Reitero
inúmeras vezes que não sou nacionalista.Defendo a nação,ainda,por
razões que vou colocar aqui neste artigo.Eu remeto o leitor aos
meus artigos anteriores,onde explico que nacionalismo é
exaltação.Não exalto nada.Geralmente exaltação é para esconder
alguma coisa de ruim e quando não há necessidade de exaltar não há
nacionalismo,porque não haverá nada de ruim para esconder(ou
exaltar).
Desde
que as nações surgiram no século XI,há sempre,como já
expliquei,uma gangorra entre o nacionalismo e o
universalismo,geralmente cristão.Esta gangorra é falsa do ponto de
vista conceitual e real,mas é verdadeira dentro dos interesses
particularísticos que a usam para propósitos de poder e politica.
A
passagem entre o nacional e o internacional e vice-versa é que
destrói estes interesses.Uma visão internacionalista(como a do
marxismo)está presa a interesses não -humanos e egoísticos tanto
quanto a nacionalista.
O
fato é que não há como,ou ainda não se descobriu,criar uma
comunidade humana de cidadania ,em que todos influenciem os países
todos,de onde moram.O mais próximo a que se chegou disto foi a
decisão de Caracala equiparando os romanos e os habitantes das
provincias do império no estatuto de cidadania.
O
termo cidadania é o que
esclarece tudo:morro de rir vendo a direita(pelas rádios
inclusive)pensar do mesmo modo que o marxismo(tem muito
anti-comunista que defende a base filosófica do marxismo,sem ver as
consequencias)pois os dois lados não se dão conta ,ainda,que o fato
de as economias se interligarem progressivamente não quer dizer nada
para os cidadãos de cada país,senão no plano econômico e não
decisório.
Ressalto
frequentemente a nação,porque independentemente de sua origem
capitalista,ela se forma porque é humanamente impossível abarcar
regiões tão dispares e complexas.Existe uma necessidade
histórica,que transcende às classes(o marxismo não viu).
Mais
além,e como decorrência desta constatação, só é possível
estabelecer regras de convivência politica dentro de uma território
organizado e dirigido por uma administração.
A
famosa “ Querela das Investiduras”,cujo ápice foi em 1054 não
se resolveu porque não havia ainda esta “ nação” e esta idéia
ganha força exatamente porque os reis perceberam que só desatariam
este nó se se libertassem da Igreja,procurando o capital da então
burguesia nascente,no intuito de unificar as regiões segundo a sua
batuta.
O
conceito de soberania provém
do de suserano no
feudalismo:no estatuto medieval de vassalagem os súditos devem
obediência ao suserano.Os conflitos entre a Igreja e estes
suseranos fizeram com que a primeira reivindicasse uma soberania
da Igreja ,separada
do estado,ou como se dizia então,do poder secular . Mas
os Reis,de seu lado,fizeram o mesmo e melhor,reunindo sob si a
cidadania e se colocando como unico poder soberano,como era natural,
já que o atributo de governo é do poder secular,não do espiritual.
Deste
este tempo até aos dias de hoje a questão se coloca em como se
limita o poder dos governos e como se dá mais poder aos cidadãos,ao
povo.Em mais de quinhentos anos há um só ponto de inflexão nesta
questão ,que é,evidentemente Rousseau,que fundamentou esta
soberania popular ,através
dos conceitos inter-ligados de volonté de tous e
volonté generále .A
volonté de tous são os individuos,os cidadãos que se relacionam
concretamente uns com os outros;a volonté generale é a média do
pensamento destes cidadãos e que serve de base à relação entre
governantes e governados.Rousseau afirma que a democracia direta é a
única democracia verdadeira porque se baseia nos cidadãos mais
diretamente próximos do poder que os governa.Tudo o que vem da
volonté generale até à democracia representaiva, aliena
o homem,o cidadão,o individuo,do poder,o qual se torna,ipso
facto ,opressivo.
Juntando
tudo nós vemos que há uma inter-relação entre o conceito de nação
e o de cidadania,mediatizados pelo de território,poder,governo
e...cidadania.
Nação
é cidadania.Por pior que seja,por mais que o risco de alienação
exista, é o locus da
discussão de ampliação dos direitos da humanidade e da construção
da utopia.
As
estratégias revolucionárias de utrapassar estas mediações não só
não resultaram em nada,como trouxeram mais e mais perversões e
distorções nesta intersecção entre povo e estado.
Então
defender a nação,no nosso caso o Brasil ,é defender o elemento
distintivo da definição da cidadania e que marca esta intersecção
referida:um minimo(por pior que seja)de influência da pessoa comum
sobre o estado.
O
que a esquerda (principalmente a marxista)não entende é que ainda
que os trabalhadores sejam produtivos em todos os lugares isto não
significa que seja suficiente para mudar para melhor o mundo e ,de
fato,a busca de uma revolução confirma esta verdade;e o que a
direita não entende é que o fato de a economia se interligar não
implica que a relação pura e simples das economias particulares
seja suficente para internacionalizar,sem o concurso da vontade, da
cidadania.
A
direita brasileira afirma que “ o que é bom para o Estados Unidos
é bom para o Brasil”Otávio Mangabeira; e Prestes diz que “ o
interesse da URSS é o do Brasil”.Mas são a mesma besteira.
Suponhamos
que o G-8 leve a Amazônia e que em contrapartida o Brasil receba
uma ajuda semelhante ao Plano Marshall e que enriqueça de vez.Tal
não transforma em algo sem importância o direito do povo brasileiro
em gerir os recursos daquela região.
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