domingo, 24 de maio de 2020

Apóstolos nos(me )ajudem III


O pacto do futuro

Continuo analisando os acontecimentos de hoje,pelo passado,ou a partir dele.”O passado é o prólogo”,diz Shakespeare.Compreendendo o passado é possível redirecionar o presente(dasein),especialmente quando ele é ainda influenciado pelo passado.Muitos fariam objeções a esta conexão:passado que é passado é aquele que não influencia mais,não tem mais efeitos no presente.Mas esta é uma questão escolástica,porque tendo eficácia ou não ele é sempre,ainda que potencialmente,essencial para quem vive no presente,seja como história ou seja como parte real do presente.
Após o governo de Dilma, 64 voltou,a guerra-fria voltou.Dilma comungava de uma visão de contestação da ditadura completamente diferente daquela que eu tinha quando participei do comicio das diretas.
Ainda que entendesse então e agora que as reparações são justas,digo e repito que o principio de colocar o Brasil e a sociedade acima dos interesses pessoais conflita com o da justiça que estas reparações representam.Mas há momentos na História que é preciso um aprofundamento maior nas questões para evitar que ,como agora,o presente (e a democracia)fique refém do passado.
Como a esta altura da vida solucionar o problema palestino/israelense?Como resolver os problemas de reparações na antiga iugoslávia?Os casos históricos de crimes politicos,perpetrados pelo estado devem ser reparados.Deve haver ressarcimento em relação às  vítimas,inclusive as vitimas da esquerda.Mas numa situação de crescente de delirio de vingança,não.
Mas ao longo da história estes ressentimentos são usados para os mais diversos fins politicos e acabam se prolongando de uma maneira infinita e … insolúvel.
A questão dos crimes cometidos contra os guerrilheiros brasileiros era para ser uma questão jurídica,histórica e acima de tudo  nacional.A esquerda  e os partidos comunistas,os mais atingidos,no tempo da redemocratização, se comprometeram a não  enveredar pelo caminho do revanchismo,da vingança,mas o que se vê é que toda a questão da violência do estado  contra o cidadão parece se resumir no problema partidário.Toda a  problemática de tortura institucional parece se resumir  ao problema destes partidos comunistas.Não parece ser um problema histórico do Brasil,muito antes do comunismo chegar no Brasil.
Quando vejo estas coisas eu me lembro que levou muito tempo para as pessoas entenderem que não só os judeus foram massacrados pelos nazistas,embora fossem maioria esmagadora.
É natural e compreensível que aquele que é injustiçado se vitimize   e que caia na onipotência de considerar tudo referenciado a si,mas a busca de reparações só se justifica,se não se quer cair no revanchismo,na defesa da cidadania e do estado direito,fato que é afeito a todos.
A luta para reparar os crimes da ditadura é para evitar que a cidadania no futuro seja golpeada novamente.Ela só tem legitimidade dentro da intersecção estado/sociedade,o corpo politico,onde aquilo que acontece a um cidadão atinge a outro,mesmo desinteressado.Mas a reparação não é uma forma de chancelar a proposta dos comunistas,assim como a tortura impingida a eles ,legitime co comunismo e o socialismo real.São coisas diferentes.
A presidente Dilma e a esquerda têm todo o direito de buscar esta reparação,mas dentro de limites que eles não reconhecem como necessários,a começar de uma visão consequente da cidadania.
A esquerda brasileira nunca abandona as premissas proto-marxistas de que a busca do  estado de direito e da cidadania no fundo encobre a exploração.A esquerda instrumentaliza a lei e a norma,só considerando cidadania aquilo que se conecta diretamente com os direitos sociais,menosprezando o aspecto formal.Ela só se adianta um tiquinho da visão de Lênin em “A doença infantil”:não usa a lei e a democracia,mas a submete a um critério externo a ela,que ,afinal,a põe em perigo ,abrindo espaços para uma “ democracia maior”,a ser obtida autoritariamente.
Este tipo de distorção que o PT e  a esquerda em geral não abandonam se viu no esforço do presidente Lula de abrir “ a caixa do judiciário”,atitude que desandou e que foi o inicio do fim de Lula.Eu vou tratar disto  em outro artigo.
O que quero ressaltar é a necessidade de um novo pacto para solucionar em definitivo o problema das reparações e de quebra desvincular o exército deste ranço de se colocar contra a cidadania.Em toda a crise existe uma oportunidade de delimitar uma época e construir outra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário