Porque
as pessoas não compreendem bem o arco de interesses que eu tenho e a
sua inter-relação e ficam dizendo que é muita coisa que o
futebol não se integra no meu projeto.
Pelo
contrario ,o futebol é uma manifestação
cultural,histórica,politica.Nada se reduz a si mesmo,muito menos o
futebol.Qualquer coisa que exista é parte de um todo ,é um ponto de
intersecção de diversas mediações.
Lógico
que se pode escolher uma delas e ir sempre no caminho,mas a minha
perspectiva aqui é buscar o todo,o todo possível,até porque ,como
pesquisador em filosofia tenho que ter esta visão deste problema.
No
entanto aquela pessoa que se fixa numa mediação só ,embora se
profissionalize ,perde muitos dos elementos constitutivos do objeto
em análise.
E
mais do que isto não percebe muitas das consequencias do seu fazer
profissional.Quando alguém se forma numa universidade quer apenas
fazer bem o seu trabalho e ganhar o seu dinheiro,mas as referidas
relações e intersecções obrigam a considerar,obrigam o
profissional a considerar outras questões,para além de chegar num
escritório e voltar para casa depois.
O
futebol brasileiro se profissionalizou ,mas ele mudou a história do
Brasil e por tabela as relações politicas do Brasil com o mundo e
também e principalmente as relações comerciais.
Mas
isto tudo só é possível porque o Brasil mudou através do
futebol,saindo do gueto,do canto.
Assim
como no futebol,em outras atividades,por mais que alguém seja
profissional a melhora da sua atividade,que é uma exigência,
extrapola pura e simplesmente a obrigação profissional.
Deste
modo a análise do futebol,bem como de qualquer atividade, não
prescinde,para ser a mais exata possível,de considerar outros
elementos e mediações aparentemente sem nada a ver.
Existe
explicação para o que acontece hoje no futebol brasileiro,mas vendo
só o aspecto imediato,profissional,não se conseguirá extrair as
razões dos fatos.
Em
todos os lugares se vê que o futebol brasileiro está perdendo suas
raízes culturais distintivas,em favor do dinheiro fácil,da
reprodução continuada do capital,passando por cima da sua fonte
geradora:o esporte com suas características culturais,sociais e
históricas e que levaram o Brasil a ser um país reconhecido e
entrar na comunidade internacional.
Isto
só foi possível proque o Brasil guardava uma identidade
diferenciadora em relação aos outros países.Ele trazia
riqueza,algo mais a esta comunidade.
O
que se vê hoje é uma mudança de época.Costuma ser natural que uma
geração substitua a outra e que neste processo uma época seja
superada por outra,mas não raro ,dependendo das condições
culturais e históricas é mais que legítimo pensar numa
continuidade transgeracional.
É
assim com o futebol no Brasil,porque ele expressa a média ética e
psicológica do povo brasileiro que ainda predomina ,mas está sendo
progressivamente excluida pela manipulação que o dinheiro ligado
ao futebol do primeiro mundo e de alguns lugares ,especificamente o
mundo árabe e a China,está fazendo.
Não
vou repetir análises feitas por mim em outros artigos.O que quero
acrescentar é que com esta exclusão a midia ligada ao futebol está
sendo progressivamente deixada de lado.
Uma
vez que o povo brasileiro não vai mais aos estádios e não estou me
referindo à pandemia,toda a ambiência em torno do espetáculo fica
falando e narrando para o vazio.
Mas
o que é mais escandaloso ,mas muito natural no Brasil,é que este
entorno contribui para tanto,na medida em que,como eu disse acima,só
olha a ponta do nariz,o aspecto meramente profissional do futebol e
horribili dictu , o aspecto meramente financeiro.
A
vitória na vida é o crescimento do capital no bolso,mas o capital
que impulsiona muitas vezes o progresso,dependendo do seu uso,neste
caso está destruindo o futebol e parte essencial do Brasil,aquilo
que o Brasil construiu a partir de 58.
O
povo brasileiro continua em grande parte sendo aquele que tanto
encantou o argentino gringo Doval:irreverente ,cáustico sem
letalidade e costumeiramente liberal.É justo que se busque a
continuidade da tradição futebolistica, a ginga,a
irreverência,porque elas não morreram.Mas podem vir a falecer se
estes modos de condução do problema continuarem e se não houver um
recuo quanto a esta relação carnal da midia(principalmente
rádio)com o poder e o dinheiro.
O
grande risco é que na voragem do tempo o povo brasileiro se
modifique,se adapte,se transmude em europeu,esquecendo o futebol,no
que seria uma derrota cultural histórica.E isto já se vê na
relação com a seleção brasileira.Se isto acabar o capital também
acaba.Aliás para o Brasil ele nem é tão importante ,porque quem
leva o que o Brasil produz são só chineses,europeus e árabes.
Não
tenho falado sobre futebol porque estas minhas ponderações são
vistas como comunismo,apoio à esquerda,capitulação diante do
movimento do lgbtqia+ etc,etc.mas é só defesa da capacidade
produtiva do povo brasileiro,segundo princpios liberais,de Locke.
Mas
vou tentar recomeçar.