Petição de Principio
Tem gente que fica chateada porque uso muito o pronome “eu”,às vezes “ euzinho”.A minha vida toda eu “ aprendi” a usar o pronome “ nós”,como revelador das minhas carências (in-)satisfeitas e como projeto de vida.
Todo mundo sabe que fui defensor do socialismo real,fui comunista (ainda tenho um pezinho neste último),na juventude e em todo o século XX.
Adorava aquelas propagandas de Garibaldi em que ele ressaltava o nós ao invés do eu: “não diga eu,diga nós´”.Mas,quer queiramos ou não ,saímos da infância.Talvez Nelson Rodrigues tenha razão ao recomendar aos jovens que “envelheçam”.
Por baixo desta “infantilidade” está o desejo de se integrar ,de fazer parte de um movimento,que tão mobilizador,parece previamente vitorioso.Mas dialéticamente falando subsumir a individualidade no coletivo não é certo nem possível e sempre que se força ,o problema está feito.
Os meus artigos têm exposto a minha compreensão de que a subsunção do indivíduo cria as maiores distorções,da psicologia das massas ao totalitarismo.
Em função disto a minha tendência ,hoje,é priorizar a individualidade,a autonomia do indivíduo ,propondo uma relação mais equilibrada entre o coletivo,que é uma abstração ,e o indivíduo,que é real.
O equilibrio se dá pelas mediações entre este indivíduo e o estado,mas também ,a profusão de mediações revela incapacidade do coletivo e do indivíduo de se governar e dar sentido à sua vida.Muito menos a pura inserção deste último num projeto abstrato está apta a garantir um sentido coletivo ,protegendo ao mesmo tempo o indivíduo.
Sendo dominado por estas reflexões todos os dias caiu-me nas mãos o romance do dissidente russo Zamiatin “Nós”,em que ele analisa estas questões.E como decorrência desta leitura tomei a decisão,dentro do meu estilo de escrever,de fazer o oposto do que fiz na vida e ressaltar o indivíduo,a começar por mim.
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