sábado, 23 de outubro de 2021

Umberto Eco o mandarim dos mandarins

 

Quando alguém quer me chatear,por este meu trabalho ,cita Umberto Eco.Eu já respondi a isto,mas é sempre bom trazer novos dados do problema.

Nos artigos anteriores eu me referira a duas questões:a da interdisciplinaridade e a da imbecilidade que Eco dizia grassar na internet.

Hoje eu vou me referir à democracia e aos intelectuais.A democracia moderna,que acompanhou o crescimento da ciência moderna e o Renascimento,tem uma diferença essencial para a democracia antiga:ela é para todos.Tem muita gente especializada em ciência politica que não sabe disto e ainda fala em televisão,tem satus,etc...

A característica fundamental da democracia moderna é que é pelo menos representativa e representativa de todos.Ainda que em determinados períodos tenha sido censitária,isto é,exercível apenas pelos endinheirados,havia ,na sua forma,no discurso,uma abertura onde outros entraram.A democracia assim considerada se amplia,coisa vedada no mundo antigo,ainda que alguns autores identifiquem sinais de “fratura”.

Nos dias que correm uma vitória total deste principio moderno de democracia significa que não só não há mais voto censitário e outro tipo eventual de barreira(racial,como no sul dos Estados Unidos)mas qualquer pessoa,do mendigo ao presidente da República ,pode e deve participar dela.Nem mesmo a condição de trabalhador produtivo é limite ou barreira a esta participação(muito pelo contrário).Porque aquele que é excluido,pela democracia,retorna.

Desde Confúcio,passando por Platão , ficou provado que a tentação maior de todo intelectual é ser o poder incontestado.O intelectual sofre de uma contradição psicológica muito recorrente entre a sua visão quase completa do mundo e a impossibilidade de mudá-lo pela presença dos outros ,considerados incapazes,inferiores e ignorantes.Uma contradição entre o intelectual que é parte da vida e a vida(e os outros).

Assiste razão ao comum das pessoas em acusar os intelectuais de fomentar ditaduras e de ter uma postura elitista(que é base da toda “ proposta”intelectual),mas falta a elas compreensão acurada de que não é todo o intelectual que age assim.E que dialéticamente falando(será que o povo sabe o que é isto?[alguns no povo se interessam talvez]),o intelectual está na vida.

Uma derivação desta contradição psicológica é que todo intelectual,inclusive Umberto Eco,sofre por não ser entendido(por isso inclusive propõe ditaduras[para ser])e às vezes procura ser falsamente democrático ou palatável afim de ser querido e deixar a solidão e a incompreensão.

Ao obter,por causa desta habilidade,reconhecimento, se sente dono da vida e muito mais do saber.A característica,no entanto,da vida é estar sempre em movimento,propiciando novos fatos,novas pessoas ,que trazem ideias novas e são,por elas mesmas,o novo.

Diga o que se quiser da democracia,ela é o único regime plástico o suficiente,ou formalmente,capaz de expressar o devir.

Para alguns ,como Umberto Eco e bajuladores e sicários(“ donos” de ongs financiadas pela Holanda aí...)o medo do novo é acachapante.O medo de outras pessoas pensarem diferente e trazerem algo novo e melhor é aterrorizante,porque o mandarinato

vive da imobilidade.

Sempre achei uma contradição engraçada(mas não raro trágica),em Marx,Platão e Confucio,que seus ensinamentos não fossem o bastante para ordenar o social:secundando suas ideias um aparato repressivo vem sempre solicito e bem coordenado.A justificativa(ideológica[consciência falsa])é que nem todos estão aptos a entender,por serem incapazes no caso de Confúcio e Platão ou pela consciência vir de fora para dentro,no caso de Marx(há controvérsias).No caso de todos,ignorância pura e simples(dos outros).

Certa vez,quando eu era aluno do segundo grau,no Colégio Arte e Instrução,disse a uma menina que o marxismo era a resposta da vida e ela disse na sua candura: “então porque todo mundo não o segue?”.Esta pergunta é a vingança da criança e expressa bem o que eu disse acima...

No final do Renascimento ,os estados nacionais ,vendo o potencial crítico dos intelectuais os controlou de diversas maneiras.Igualmente dominaram os cientistas que produziam riquezas.

O intelectual moderno,como Eco,é produto deste controle,tão bem descrito como fenômeno de “racionalização”por Max Weber.Aquela liberdade do Renascimento acabara.Se analisarmos,porém,a história subsequente,o outsider,o que não teve escola e não foi devidamente controlado,sempre surge para inovar.

Na própria revolução industrial,que é base sociológica da racionalização weberiana,vemos figuras como James Watt ou Faraday,provindos de fora da escola,mas produzindo inovações e sendo recebidos por ela e pelas sociedades científicas.

Por incrivel que pareça ,em todo este movimento, havia sensibilidade para reconhecer que este pesquisador solitário ,se trouxesse algo novo,poderia e deveria ser acolhido.

Nos países anglo-saxônicos,por causas históricas,que já tratei em outro lugar,a mobilidade social ascendente permitiu e permite tal mobilidade.Nós vemos que a renomada Universidade de Oxford,no tempo de Rutherford e Russell,achou um simples matemático indiano,Ramanujan,pobre e esquecido numa aldeiazinha e o trouxe para dialogar,diretamente, com os supracitados medalhões.Passou por um processo de prova e exigência,mas com lisura e lá se estabeleceu como professor e pesquisador.

Nos países euro-continentais e seus colonizados,como o Brasil, a racionalização se imbrica com o engessamento da sociedade civil pelo estado,cujo objetivo histórico foi fundado,entre outras razões,na necessidade de controle da mobilidade social ascendente,mantendo-a nas mãos da classe hegemônica.Se ainda se vê fraturas neste projeto hegemônico em alguns lugares ,em outros,o panorama adquire contornos dramáticos de pura exclusão do outsider,de todos, e favorecendo escracahdamente as classes altas e seus filhos.

Atualmente o quadro continua o mesmo,mas há que reconhecer que ,embora ainda se encontrem fenômenos de liberdade criativa,as barreiras são maiores.

Do meu ponto de vista os espaços para outsiders como eu devem c ser buscados.Muita gente critica os exemplos que eu ofereço do surgimento da cibernética moderna,a fundação da microsoft,mas eu mantenho a minha interpretação de que o microcomputador foi inventado numa garagem.

Dependendo do grau de comprometimento com este controle e de suas disposições pessoais,o intelectual pende para a liberdade ou para o controle;para o debate democrático com o outsider ou com a sua repressão;pende para uma convivência tranquila ou sofre com a inveja e com o desejo de supressão do outro.Não é preciso pensar muito para saber para onde vai Eco(e seus sicários).

A democracia não são só eleições.O estado democrático não são só os organismos de produção de conhecimento reconhecidos por ele:é a oportunidade permamente dada a todos de produzir.Nem todos chegam à escola e mesmo que cheguem ,o condicionamento da liberdade de produção a um diploma fere a democracia.

Foucault afirma que se hoje não há repressão física sobre a sociedade,há outras ,inclusive o anátema dos intelectuais,da autoridade intelectual,que assusta a muitas crianças(menos a mim).

E este constrangimento não se restringe à direita não,mas à esquerda,que é ,não raro,mais violenta.

Freud explica:acima de tudo a manifestação de Eco,jogada frequentemente na minha cara,revela inveja,desejo de poder e de não ser contestado e ,acima de tudo,uma ignorância da sociologia ,tipica destes scholars especializados modernos,porque se nas redes há os imbecis,há outros produzindo,se manifestando com correção,exercendo o seu direito de palavra.O problema é que a midia e as radios no seu âmago,querem popularidade e dinheiro e só escândalos,algo escabroso ,propiciam atenção dos assistentes às programações.É um conluio entre a população desinteressada e a midia ,auxiliada por estes intelectuais que não querem ser ameaçados.Há um traço de união entre Umberto Eco e o apedeuta da rua,um nexo dialético até.Mas setores da sociedade civil ,no afã de tornar a democracia refém,incluindo a esquerda,se unem a esta aliança do mal.Do mal e da burrice,pois bastaria ter um pouco de bom-senso e não conhecimento sociológico para perceber que nas redes,tanto quanto na vida,há bons e ruins.Umberto Eco falou uma burrice explicada(e ocultada) pela exigência psicológica de excluir os outros.

Falar em burrice e para terminar,ele não disse que nivelava(ouviu menezes) ,que as redes nivelavam,mas que pululavam imbecis,o que ,como eu expliquei acima e volto a explicar até entender ,não é verdade.




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