segunda-feira, 2 de abril de 2018

Análise da conjuntura da intervenção


A revelação dos bastidores da decisão da intervenção suscita-nos uma análise  do problema todo.
Os políticos do Rio de Janeiro são enfraquecidos com a decisão,mas não se sabe realmente se  a resistência de Rodrigo Maia e Pezão representam uma espécie de script para que eles saiam,no final,engrandecidos.Por aceitarem uma ajuda teriam crédito.Absolutamente.
O que vale é  a auto-crítica de Pezão,quanto ao fim de sua aventura política pessoal.Isto é uma derrota para o governo e os políticos do Rio de Janeiro,que deixaram chegar a este ponto o problema da segurança.
Rodrigo Maia pode bater pezinho porque ele não está aqui agora,mas ao longo dos anos ele participa também da débâcle.Participa da omissão,no mínimo,dos políticos.
A decisão era inevitável e não foi motivada,como oportunìsticamente a esquerda diz,para encobrir a derrota na previdência.Esta derrota não é comprovável.Temer ganhou tempo e se for bem sucedido na intervenção vai ter mais condições de fazê-la ou de obrigar o próximo Presidente a fazê-lo.Porque a política não é só em cima,mas nos diversos estamentos da organização política do país.
Outra situação é a manipulação da Rede Globo ,esta obsessão paranóide da esquerda.Não nego isto não,mas são dois níveis de realidade,a do discurso e a da realidade mesmo.Se é verdade que os políticos conservadores  e a rede globo manipulam,é verdade que a realidade é esta mesmo.O governo venezuelano ,admirado pelos petistas,está jogando pessoas inocentes na miséria(como fez aqui).A intervenção é necessária,porque só quem vive no Rio sabe como as coisas estão.Não é porque esta decisão pode ser usada pelos conservadores que a realidade da insegurança não exista.Existe sim.Aqui não é Viena da Áustria.
E ,diante desta inevitabilidade há que fazer um discurso de esquerda conseqüente e realista.Numa hora de radicalismo,de ações radicais, a questão social das comunidades precisa ser colocada.A esquerda não atua de forma conseqüente porque repudia a democracia e o estado de direito,como mediações de luta.Preocupados com a revolução,fazem propostas genéricas e óbvias,mas não habitam a realidade mesma,para lembrar um conceito de Sartre.
Se o governo se fortaleceu,precisa de legitimidade e apoio para solucionar ou equacionar de vez a questão da segurança e neste momento,neste interstício, era hora de uma esquerda moderna forçar a discussão sobre os benefícios  sociais que ajudarão a acabar com a violência.Isto sim era o papel de uma esquerda  responsável,não virar as costas ao povo do Rio de Janeiro.
A esquerda tem que entender que o povo das comunidades é aterrorizado pelo tráfico e pelas milícias e se identifica com o exército e as forças armadas.Se esta identificação se ampliar pela manipulação dos conservadores,a tendência é para apoiar golpes e soluções de força.A esquerda tem entrar nisto aí para fazer a pedagogia da questão social,para mostrar ao povo as nuances do problema e o que ele deve fazer para pressionar os políticos,não no sentido da solução de força,mas social.
Pezão devia ter renunciado.Não agindo assim mostra a disposição de usar a situação que ele criou para sobreviver.
Ninguém sepultou a previdência,apenas estão tentando encontrar mecanismos mais seguros e inevitáveis de sua implantação,dentro de um grande projeto de direita ,que os erros da esquerda possibilitaram e possibilitam.
O papel do povo.
Os processos políticos atinentes á intervenção não permitirão que ela seja uma intervenção técnica,porque amplos setores da sociedade vão aproveitá-la para seu propósitos particularísticos.Notadamente a direita.Mas a esquerda também.
Eis que o ministro Raul Jungman precisa mostra o plano de intervenção e agir de forma a evitar tais percalços de natureza política,porque a intervenção visa  a defender de imediato o povo do Rio de Janeiro e garantir para o futuro,as condições mínimas de vida do povo fluminense e carioca.
Se isto não acontecer,o vazio vai ser preenchido(em política não há vácuo)por quem tiver a  força e não o direito.
É uma tarefa  inacreditável,mas necessária,de manter estas condições mínimas de segurança.É como tentar resolver 50 anos de problemas,desde a década de 60,quando tudo começou.
Até ao presente momento nem o plano,nem as metas foram apresentadas e nem os resultados desejados foram atingidos.O ministro afirmou que os resultados se darão em quatro meses,mas eu entendo ser muito tempo e que a questão das respostas imediatas tem um peso real e urgente.
Diante do quadro perigoso,a atitude democrática é ter paciência.Os partidos radicais têm razão em denunciar as constantes notícias da rede globo,mas a realidade,embora não tenha priorado,já era ruim há muito tempo.Eu quero dizer:colocar mais notícias de mortes não é o que dá a verdade da insegurança,mas a vida cotidiana de quem vive aqui.O propósito da rede globo é sempre capitalizar a  seu favor uma situação difícil,para obter hegemonia e manipulação do povo,no seu interesse  próprio.Mas isto não é toda a questão.
A sociedade civil tem que compreender o problema e apoiar a democracia ,apesar de estar ameaçada todos os dias,quando caminha para o trabalho ou vai à padaria.
O de Temer
Temer,como eu disse ,se apossou em definitivo do processo político e até das eleições.Tem feito observações muito assustadoras  dentro de todo este contexto:” O povo se regozijou com a concentração de poder em 64”,” os ataques contra mim lembram os países totalitários”.Todo o seu discurso indica um viés autoritário,que pode se tornar (quero dizer o discurso)ainda maior se Lula,por dever de direito e isonomia,for preso daqui a dois dias.
O pronunciamento de Carmen Lúcia  aponta os perigos de uma polarização que só favorece uma solução autoritária.Existe um clima no país muito estranho ,um compasso de espera.” O silêncio o esporro o precede”.Ninguém fala mais de Marielle,da investigação,do que aconteceu com a caravana de Lula e assim por diante.O trato político  tomou conta das cabeças.Todos pedem responsabilidade.Mas haverá?
O PSOL tem tudo para ser o bobo da vez.Uma solução autoritária poderá ser feita  em nome de Marielle,contra o PSOL.Na tipologia dos golpes,em que um autor clássico como Paulo Bonavides,desponta como um dos maiores especialistas,este “ golpe” se parece muito com o de 37 ou de 1929,em Portugal:será tranqüilo ,se não houver agitação,mas se houver será mais semelhante a 64 mesmo.
Há como evitá-lo?Sim,se houver o reconhecimento da necessidade de implantação real e efetiva do conceito de “ estado de direito” essencialmente adjunto ao de democracia.Se as pessoas entenderem que a prisão de Lula é legítima tudo levará à continuidade do processo eleitoral e à passagem tranqüila do poder,mas se houver confrontação penso ser inevitável uma solução autoritária.
Porque digo que mesmo na tranqüilidade pode advir um golpe osmótico?Pela diluição e passividade dos partidos e dos políticos,de esquerda,de oferecer soluções e programas modernos e reais,bem como alternativos.
Eu disse ,num artigo anterior,que a responsabilidade dos políticos candidatos à presidência começava a agora.No entanto, o mesmo pragmatismo pequeno de sempre pautou as entrevistas dadas por eles.Não querendo demonstrar aos adversários o que querem fazer,esconderam,no interesse próprio, as suas plataformas(que as possuem,espero[se não tiverem pior ainda]).
A crise brasileira de amadurecimento da democracia sempre tem os mesmos ingredientes,uma confrontação e uma sucessão eivada de problemas.Outrora,Jânio,Collor e Dilma,apresentaram o caminho da perdição.Hoje a falta de conteúdo e a omissão dos pretendentes deixa a democracia em perigo.

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