quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

A lista de João Saldanha II

 

É possível fazer uma análise das aptidões dos criadores e realizadores na história.As suas realizações,quando permanecem,transcendem a época em que foram criadas.

O mesmo vale para um esportista:a lista de Saldanha transcende as épocas como a obra de Da Vinci e Michelangelo.

Os critérios,no entanto,usados por mim no artigo anterior a este não foram os de João saldanha.Ignoro os dele,mas não acho que sejam muito diferentes daqueles que eu usei.

Mas eu faço este artigo para contestar a ideia relativistica de que cada geração,cada época, escolhe os seus melhores e que em função dos fundamentos da atividade em cada época os criadores e realizadores são diferentes.

Isto me lembra ,quando estudava filosofia ,as críticas que certos positivistas e cientificistas de toda hora faziam aos filósofos antigos como Aristóteels e Platão.

Como estes pensadores são de uma época primitiva,inicial,em que não se conhecia através da ciência a realidade,a natureza,o pensamento deles era ultrapassado.

No tempo de minha juventude (embora eu seja jovem há mais tempo),fazendo pré-tecnico,era comum as gozações dos professores de física quanto aos erros de Aristóteles.

Desde o tempo de Galileu piadas a respeito dos antigos eram muito repetidas:a cadeira não se movimentava, ela “ queria cair”.Esta crítica ao passado até certo ponto é justa,mas não totalmente.A fisica de Aristóteles,como os trabalhos de outros autores ao longo da história,é risivel e superada em grande parte.

Mas isto não vale para todas as obras do e no passado.O meu professor Leonardo Boff desvelou em uma aula o erro desta visão:embora a quantidade de conhecimento seja importante para obter mais chances de produzir verdades e saberes,o conhecimento verdadeiro é o discernimento.Esta é uma verdade socrática:o discernimento daquilo que é mais decisivo num periodo é o verdadeiro conhecimento.O discernimento do que realmente vale e é importante é que é o conhecimento.Aquele que se apega ao conhecimento nos eu aspecto quantitativo está mais imbecilizado e einfantilizado do que Aristóteles e os antigos.

Tudo,no tempo,muda,mas as aptidões,inteligência,das pessoas, permanecem.Não tem sentido nenhum dizer que porque as técnicas arquitetônicas atuais são mais evoluidas que os arquitetos do renascimento estão superados.

Não tem sentido nenhum dizer que Pelé ,Garrincha,Di Stefano estão superados porque as condições para jogar futebol hoje são melhores.

Os critérios que usei para colocar a ordem na lista de João de Saldanha são tirados da filosofia:todo filósofo busca o fundamento do ser,a sua essência.Qual é a essência do jogador de futebol?Os elementos essenciais e fundamentais desta atividade?Passe,saber fazer o gol,cabeceio,ordem tatica( e estratégica),defesa,capacidade de impedir o adversário de atuar.Chute ,evidentemente.

Não há ninguém que tenha desenvolvido mais estes famosos fundamentos do que o primeiro da minha lista.E ele acrescenta aptidões,no seu máximo,que não são fundamentais,como o cabeceio e o drible.O técnico Zezé Moreira ressaltava uma outra característica dele:o rush,a capacidade de driblar o time adversário inteiro e fazer o gol,como ele fez contra o meu Fluminense em 61.Conheci um jogador aqui na Freguesia -Jacarepaguá,nos anos 70,Raimundo que driblava o time adversário e o dele antes de fazer o gol.

O técnico Telê disse que o drible não é essencial ao futebol,mas Garrincha o transformou ,assim como Orlando Pingo de Ouro,o cabeceador ,transformou o cabeceio.

Isto tudo sem falar na força,na rapidez de raciocinio que um grande jogador deve demonstrar,como o primeiro da lista provou num gol contra a juventus em 69.Sem falar na criatividade,etc.

O bom transcende às épocas,mas existe muita coisa boa que não transcende também e é de relevar.



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