Depois da
segunda guerra,a preocupação moral com o destino da humanidade e os ventos da
guerra-fria puseram fim à década de 30,de glamour e de uma relativa liberdade.Como
resultado ,o jogo,que era parte desta década, sofreu um ataque conservador
católico ,o qual o retirou da paisagem social brasileira até hoje.
As atitudes do
prefeito Crivella,não são ,Mutatis Mutandi,diferentes do que o cristianismo
católico tomou naquele período passado.Quem conhece história e a história do Rio sabe o que significou a sua vitória(ouviu Romário?):a
vitória das igrejas evangélicas,deste novo cristianismo ,que entrou no vácuo de
incertezas do catolicismo,acossado pela direita integrista e pelo marxismo.
E o preenchimento
deste vácuo se dá numa forma símile de moralismo previsível contra
manifestações culturais da cidade,como o carnaval e o baile funk.
Este ataque,no
entanto,obedece ao mesmo mecanismo de 1948,quando os cassinos foram fechados no
Brasil:” o problema não é o jogo é o que está em volta dele”,prostituição,drogas
e (hoje)ideologia de gênero(a por em risco a família[“invenção genial de Deus”]).
E,na verdade,a
condição objetiva para o fechamento dos cassinos e do ataque a manifestações
culturais é que existe uma verdade nisto aí,quero,dizer,no discurso religioso.O
Funk em si é uma manifestação cultural como qualquer outra e não há motivo para
acusá-lo de nada,como tal,mas o seu entorno é discutível.O Carnaval é uma expressão
legítima,mas carreia a nudez,a homoafetividade e a outras transgressões ao mandamento divino.Sem falar nos problemas
anteriores,que também estão lá.
As boemias,em
todas as épocas,as festividades em geral,mundanas são herdeiras das
festividades cristãs,as epifanias,que são ,dentro do fundamento
religioso,glorificações de Deus.O Carnaval é um exemplo disto.
Contudo,com o
fim da Idade Média e a assunção das massas,num movimento antropofágico,este
sentido básico foi mediatizado por questões outras,necessidades outras,que hoje
as põem em risco (sem financiamento[como
o carnaval]).
Estas festas,esta
boemia,revela uma complexa realidade ,pois é difícil dizer simplesmente,no bojo do estado de direito,que são ilegítimas.
Aquele que não é
religioso,mas laico,como eu,tem uma obrigação de criticar estas mediações
transgressivas,como o uso de drogas(não a homoafetividade),mas o problema das
drogas,o problema da liberdade sexual só surgem, de maneira desviada e nestas
festividades,porque a sociedade fecha o caminho de expressão do povo.
As necessidades legitimas
de liberdade sexual não são recepcionadas pela religião(e pela sociedade[que
quer impor um modelo cristão]) e a droga se tornou não só uma válvula de escape
mas uma forma de identidade social,já que a nação,o estado,e as mediações de
cidadania,não reconhecem o povo em suas exigências e desejos(quem é de esquerda
sabe que para ser um militante hoje é quase obrigatório “ dar um tapinha”[e a relação supostamente feita entre drogas e
homoafetividade aqui nesta parágrafo não foi feita por mim,mas pela religião]).
Como não identificar
o sucesso de Crivella e da religião política e
socialmente,quando oferece às famílias uma chance de tirar os filhos das
drogas?Quando oferece uma oportunidade de constituição de uma família ,para
pessoas homoafetivas ,que,como quaisquer seres humanos,às vezes,entendem a sua
opção só como uma forma de agressão ao meio familiar que não os aceita?
Muita gente que
apoiou Crivella,o fez pensando nas vantagens eleitorais(Romário?) de uma enorme
quantidade de votos,mas também nestas questões,só que,sem o conhecimento
histórico,não viu que os argumentos católicos iriam se repetir,ou seja,que no
meio do caminho da manifestação legitima do pensamento haveria o preconceito
contra o homoafetivo,contra as festividades,supostamente causadoras do uso de
drogas e contra as manifestações artísticas do povo.
A impressão que
se tem é de um exclusivismo modelar
cristão,mas é pertinente,e era previsível,para quem conhece história.
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