quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

O humor satírico.



Desde priscas   eras  o humor satírico  sempre  foi  muito   ligado  ao poder e  à política,porque a sua natureza mais   instigante  e  corrosiva  só se  realizava  e  realiza destruindo   as mentiras e  falácias  do poder.
Foi  assim  desde   Juvenal até   o Hebdo,passando  pelo  nosso  “ boca do  inferno”,Gregório de Mattos.
Quando  a sátira  atinge  os costumes ela se  torna  muito individualista   e  corporativa,muito  ligada ao  interesse  particular  do satirista.Eu,particularmente, não gosto  deste tipo  de  humor.
Humor,para mim,em  todas as  épocas,é aquele  que  põe  diante  de todos  os homens(inclusive  do  humorista)a  sua finitude temporal e  física.É  o humor  que mostra  a  futilidade  de  certas  preocupações humanas.
Mais do que  isto,no confronto com o poder,esta característica é mais importante  do  que a  coragem.
Nós conhecemos dois exemplos de filmes  que tratam  do  problema do  riso  na  história.O filme  “O nome  da  Rosa”,baseado no livro de Umberto  Eco, trata de uma  suposta  segunda  parte  da “Poética” de Aristóteles,que trataria  do  riso e que foi suprimida pela Igreja Católica dominante,que se sentia atingida.
No  filme  nós  vemos  revelado  o  fato de que na história da  ascensão  do  cristianismo  o  riso ocupou  um  lugar decisivo  na  sua  estratégia.Quem não  se lembra da história do leão de Ândrocles?Ândrocles,um escravo  romano convertido, teria tirado um espinho doloroso da pata  de um  leão  e  este  ,por isto,ficara  amigo dele.Existe  um filme também,com Jean Simmons e Victor Mature,que narra estórias iguais a esta  na  época das grandes perseguições.
Um outro grande filme,sobre o qual já foi feito um documentário ,”O Grande Ditador”, opõe o  homem comum aos poderosos de todos  os tempos,representados por  Hitler,o  mais letal  de  todos.
No caso de  Chaplin,não  se vai  dizer que o  seu  humor depende da  existência de um Ditador para prosperar.No caso do cristianismo o humor  se apresenta diante  de uma  inevitabilidade e a  sua função  é garantir,se possível,a sobrevivência(das idéias).
O  humor  satírico do hebdo,como  o do Pasquim,como o  do  Casseta  e  Planeta  são legítimos,mas às vezes eles  padecem de  uma pretensão  que,não  raro,atrapalha a função mais maravilhosa   do humor,a que me  referi.
O  Pasquim fazia uma sátira  extraordinária dos poderosos,mas às vezes  ,ele  se colocava na  mesma  posição  deles.Derrapavam.Foi  assim com  Simonal,chamado pelo jornal  de  dedo-duro(sem provas-se fosse hoje  Simonal ganhava  uns 100  mil reais de indenização).
A sátira serve  para chocar a  sociedade no afã    de criar  um escândalo que  só favorece ao  escandalizador.A linha entre o humor e  o oportunismo se rompe  freqüentemente  .
Continuo a  dizer que o humor  é legítimo,se toca nos poderosos  e se discute valores,mas é  preciso  ter  cuidado  com o  seu  significado multi-facético e com o fato  de o  humorista   se colocar  fora da crítica.

Vejam  o exemplo  de sátira de Chaplin  a  Hitler
Chaplin e Hitler

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