sábado, 3 de dezembro de 2016

Para além da ciência:a vida



Nós todos aprendemos na universidade que a sociologia começa ,como ciência,na obra de Auguste Comte,” Curso de Filosofia Positiva”,em que o autor se refere à “ troca simbólica”,à comunicação de significados,pelo menos entre duas pessoas ,sendo este o núcleo de toda  associação,que vai se complexificando.
Quando esta troca não acontece,existe algum tipo de perversão,de objetalização
A relação de massas inteiras com o futebol é complexa e apresenta todo tipo de associação,de troca simbólica, e há momentos de perversão e objetalização.Contudo o que predomina é uma troca legitima de sentimentos,de emoções,de desejos que nos informam dos nossos direitos e deveres.
Conforme Norbert Elias,o futebol é uma guerra em miniatura e sem sangue(felizmente[mas nem sempre])e ocupa,neste sentido,um papel que reúne  todas estas virtudes,mas notadamente a de educar o homem para a  luta.
Neste sentido o futebol(como o esporte em geral)é algo positivo,uma paixão alegre,no dizer de Spinoza,que precisamos cultivar de maneira inarredável.
Não poderia ser outra a atitude dos povos e das massas,quando não é possível,por uma tragédia realizar-se uma partida.Seria uma perversão(fascista)das massas se não houvesse esta imensa homenagem,cujo começo se deu na Colômbia,país que percebeu antes do Brasil,a dimensão do drama.



Era necessário fazer a “ troca simbólica”,com os mortos,que já não era pura ciência,mas algo mais,um significado amoroso,de retribuição ao jogador,que tanto ajuda,em retribuição a uma categoria profissional que tanta alegria traz aos povos.
Seria uma objetalização deixar passar o episódio,esquecer as suas conseqüências ,as famílias desamparadas,os colegas trabalhadores e assim por diante.Nesta hora, a Colômbia transformou a ciência na vida e se tornou um povo irmão do Brasil,na medida em que nos mostrou o verdadeiro peso do acontecimento.O Brasil é amigo de todos os povos,mas agora todos os povos terão que perceber uma diferenciação evidente  da relação Brasil/Colômbia.
Se eu fosse dirigente dos dois países eu instituiria o “ dia da amizade Brasil/Colômbia” e o comemoraria uma ano lá e um ano cá,para solidificar a irmanação mutua  destes dois países.O que a Colômbia fez na quarta-feira,dia do jogo que não houve,é um dos fatos mais marcantes da história da humanidade e o país podia bem merecer o prêmio Nobel da Paz do ano que vem.
Existem e  existirão pessoas que farão troça de tudo isto,de todas estas homenagens,afirmando que ninguém age  assim diante da pobreza,dos miseráveis,nas ruas,mas os povos o fazem sim,quando os governos recebendo a tributação,derivada do trabalho das pessoas comuns ,que estavam nos estádios,a desviam .O fruto do trabalho dá para tirar crianças e idosos da rua e da miserabilidade,mas vai para o bolso destes dirigentes, e o povo ,ao protestar ,em 2013,o fez contra esta inversão de valores.
A linda atitude da Colômbia enche de esperança o cotidiano de luta dos povos.
Agora ficamos à mercê do luto e da melancolia.O luto nos faz seguir em frente e a melancolia nos lembra que no meio do 
caminho tem um fim,um limite


Nenhum comentário:

Postar um comentário