudo é tocado pelo homem, que trabalha,que
ama ,que vive e que sonha com a utopia.Vê-se
isto claramente em “ Poema Sujo”,em que
se fala das cidades,da sujeira,da natureza,mas também do homem,que permeia
tudo.Quer dizer ,nunca o poeta sucumbiu aos esquemas fáceis do realismo
socialista.Ele continuou um artista de primeira grandeza,na medida em que sugeria,mais que explicava.Então ele é um dos
poucos que consegue fazer um traço entre
o fazer política e a poesia,porque era o poeta do fazer,do criar,do pensar e do
sonhar.Tudo isto é engajamento.
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