sábado, 10 de julho de 2021

O chapeleiro louco(ou maluco tanto faz)

 

Petição de principio

Eu posso estar enganado mas tem gente aí que anda me chamando de Alice,de Chapeleiro Louco.Eu não me lembro bem de “ Alice nos país das Maravilhas”,então se eu errar alguma coisa aqui o leitor me perdoe e corrija.

Eu já expliquei várias vezes que a interdisciplinaridade é perfeitamente legitima.Mas no meu caso esta interdisciplinaridade não é tanta assim:o problema do conhecimento perpassa todas as minhas atividades inter-relacionadas.

Então eu não sou como o Chapeleiro Louco como muita gente aí diz “cortando cabeças”,conforme o personagem,segundo minha lembrança.

Tudo se interconecta num todo que tem sentido.Indo da ciência natural para a ciência social a discussão é sobre a natureza do conhecimento ,seu papel na vida,sua relação com a ética.Mas a prioridade é o conhecimento.Trato da arte até como problema de conhecimento.

Outra coisa que eu vou repetir:muita gente me faz esta acusação(como faz a todo interdisciplinar) de não me fixar em nada e esconder o meu descompromisso e desconhecimento.Mas como eu já expliquei em outros artigos,os pedagogos modernos e estudiosos do mundo do trabalho(Domenico de Masi)entendem que,numa época como a nossa,em que não se cria emprego e se perde emprego constantemente,como estamos vendo agora,ter diversas aptidões é uma precaução mais do que normal,mais do que necessária.

Eu contei no último artigo em que tratei disto aí uma história que vi num filme sobre um japonês que perdeu um emprego numa grande empresa multinacional e fica tentando se reintegrar no mesmo nivel que possuía,com as contas chegando,a mulher pressionando,os filhos.

Até que,em desespero de causa ,alguém sugere um emprego de maquiador de cadáver e ele resiste o tempo todo,até que a pressão o impulsiona.

No inicio a resistência prossegue,este trabalho não tem significado para ele ,mas aos poucos ele vai atribuindo afeto a esta sua atividade,observando a gratidão das pessoas,o direito da pessoa morta,etc.

É possível atribuir afeto,ter sentimento amoroso,compromisso com qualquer aptidão,mesmo aquela que é eventualmente imposta pelas circunstâncias objetivas.

Outra acusação que tem aparecido é que sou como outro personagem do livro de Lewis Carrol:Alice,Alice no país das maravilhas.Uma Alice que gosta de falar rebuscado para chamar a atenção ,como é próprio de toda criança ,ainda imersa na egoidade,a ser superada no caminho inevitável da adultez.

Eu conheço este critério de adultez ,que eu nunca vi nenhum psicólogo defender ou explicar:ser adulto para certas pessoas é aceitar o mundo como é,se integrar naquilo que supostamente os costumes determinam.

Socialização seria isto,mas desde priscas eras tal truquezinho conformista sempre foi usado para impedir algo novo ou diferente(ou melhor),de surgir.

Ao longo do tempo,ao longo da história,a integração na sociedade e a sua crítica andaram de mãos dadas ,mas sempre os poderes deste mundo jogaram com a impertinência da crítica,como se isso fosse factível.

E estes setores conservadores,para não dizer reacionários,jogam uma pecha de qualquer coisa desairosa sobre a crítica:infantilismo próprio da egocentria,porque ,ademais,o mundo seria e é assim mesmo.Aceitar as coisas como são é a palavra de ordem e dentro deste principio pensar em utopia é coisa de Alice.

O analista,qualquer um,em qualquer tempo,faz um diagnóstico do real e normalmente pàra por aí.Mas em toda a análise há um elemento de mudança,de prognóstico, que deve ser explorado.

Na vida,no entanto,os processos estão pari e passu e se não fosse assim,se a mudança não se manifestasse em útlima instância, nós estariamos ainda nas cavernas.

A utopia perpassa a vida humana ao longo da história,sempre.A utopia só o é na medida em que ela é algo novo,diferente,por pequeno que seja(e melhor também) .

A integração pura e simples com a sociedade é algo falacioso;algo que foi vendido pelo cientificismo e que tanto a esquerda como a direita seguem,como um critério moral de comportamento.Mas toda vez que uma criança nasce,uma Alice nasce, algo novo(e diferente) nasce.Como Cristo que foi algo novo ( e diferente[e melhor?])na manjedoura.

Cristo é o oposto ao indiferentismo do homem diante do que está errado e precisa ser mudado.Por definição ele é o diferente de seu tempo e de outros tempos.

Uma pessoa comum,mal comprando,que tem um modo de ser uma tanto excêntrico ou um modo de falar não muito corriqueiro não é exatamente algo novo,porque existem milhões de pessoas que se expressam de forma rebuscada,de maneira original e assim sucessivamente.Mas diferente ela é e isto é normal.Ser diferente é normal.É da vida.Não constitui ameaça à socialização,mas antes participa da viagem.

E ao realismo adulto de saber identificar aquilo que não pode ser mudado,como na oração,corresponde também o achar aquilo que pode e deve ser transformado,como uma Alice transforma o mundo quando nasce e põe a mão no coração.


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