sexta-feira, 3 de agosto de 2018

O problema da democracia


Quando eu digo que a democracia não é só formal todo mundo me acusa de continuar sendo marxista e defender o regime de partido único.Quando eu digo que quem diz isto não entende nada de história,de teoria politica e de marxismo,me chamam de pretensioso e gabola.
Eu canso de ouvir por aí esta besteira:Pondé e outros jornalistas  dizem que a democracia é o regime da argumentação e que o marxismo nega isto ,no espirito totalitário daquilo que Marx disse.
Vamos esclarecer ,por partes, e é por isto que eu afirmo que este intelectual especializado e jornalista sem conhecimento,acaba fazendo o mesmo que todo militante de esquerda faz sempre:desinformar e distorcer.
Pois desde o século XVIII,na Idade burguesa(não comunista),a democracia busca,diferentemente dos gregos, mecanismos de sua efetivação como regime capaz de solucionar demandas sociais.Para os gregos sim a  democracia era só argumentação,porque todo mundo estava de antemão no seu lugar,o homem livre e o escravo.O homem livre decidia as questões previamente definidas de sua necessidade de cidadão.As demandas eventuais derivam  desta sua situação e se resolviam segundo a visão pré-dada dos senhores.Não havia demandas do “ povo” ou do escravo.
Na idade moderna(idade burguesa,não comunista),a partir da visão radical de Rousseau a questão da soberania popular,de quem representa quem(em Montesquieu)põe o problema das demandas sociais.Aos poucos,mas coloca.Já não é a relação com o escravo,com a não pessoa,mas com o “ povo” ,com a soberania,que fundamenta o estado moderno.
Dizer,então,que a democracia é só argumento,não condiz com a realidade concreta do mundo e nem com a sua formalidade,que a ela está indissoluvelmente ligada.Não existe democracia sem estado de direito,sem formalidade.
O estado moderno de direito põe certas obrigações sociais à democracia.Ela cumpre?O Estado cumpre?As demandas,que no mundo antigo eram extácticas,agora são dinâmicas e crescem.Quando Rousseau,Montesquieu,Locke formularam os seus princípios refletiram esta realidade,que já se impunha na sociedade burguesa.O crescimento é a natureza das coisas na vida social e portanto não há como defender um modelo social parado,todos têm que crescer,todos têm que participar do processo sócio-político-econômico.
Assim sendo a democracia moderna,por instigação da burguesia não tem como prescindir de algo mais do que a pura formalidade.Ela precisa se condicionar pelo social,pelo compromisso coletivo(que não é coisa de comunista)que une o individual a  ela.
Finalmente,o marxismo.Conforme eu tenho dito à farta aqui,Marx condicionava o comunismo ao fim do estado.Está em “ O Estado e a Revolução” de Lênin.Mas Lênin criou um estado totalitário,totalmente contraditório aos textos que ele mesmo compulsou.Esta contradição é decisiva,mas serve ,a sua exposição,para não associar tão diretamente o pensamento de Marx com o totalitarismo que veio depois.
Qualquer idéia,qualquer modelo, pode ser base de um regime totalitário,mas ao se fazer este tipo de associação com Marx revela-se desconhecimento da matéria sobre  que se fala e isto é um comportamento não apenas cínico ou de ignorância,mas atende a interesses políticos precisos nos dias de hoje do Brasil,da direita,com a ajuda da esquerda,quais sejam, o de manter o povo brasileiro definitivamente alienado do conhecimento e ao sabor da manipulação religiosa,aliada à privatização da política.
Isso casa com as minhas análises desde 2013 ,após o péssimo governo do PT.A direita identificou a possibilidade de ,levantando mais uma vez o espantalho do comunismo e seus crimes(acrescidos agora da ameaça gayzista da “ ideologia de gênero”),para cristalizar um medo pânico,que fundamenta(como fundamentou no passado)um projeto de ditadura.
Mas o Brasil é um país industrial que precisa do conhecimento para crescer.Ele não é um país agrário,como sonhou um dia Eugênio Gudin.Ele é um país colonizado ou que sofre ainda com as mazelas do antigo colonialismo e do novo(Estados Unidos).
Para isto não há e nem pode haver contradição entre o brasileiro e o conhecimento,o brasileiro e a democracia,porque terá que fazer escolhas fundamentais.


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