terça-feira, 7 de setembro de 2021

Porque não tenho falado de futebol

 

Porque as pessoas não compreendem bem o arco de interesses que eu tenho e a sua inter-relação e ficam dizendo que é muita coisa que o futebol não se integra no meu projeto.

Pelo contrario ,o futebol é uma manifestação cultural,histórica,politica.Nada se reduz a si mesmo,muito menos o futebol.Qualquer coisa que exista é parte de um todo ,é um ponto de intersecção de diversas mediações.

Lógico que se pode escolher uma delas e ir sempre no caminho,mas a minha perspectiva aqui é buscar o todo,o todo possível,até porque ,como pesquisador em filosofia tenho que ter esta visão deste problema.

No entanto aquela pessoa que se fixa numa mediação só ,embora se profissionalize ,perde muitos dos elementos constitutivos do objeto em análise.

E mais do que isto não percebe muitas das consequencias do seu fazer profissional.Quando alguém se forma numa universidade quer apenas fazer bem o seu trabalho e ganhar o seu dinheiro,mas as referidas relações e intersecções obrigam a considerar,obrigam o profissional a considerar outras questões,para além de chegar num escritório e voltar para casa depois.

O futebol brasileiro se profissionalizou ,mas ele mudou a história do Brasil e por tabela as relações politicas do Brasil com o mundo e também e principalmente as relações comerciais.

Mas isto tudo só é possível porque o Brasil mudou através do futebol,saindo do gueto,do canto.

Assim como no futebol,em outras atividades,por mais que alguém seja profissional a melhora da sua atividade,que é uma exigência, extrapola pura e simplesmente a obrigação profissional.

Deste modo a análise do futebol,bem como de qualquer atividade, não prescinde,para ser a mais exata possível,de considerar outros elementos e mediações aparentemente sem nada a ver.

Existe explicação para o que acontece hoje no futebol brasileiro,mas vendo só o aspecto imediato,profissional,não se conseguirá extrair as razões dos fatos.

Em todos os lugares se vê que o futebol brasileiro está perdendo suas raízes culturais distintivas,em favor do dinheiro fácil,da reprodução continuada do capital,passando por cima da sua fonte geradora:o esporte com suas características culturais,sociais e históricas e que levaram o Brasil a ser um país reconhecido e entrar na comunidade internacional.

Isto só foi possível proque o Brasil guardava uma identidade diferenciadora em relação aos outros países.Ele trazia riqueza,algo mais a esta comunidade.

O que se vê hoje é uma mudança de época.Costuma ser natural que uma geração substitua a outra e que neste processo uma época seja superada por outra,mas não raro ,dependendo das condições culturais e históricas é mais que legítimo pensar numa continuidade transgeracional.

É assim com o futebol no Brasil,porque ele expressa a média ética e psicológica do povo brasileiro que ainda predomina ,mas está sendo progressivamente excluida pela manipulação que o dinheiro ligado ao futebol do primeiro mundo e de alguns lugares ,especificamente o mundo árabe e a China,está fazendo.

Não vou repetir análises feitas por mim em outros artigos.O que quero acrescentar é que com esta exclusão a midia ligada ao futebol está sendo progressivamente deixada de lado.

Uma vez que o povo brasileiro não vai mais aos estádios e não estou me referindo à pandemia,toda a ambiência em torno do espetáculo fica falando e narrando para o vazio.

Mas o que é mais escandaloso ,mas muito natural no Brasil,é que este entorno contribui para tanto,na medida em que,como eu disse acima,só olha a ponta do nariz,o aspecto meramente profissional do futebol e horribili dictu , o aspecto meramente financeiro.

A vitória na vida é o crescimento do capital no bolso,mas o capital que impulsiona muitas vezes o progresso,dependendo do seu uso,neste caso está destruindo o futebol e parte essencial do Brasil,aquilo que o Brasil construiu a partir de 58.

O povo brasileiro continua em grande parte sendo aquele que tanto encantou o argentino gringo Doval:irreverente ,cáustico sem letalidade e costumeiramente liberal.É justo que se busque a continuidade da tradição futebolistica, a ginga,a irreverência,porque elas não morreram.Mas podem vir a falecer se estes modos de condução do problema continuarem e se não houver um recuo quanto a esta relação carnal da midia(principalmente rádio)com o poder e o dinheiro.

O grande risco é que na voragem do tempo o povo brasileiro se modifique,se adapte,se transmude em europeu,esquecendo o futebol,no que seria uma derrota cultural histórica.E isto já se vê na relação com a seleção brasileira.Se isto acabar o capital também acaba.Aliás para o Brasil ele nem é tão importante ,porque quem leva o que o Brasil produz são só chineses,europeus e árabes.

Não tenho falado sobre futebol porque estas minhas ponderações são vistas como comunismo,apoio à esquerda,capitulação diante do movimento do lgbtqia+ etc,etc.mas é só defesa da capacidade produtiva do povo brasileiro,segundo princpios liberais,de Locke.

Mas vou tentar recomeçar.


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