A
revelação dos bastidores da decisão da intervenção suscita-nos uma análise do problema todo.
Os
políticos do Rio de Janeiro são enfraquecidos com a decisão,mas não se sabe
realmente se a resistência de Rodrigo
Maia e Pezão representam uma espécie de script para que eles saiam,no
final,engrandecidos.Por aceitarem uma ajuda teriam crédito.Absolutamente.
O que
vale é a auto-crítica de Pezão,quanto ao
fim de sua aventura política pessoal.Isto é uma derrota para o governo e os
políticos do Rio de Janeiro,que deixaram chegar a este ponto o problema da
segurança.
Rodrigo
Maia pode bater pezinho porque ele não está aqui agora,mas ao longo dos anos
ele participa também da débâcle.Participa da omissão,no mínimo,dos políticos.
A
decisão era inevitável e não foi motivada,como oportunìsticamente a esquerda
diz,para encobrir a derrota na previdência.Esta derrota não é comprovável.Temer
ganhou tempo e se for bem sucedido na intervenção vai ter mais condições de
fazê-la ou de obrigar o próximo Presidente a fazê-lo.Porque a política não é só
em cima,mas nos diversos estamentos da organização política do país.
Outra
situação é a manipulação da Rede Globo ,esta obsessão paranóide da esquerda.Não
nego isto não,mas são dois níveis de realidade,a do discurso e a da realidade
mesmo.Se é verdade que os políticos conservadores e a rede globo manipulam,é verdade que a
realidade é esta mesmo.O governo venezuelano ,admirado pelos petistas,está
jogando pessoas inocentes na miséria(como fez aqui).A intervenção é
necessária,porque só quem vive no Rio sabe como as coisas estão.Não é porque
esta decisão pode ser usada pelos conservadores que a realidade da insegurança
não exista.Existe sim.Aqui não é Viena da Áustria.
E
,diante desta inevitabilidade há que fazer um discurso de esquerda conseqüente
e realista.Numa hora de radicalismo,de ações radicais, a questão social das comunidades
precisa ser colocada.A esquerda não atua de forma conseqüente porque repudia a
democracia e o estado de direito,como mediações de luta.Preocupados com a
revolução,fazem propostas genéricas e óbvias,mas não habitam a realidade
mesma,para lembrar um conceito de Sartre.
Se o
governo se fortaleceu,precisa de legitimidade e apoio para solucionar ou
equacionar de vez a questão da segurança e neste momento,neste interstício, era
hora de uma esquerda moderna forçar a discussão sobre os benefícios sociais que ajudarão a acabar com a
violência.Isto sim era o papel de uma esquerda
responsável,não virar as costas ao povo do Rio de Janeiro.
A
esquerda tem que entender que o povo das comunidades é aterrorizado pelo
tráfico e pelas milícias e se identifica com o exército e as forças armadas.Se
esta identificação se ampliar pela manipulação dos conservadores,a tendência é
para apoiar golpes e soluções de força.A esquerda tem entrar nisto aí para
fazer a pedagogia da questão social,para mostrar ao povo as nuances do problema
e o que ele deve fazer para pressionar os políticos,não no sentido da solução
de força,mas social.
Pezão
devia ter renunciado.Não agindo assim mostra a disposição de usar a situação
que ele criou para sobreviver.
Ninguém
sepultou a previdência,apenas estão tentando encontrar mecanismos mais seguros
e inevitáveis de sua implantação,dentro de um grande projeto de direita ,que os
erros da esquerda possibilitaram e possibilitam.
O papel
do povo.
Os
processos políticos atinentes á intervenção não permitirão que ela seja uma
intervenção técnica,porque amplos setores da sociedade vão aproveitá-la para
seu propósitos particularísticos.Notadamente a direita.Mas a esquerda também.
Eis que
o ministro Raul Jungman precisa mostra o plano de intervenção e agir de forma a
evitar tais percalços de natureza política,porque a intervenção visa a defender de imediato o povo do Rio de
Janeiro e garantir para o futuro,as condições mínimas de vida do povo
fluminense e carioca.
Se isto
não acontecer,o vazio vai ser preenchido(em política não há vácuo)por quem
tiver a força e não o direito.
É uma
tarefa inacreditável,mas necessária,de
manter estas condições mínimas de segurança.É como tentar resolver 50 anos de
problemas,desde a década de 60,quando tudo começou.
Até ao
presente momento nem o plano,nem as metas foram apresentadas e nem os
resultados desejados foram atingidos.O ministro afirmou que os resultados se
darão em quatro meses,mas eu entendo ser muito tempo e que a questão das
respostas imediatas tem um peso real e urgente.
Diante do
quadro perigoso,a atitude democrática é ter paciência.Os partidos radicais têm
razão em denunciar as constantes notícias da rede globo,mas a realidade,embora
não tenha priorado,já era ruim há muito tempo.Eu quero dizer:colocar mais
notícias de mortes não é o que dá a verdade da insegurança,mas a vida cotidiana
de quem vive aqui.O propósito da rede globo é sempre capitalizar a seu favor uma situação difícil,para obter
hegemonia e manipulação do povo,no seu interesse próprio.Mas isto não é toda a questão.
A
sociedade civil tem que compreender o problema e apoiar a democracia ,apesar de
estar ameaçada todos os dias,quando caminha para o trabalho ou vai à padaria.
O de
Temer
Temer,como
eu disse ,se apossou em definitivo do processo político e até das eleições.Tem
feito observações muito assustadoras dentro de todo este contexto:” O povo se
regozijou com a concentração de poder em 64”,” os ataques contra mim lembram os
países totalitários”.Todo o seu discurso indica um viés autoritário,que pode se
tornar (quero dizer o discurso)ainda maior se Lula,por dever de direito e
isonomia,for preso daqui a dois dias.
O
pronunciamento de Carmen Lúcia aponta os
perigos de uma polarização que só favorece uma solução autoritária.Existe um
clima no país muito estranho ,um compasso de espera.” O silêncio o esporro o
precede”.Ninguém fala mais de Marielle,da investigação,do que aconteceu com a
caravana de Lula e assim por diante.O trato político tomou conta das cabeças.Todos pedem
responsabilidade.Mas haverá?
O PSOL
tem tudo para ser o bobo da vez.Uma solução autoritária poderá ser feita em nome de Marielle,contra o PSOL.Na tipologia
dos golpes,em que um autor clássico como Paulo Bonavides,desponta como um dos
maiores especialistas,este “ golpe” se parece muito com o de 37 ou de 1929,em
Portugal:será tranqüilo ,se não houver agitação,mas se houver será mais
semelhante a 64 mesmo.
Há como
evitá-lo?Sim,se houver o reconhecimento da necessidade de implantação real e efetiva
do conceito de “ estado de direito” essencialmente adjunto ao de democracia.Se
as pessoas entenderem que a prisão de Lula é legítima tudo levará à
continuidade do processo eleitoral e à passagem tranqüila do poder,mas se
houver confrontação penso ser inevitável uma solução autoritária.
Porque
digo que mesmo na tranqüilidade pode advir um golpe osmótico?Pela diluição e
passividade dos partidos e dos políticos,de esquerda,de oferecer soluções e
programas modernos e reais,bem como alternativos.
Eu disse
,num artigo anterior,que a responsabilidade dos políticos candidatos à
presidência começava a agora.No entanto, o mesmo pragmatismo pequeno de sempre
pautou as entrevistas dadas por eles.Não querendo demonstrar aos adversários o
que querem fazer,esconderam,no interesse próprio, as suas plataformas(que as
possuem,espero[se não tiverem pior ainda]).
A crise
brasileira de amadurecimento da democracia sempre tem os mesmos
ingredientes,uma confrontação e uma sucessão eivada de
problemas.Outrora,Jânio,Collor e Dilma,apresentaram o caminho da perdição.Hoje
a falta de conteúdo e a omissão dos pretendentes deixa a democracia em perigo.
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