sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Liberdade e Linguagem



Quando  Freud  descobriu  o  elemento  patológico  da memória,que revelava o  trauma  ,origem  da  neurose,através  da  análise  dos sonhos,pensou  ter  criado  ou descoberto  o  círculo  interpretativo  da  subjetividade,que  a curava e  abriu  caminho  para  a  construção  a  partir  do  sujeito,do  seu  sentido.
Mas  não  pensou  que  este  círculo  hermenêutico  pudesse  ter algo a  ver  com  a  liberdade.Dêem  uma  olhada  neste vídeo  abaixo,um trecho  do filme  Malcolm  X,com Denzel  Washington :



Viram?Da  mesma  forma  que  Malcolm  está  oprimido  na  prisão,ele  se  sente  oprimido(também  talvez  neurótico)pelo  conceito que  lhe é  imposto de  Deus,um Deus  semita  e  branco,numa  região em  que a  cor  da  pele  é  igual a  de  Malcolm.
Eu não  consegui  achar  um trecho  anterior  em  que  o seu  mentor  nesta  mesma  prisão mostra um  dicionário  ,em  que todas  as  palavras  boas  são  associadas  ao  branco enquanto  que  o  mal  é  associado  à  palavras  designativas  do  negro e  do  preto.
Após  Freud  a  linguagem  se  tornou  um  meio de afirmação  da  liberdade  humana.Antes  dele a  liberdade  era  mais  ou  menos  identificada  ao  dito de Voltaire no  Dicionário  Filosófico,no  verbete  Liberdade:”minha  liberdade  consiste  em  ir  e vir    desde  que  não  sofra  do joelho”.
Como  Foucault  demonstrou,  esta  afirmação  da  liberdade  burguesa  não  significa  nada na  prática,porque  outras  barreiras  se  colocam  neste  ir  e vir,como  as exclusões econômicas e  sociais.
Diante  da  impossibilidade  imediata  de  fazer  justiça ,ou  seja,de  superar esta  nova  forma de opressão,a  linguagem  assumiu  um  papel decisivo.
Porque na  falta  de liberdade  real, a linguagem,ainda  mais  numa  época  midiática,serve  como  um  transcendente afirmativo  da   “criatura  oprimida”.
Muitos,para   depreciar  Freud,diziam  que  ele  não  tinha  feito  mais  do  que criar um “  confessionário  ateu”,mas isto é uma  grande  coisa,porque  agora  não  é  preciso  a tutela  de um sacerdote  para  construir valores  subjetivos  capazes  de libertar e  curar  a  subjetividade  doente/oprimida,numa  relação  mútua  de  condicionamento e  reprodução.
Agora  é  preciso  ser critico,capaz  de  não  aceitar  as  coisas  como  são  e  se  preparar  na  atualidade  para,pelo  menos,garantir a  afirmação do oprimido,através  de  sua  singularidade,destacando-o  do  contexto  opressor,vendo-o  como  transcendente.
Quando  Malcolm  contesta a  imagem  loura  e  de olhos  azuis  de Cristo ele  está  desconstruindo um  preconceito,um  discurso  político  que  prepara  e garante a  sua  opressão  real.
De lá  para  cá a questão  tem se tornado  mais  complexa,porque ,apesar  da  possibilidade  do  discurso  subjetivo,como  definir  o  que é atentado à  liberdade  e defesa  da  privacidade?O  que  é  válido para  um  não o  é para  o outro.Qual  critério usar?
Anos  atrás o  jogador  Grafiti  do São  Paulo  foi  chamado  na Argentina  de  macaco e  teve  gente que  disse  ser  isto uma  simples  ofendícula e  que  a  sua  reação  foi a de um fresco.Aranha  recentemente  sofreu  um  pito  parecido  de Pelé.
Um homem,um  macho,que  tem  um pênis,tem que  aguentar  qualquer  coisa,senão  quiser  perder  a  sua condição,que  se  define supostamente  por  sua genitalidade?É a  genitalidade  que  define  o  macho?
Brincar  com  o  viado,fazer  piadas,implica  em  uma  forma de  dano  ao  mesmo?
O  que escolher:o  direito  de satirizar   Maomé  ou respeitar a  religião?
No  artigo  anterior  eu  já pus  alguns  pródromos,na  dicotomia  arguemento/intocabilidade,dir-se-ia,proteção/violação.
Se  digo que  o  meu  profeta  é único,é  maravilhoso  e é puro,não  transa  com homens,nem com  animais,dizer  o  contrário ofende  a minha  fé?
Observem  esta  imagem:


Ela é ou  não  ofensiva?
A Fé  de uma  pessoa  é  atacada  por  ela?A pessoa  é  atingida em  sua fé por  causa  dela,ou    ameaçada  a sua  intocabilidade?

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