sexta-feira, 10 de julho de 2020

Porque ser nacionalista ainda hoje

Reitero inúmeras vezes que não sou nacionalista.Defendo a nação,ainda,por razões que vou colocar aqui neste artigo.Eu remeto o leitor aos meus artigos anteriores,onde explico que nacionalismo é exaltação.Não exalto nada.Geralmente exaltação é para esconder alguma coisa de ruim e quando não há necessidade de exaltar não há nacionalismo,porque não haverá nada de ruim para esconder(ou exaltar).
Desde que as nações surgiram no século XI,há sempre,como já expliquei,uma gangorra entre o nacionalismo e o universalismo,geralmente cristão.Esta gangorra é falsa do ponto de vista conceitual e real,mas é verdadeira dentro dos interesses particularísticos que a usam para propósitos de poder e politica.
A passagem entre o nacional e o internacional e vice-versa é que destrói estes interesses.Uma visão internacionalista(como a do marxismo)está presa a interesses não -humanos e egoísticos tanto quanto a nacionalista.
O fato é que não há como,ou ainda não se descobriu,criar uma comunidade humana de cidadania ,em que todos influenciem os países todos,de onde moram.O mais próximo a que se chegou disto foi a decisão de Caracala equiparando os romanos e os habitantes das provincias do império no estatuto de cidadania.
O termo cidadania é o que esclarece tudo:morro de rir vendo a direita(pelas rádios inclusive)pensar do mesmo modo que o marxismo(tem muito anti-comunista que defende a base filosófica do marxismo,sem ver as consequencias)pois os dois lados não se dão conta ,ainda,que o fato de as economias se interligarem progressivamente não quer dizer nada para os cidadãos de cada país,senão no plano econômico e não decisório.
Ressalto frequentemente a nação,porque independentemente de sua origem capitalista,ela se forma porque é humanamente impossível abarcar regiões tão dispares e complexas.Existe uma necessidade histórica,que transcende às classes(o marxismo não viu).
Mais além,e como decorrência desta constatação, só é possível estabelecer regras de convivência politica dentro de uma território organizado e dirigido por uma administração.
A famosa “ Querela das Investiduras”,cujo ápice foi em 1054 não se resolveu porque não havia ainda esta “ nação” e esta idéia ganha força exatamente porque os reis perceberam que só desatariam este nó se se libertassem da Igreja,procurando o capital da então burguesia nascente,no intuito de unificar as regiões segundo a sua batuta.
O conceito de soberania provém do de suserano no feudalismo:no estatuto medieval de vassalagem os súditos devem obediência ao suserano.Os conflitos entre a Igreja e estes suseranos fizeram com que a primeira reivindicasse uma soberania da Igreja ,separada do estado,ou como se dizia então,do poder secular . Mas os Reis,de seu lado,fizeram o mesmo e melhor,reunindo sob si a cidadania e se colocando como unico poder soberano,como era natural, já que o atributo de governo é do poder secular,não do espiritual.
Deste este tempo até aos dias de hoje a questão se coloca em como se limita o poder dos governos e como se dá mais poder aos cidadãos,ao povo.Em mais de quinhentos anos há um só ponto de inflexão nesta questão ,que é,evidentemente Rousseau,que fundamentou esta soberania popular ,através dos conceitos inter-ligados de volonté de tous e volonté generále .A volonté de tous são os individuos,os cidadãos que se relacionam concretamente uns com os outros;a volonté generale é a média do pensamento destes cidadãos e que serve de base à relação entre governantes e governados.Rousseau afirma que a democracia direta é a única democracia verdadeira porque se baseia nos cidadãos mais diretamente próximos do poder que os governa.Tudo o que vem da volonté generale até à democracia representaiva, aliena o homem,o cidadão,o individuo,do poder,o qual se torna,ipso facto ,opressivo.
Juntando tudo nós vemos que há uma inter-relação entre o conceito de nação e o de cidadania,mediatizados pelo de território,poder,governo e...cidadania.
Nação é cidadania.Por pior que seja,por mais que o risco de alienação exista, é o locus da discussão de ampliação dos direitos da humanidade e da construção da utopia.
As estratégias revolucionárias de utrapassar estas mediações não só não resultaram em nada,como trouxeram mais e mais perversões e distorções nesta intersecção entre povo e estado.
Então defender a nação,no nosso caso o Brasil ,é defender o elemento distintivo da definição da cidadania e que marca esta intersecção referida:um minimo(por pior que seja)de influência da pessoa comum sobre o estado.
O que a esquerda (principalmente a marxista)não entende é que ainda que os trabalhadores sejam produtivos em todos os lugares isto não significa que seja suficiente para mudar para melhor o mundo e ,de fato,a busca de uma revolução confirma esta verdade;e o que a direita não entende é que o fato de a economia se interligar não implica que a relação pura e simples das economias particulares seja suficente para internacionalizar,sem o concurso da vontade, da cidadania.
A direita brasileira afirma que “ o que é bom para o Estados Unidos é bom para o Brasil”Otávio Mangabeira; e Prestes diz que “ o interesse da URSS é o do Brasil”.Mas são a mesma besteira.
Suponhamos que o G-8 leve a Amazônia e que em contrapartida o Brasil receba uma ajuda semelhante ao Plano Marshall e que enriqueça de vez.Tal não transforma em algo sem importância o direito do povo brasileiro em gerir os recursos daquela região.

Nenhum comentário:

Postar um comentário