Escrúpulo
não é neutralidade.
Não
estamos diante de nenhum golpe porque Bolsonaro foi eleito.Como tenho dito há
interesses nesta direção,mas até hoje o Presidente-eleito não os apoiou.Aliás é
ele que será sempre o fiel da balança,cercado por estes interesses.Ele tem que governar
até ao final.
Nestes
meus artigos ,durante tantos anos, tenho expresso a minha opinião ,obtida da
minha experiência de vida e ,dentro dela,a minha experiência política:nós
estamos numa situação semelhante aos anos de 67 e 68.O país polarizado e ressentido
com questões do passado.Quem lê os meus artigos e os meus livros sabe das
minhas convicções.
Está
certo,é preciso reparar os crimes da ditadura,dar uma satisfação a mães que
sofrem,tudo bem,mas eu repito aquilo que disse há muitos anos atrás:esta questão não
pode ocupar o Brasil ad infinitum ,não
pode;há pessoas na esquerda que usam o problema para fazer carreira
profissional;a associação do processo
específico de tortura na ditadura tem sim relação com o problema social
do Brasil,mas a esquerda não tem o
direito de monopolizá-lo .E nem de alguns de seus integrantes construir
carreiras ,profissionais ou politicas,prolongando esta questão.
Vamos ver
se nos entendemos:o fato de eu criticar a esquerda não me torna apoiador de
Bolsonaro.Ponto.A minha concepção de esquerda mudou e,nesta mudança, a mediação nacional adquiriu
caráter central,tanto quanto o capitalismo,ou mais:porque é na mediação
nacional que as decisões são tomadas,não só por quem é votado,como Bolsonaro o
foi,como por quem nele votou e por quem não votou nele .
Acabada a
eleição,a representação retoma o seu aspecto essencialmente nacional,porque se
assim não fosse(se assim não for)o Presidente ,o politico ,governaria para um
setor só da sociedade,o que é absurdo,mas muita gente não sabe.
Exigir
que a oposição goste de Bolsonaro é uma coisa,mas da nação sim.Ela tem que
entender que a decisão de eleger o
ex-soldado,ligado à ditadura,foi do povo,segundo a lei,o que lhe confere
plena legitimidade. E é a partir daí que devemos pensar o modo de
relacionamento com este governo.
Reforçar
as suas posições em manifestações ,tudo bem.Manter-se unido e ganhar força,tudo
bem,mas a confrontação,não.A discussão sim.
O que
levou o ex-soldado ao poder foi exatamente a incompreensão que a esquerda devia
ter dos limites de sua atuação no plano da democracia e do estado de direito.O discurso é perfeito,mas é
impossível não pensar em revanchismo quando a insistência nas reparações atinge
os limites a que me referi acima;quando esta questão favorece politicamente
algumas pessoas;quando o exército fica sem verbas e condições de fazer a defesa nacional.
A
insistência da esquerda em comparar as lutas lgbti,do negro,do feminismo ,num
mesmo fundamento que o da luta de classes,induz a esta confrontação,como se ela
fosse criativa,mas é destrutiva,como o foi em 64.
É hora de
a esquerda incorporar ,de fato ,não só a democracia e os seus elementos
indispensáveis(estado de direito),mas também,a nação,como vem fazendo o Partido
Democrata dos Estados Unidos.Esta é a razão do seu crescimento e da reação
violenta dos republicanos.
Não é só
reconhecer os erros,mas criar uma visão positiva do mundo,de atuação dentro das
mediações formais e institucionais em que se vive.
Há
denúncias de provocação militar e o Presidente Bolsonaro tem a obrigação de desautorizá-las o tempo que
precisar,em nome da sua legitimidade,mas a esquerda tem que se elevar,não
confrontar.
Uma visao clara e precisa.
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