sexta-feira, 6 de abril de 2018

A corrupção ,fenômeno social


No Brasil,nestes tempos de vacuidade intelectual e mixórdia conceitual,a questão da corrupção é vista erradamente como de “ impunidade”.Ela ocorre porque existe muita impunidade e basta ,então,criar mais cadeias para solucionar o drama.
Mas os pensadores do Brasil e os viajantes que passaram por aqui durante quatro séculos,mostraram a raiz histórica da corrupção:nosso país era um lugar de fácil  desvio de recursos,de pouca fiscalização e os que vinham para cá não eram propriamente pessoas da elite intelectual da metrópole.É famoso o Sermão de Vieira,que eu estudarei proximamente no blog Temas.
Com a república o tema é posto como elemento a ser superado dentro dos objetivos de reorganização nacional.Mas de lá até hoje a continuidade é total e,convenhamos,após a redemocratização e promulgação da Constituição de 1988,só piorou.
Não sou daqueles que acha que tudo ficou mais exposto,acho que cresceu a corrupção de modo absoluto.No estado e na sociedade civil.Se conseguirmos,no tempo de uma geração,pelo menos,limpar o estado ,vai ser muito.
Mas o que eu quero comentar é que a corrupção é um problema social também.Numa sociedade ibérica,de capitalismo autárquico,em que não existe mobilidade social ascendente(quase),as formas desviantes aparecem como solução e contam com a anuência histórica do estado.
Nos países hierárquicos,geralmente de tradição católica,estatocráticos,é sempre presente a forma corrupta de cooptação das classes subalternas.Em Espanha e Portugal ,a partir do século XVIII,em função da decadência destes estados coloniais,uma parte da população viveu às custas do governo.Mas não só os pobres!A aristocracia também!Não fazia nada e vivia de altos proventos governamentais.Vê-se isto na figura de um dos mais conhecidos primeiros-ministros espanhóis,Godoy.
No Brasil a presença da escravidão aumentou os aspectos maléficos desta tradição,porque não tendo sido incluído o escravo recém liberto na sociedade,o país ficou sem mercado interno e sem uma sociedade civil moderna e forte.
Desta forma o pobre,o excluído ,que continua,após a escravidão ,dependente do “ senhor”,é manipulado  por ele e por estas estruturas.Não é a educação ,são as formas “ fora do estado” e “ da lei” que permitem que alguns superem o estado de pobreza  e exclusão.
A esquerda atual brasileira modificou um pouco este quadro,criando uma nova militância.É verdade sim.Mas é verdade também que as formas de corrupção se modificaram na medida em que o estado também continuou neste caminho tortuoso.
O chamado “ terceiro setor” não está livre disto aí,pelo contrário:sendo dependente do estado,ou seja, precisando dele para existir ,sofre a sua  perversa influência e acaba por interagir com ele,reproduzindo o esquema histórico,a herança histórica.
Claro que tal acontece porque ,como dissemos,a sociedade civil não é forte.Contudo a esquerda é parte da discussão crítica sobre este assunto.Ela contribuiu para construir a massa crítica em relação ao problema da corrupção,fenômeno associado à exploração do capitalismo,o que é parcialmente fato.
Percebe-se que a tradição de esquerda,que vira as costas ao estado burguês e ao direito,desde os tempos de Marx e Engels e dos anarquistas(que parecem estar crescendo no Brasil),não tem uma formulação clara da relação entre política,estratégia política das classes subalternas e o direito.Ainda que a questão dos “ direitos humanos “ desponte, a questão social aparenta justificar,como em priscas eras,a sua prioridade diante da democracia e do estado de direito.
O mote duvidoso de que a democracia não deve ser para “ meia dúzia”,ou só para determinadas classes parece(parece)indicar que a “ verdadeira democracia” só é a dos “ oprimidos”,afirmação pouco científica e vitimológica,mais afeita às emoções do que à compreensão teórica e gnosiológica dos fatos.Não sei.

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