No
Brasil,nestes tempos de vacuidade intelectual e mixórdia conceitual,a questão
da corrupção é vista erradamente como de “ impunidade”.Ela ocorre porque existe
muita impunidade e basta ,então,criar mais cadeias para solucionar o drama.
Mas
os pensadores do Brasil e os viajantes que passaram por aqui durante quatro
séculos,mostraram a raiz histórica da corrupção:nosso país era um lugar de fácil
desvio de recursos,de pouca fiscalização
e os que vinham para cá não eram propriamente pessoas da elite intelectual da
metrópole.É famoso o Sermão de Vieira,que eu estudarei proximamente no blog
Temas.
Com
a república o tema é posto como elemento a ser superado dentro dos objetivos de
reorganização nacional.Mas de lá até hoje a continuidade é total
e,convenhamos,após a redemocratização e promulgação da Constituição de 1988,só
piorou.
Não
sou daqueles que acha que tudo ficou mais exposto,acho que cresceu a corrupção
de modo absoluto.No estado e na sociedade civil.Se conseguirmos,no tempo de uma
geração,pelo menos,limpar o estado ,vai ser muito.
Mas
o que eu quero comentar é que a corrupção é um problema social também.Numa
sociedade ibérica,de capitalismo autárquico,em que não existe mobilidade social
ascendente(quase),as formas desviantes aparecem como solução e contam com a
anuência histórica do estado.
Nos
países hierárquicos,geralmente de tradição católica,estatocráticos,é sempre
presente a forma corrupta de cooptação das classes subalternas.Em Espanha e
Portugal ,a partir do século XVIII,em função da decadência destes estados
coloniais,uma parte da população viveu às custas do governo.Mas não só os
pobres!A aristocracia também!Não fazia nada e vivia de altos proventos governamentais.Vê-se
isto na figura de um dos mais conhecidos primeiros-ministros espanhóis,Godoy.
No
Brasil a presença da escravidão aumentou os aspectos maléficos desta
tradição,porque não tendo sido incluído o escravo recém liberto na sociedade,o
país ficou sem mercado interno e sem uma sociedade civil moderna e forte.
Desta
forma o pobre,o excluído ,que continua,após a escravidão ,dependente do “
senhor”,é manipulado por ele e por estas
estruturas.Não é a educação ,são as formas “ fora do estado” e “ da lei” que
permitem que alguns superem o estado de pobreza
e exclusão.
A
esquerda atual brasileira modificou um pouco este quadro,criando uma nova
militância.É verdade sim.Mas é verdade também que as formas de corrupção se
modificaram na medida em que o estado também continuou neste caminho tortuoso.
O
chamado “ terceiro setor” não está livre disto aí,pelo contrário:sendo
dependente do estado,ou seja, precisando dele para existir ,sofre a sua perversa influência e acaba por interagir com
ele,reproduzindo o esquema histórico,a herança histórica.
Claro
que tal acontece porque ,como dissemos,a sociedade civil não é forte.Contudo a
esquerda é parte da discussão crítica sobre este assunto.Ela contribuiu para
construir a massa crítica em relação ao problema da corrupção,fenômeno
associado à exploração do capitalismo,o que é parcialmente fato.
Percebe-se
que a tradição de esquerda,que vira as costas ao estado burguês e ao direito,desde
os tempos de Marx e Engels e dos anarquistas(que parecem estar crescendo no
Brasil),não tem uma formulação clara da relação entre política,estratégia
política das classes subalternas e o direito.Ainda que a questão dos “ direitos
humanos “ desponte, a questão social aparenta justificar,como em priscas eras,a
sua prioridade diante da democracia e do estado de direito.
O
mote duvidoso de que a democracia não deve ser para “ meia dúzia”,ou só para
determinadas classes parece(parece)indicar que a “ verdadeira democracia” só é
a dos “ oprimidos”,afirmação pouco científica e vitimológica,mais afeita às
emoções do que à compreensão teórica e gnosiológica dos fatos.Não sei.
Nenhum comentário:
Postar um comentário