A crise brasileira
Cada um analisa esta crise a partir de seus fundamentos
metodológicos próprios. Nas ciências sociais o ponto de vista conta. Na vida
cotidiana os critérios são os da economia capitalista, que chama esta“ ciência
explicativa” de Economia, quando já a denominou de Economia Política.
Isto acontece porque o regime capitalista se tornou dominante
e ,com o chicote debaixo do braço, estabelece as balizas da compreensão destes
desequilíbrios recorrentes do sistema.
Contudo, não há razão para que a esquerda ,com toda sua tradição, siga este caminho. Ela o segue
por razões a que eu já me referi criticamente em outros artigos: no fundo ,no
fundo ,a esquerda aceita, por individualismo e interesse pessoal, que ela
identifica erradamente com o interesse de todos, o cientificismo das
disciplinas especializadas ,vendidas como definitivas pelas universidades.
A esquerda sucumbiu ,eu já expliquei, aqui no Brasil, depois
da anistia ,a este esquema que se cristaliza nas pós-graduações
modernas,ultra-especializadas.
Mas o marxismo, ao investigar a causa do descalabro no
monismo econômico ajuda. Toda a
discussão se faz em termos econômicos e não em termos políticos , como o
próprio Marx ensinara no século XIX.
Mas a economia ainda é aquela: política . E dentro da política
estão as classes, as ideologias, os
valores que jogam um papel decisivo, por debaixo dos acontecimentos que estamos
observando.
A esquerda, importando de modo canhestro o modelo chinês,
houve por “ bem” acreditar que só o consumo das classes ditas produtivas(os
operários)sustentaria o sistema econômico ,de fomento da capacidade produtiva
nacional. Então de modo vário criou oportunidades variadas para que as classes
menos favorecidas consumissem.
Este esquema simplista tinha um limite, para quem conhece a
economia capitalista, principalmente
esta,autárquica,do Brasil ,e certamente o PT sabia.
Uma hora o crédito não teria contrapartida na produção e o
que se deveria fazer era segurar o
consumo com a alta de juros ,mas por
motivos...políticos (demagógicos[de
sustentação político partidária])tal não foi feito. O ano decisivo foi
2013,ainda com os gastos dos eventos esportivos.
As pedaladas fiscais, a incompetência de Dilma, sugaram as reservas nacionais e dos estados, através
da dívida pública e a emissão de moeda também teve um limite, obviamente.
Como eu já expliquei em outro artigo faltou o outro lado da
questão, que é o investimento na produção e em todas as classes nacionais,
inclusive a classe média, tida como inimiga dos operários, numa visão
ultrapassada do marxismo ortodoxo,
seguida pela esquerda brasileira até hoje.
O resultado é que a classe média está achatada, sem condições
de pagar mais impostos e em todo este esforço de recuperação econômica, esta
impossibilidade tributária jogou para a
previdência a tarefa de compor os buracos fiscais do governo.
Não é verdade que foi por atuação de Temer que a inflação
caiu. Ela caiu por causa da recessão e
agora, no inicio de 2017 será preciso
baixar os juros (além de outras medidas)para fomentar de novo o consumo.
Mas esta situação é caudatária daquilo que o PT deixou desde o primeiro governo
Lula:recessão.
O que a esquerda velha não consegue entender é que mudança
estrutural depende do projeto de nação,depende muito mais do que de
hegemonia,mas dos liames nacionais,dos elos de consciência,da homogeneidade de
propósitos quanto a um determinado objetivo.
Só assim se pode carrear uma grande quantidade de pessoas para
atingir o que se quer.Não uma classe só,não favorecendo um setor só de uma
sociedade complexa.O orgulho desta esquerda era fazer o mesmo que os chineses
supostamente(porque não é verdade também) estão fazendo:criar uma classe nova.O
PT com este consumismo da classe c vendeu a falsa idéia de que uma nova classe
surgiu,como se em 5 anos isto fosse possível.O mesmo se deve dizer dos chineses
que não estão falando a verdade quanto à criarem uma classe média igual à de Nova
York.O dia que isto acontecer é bem provável que o regime chinês caia.Isto é
uma previsão de Trostski,um mentor indireto de Deng Xiaoping.O simples
aparecimento em 89 de um pequeno setor médio já deu no que deu...
As classes altas,que já existem na China,se adaptam a qualquer regime,masas classes médias precisam,até por necessidade,consumir e exigem
direitos de fruição destes bens os quais as levam a querer mais e mais benesses.Se esta
classe tiver força,for numerosa,difícil não entrar,no mínimo,em acordo com ela.
Estas transposições são os vícios recorrentes da esquerda que
não se volta para o seu país,não o estuda,não vê as suas
especificidades.Analisando só a mediação produtiva,econômica, e identificando
em outros lugares um maior avanço, querem aplicar os seus princípios sem verificar que só pela imposição ilegítima é
que isto se dará.
Nós vivemos num período de amadurecimento da democracia,que não está
acontecendo a partir de um centro dirigente,mas às cambulhadas,do jeito que dá.O
perigo que eu vaticinara,já está aí:uma situação econômica que só vai ser
resolvida em 10 anos.Mas o pior é que ela não amadureça.