Em
“A Origem da família ,da Propriedade e
do Estado” Engels expressa a sua concepção de amor livre :o amor livre ,com
base em seu fundamento, é aquele que provém do sentimento amoroso ,sem intervenção
de qualquer outro poder ou mediação que não seja esta,a do amor .
Na
visão de Engels a pura liberdade amorosa dispensa o “imóvel”,as garantias
econômicas e jurídicas.Aí eu discordo.
Os
encadeamentos amorosos não são seguros ab initio .Eles se modificam,por razões endógenas
e exógenas e este período ,digamos, de experimentação,constituído posteriormente
ao fim do enlace(de namoro,de noivado e do casamento)força compensações.
A
personalidade de Engels se me afigura(como a de Marx)como a de um romântico
idealista,de extração rousseauista:retirou a propriedade e tudo o que dela emana
que a utopia surge no horizonte.
Mas
não é assim que a vida funciona(e certamente prossegue na utopia):há percalços
no caminho,alguns inarredáveis.Uma pessoa como Engels,lá no fundinho,quer se
livrar de problemas que acompanham a humanidade.
No
amor,tão difícil de achar,a tentação do perfeito está ali na esquina(como a
revolução e a utopia).
Se
não se souber ,no entanto ,admitir estas imperfeições ,corre-se o risco de se
tornar um Moisés ,olhando de longe a terra do maná...
O
meu momento inarredável nesta procura é congênere ao que se disse no inicio:eu
nasci num contexto de mediações como as que Engels denotara.Só que no plano da
esquerda:assim como Engels identificou a propriedade e seus efeitos como interrupções
e intervenções ao amor e à paixão(como em Romeu e Julieta)o coletivismo socialista
cumpre a mesma função.
Além
de tudo, estas interposições coletivas ,no final,suprimem uma condição da paixão
e do amor:a privacidade,o intimo.
Comumente,quando
arrumo uma menina ,uma namorada,o mundo todo me cerca:família,religião,amigos.
Sinto-me
como um integrante da família real britânica em que todos atos da vida são
rituais públicos,inclusive os atos pessoais e íntimos.
Eu
já pensei em mandar para a ONU um projeto dando conta de que talvez o problema
da humanidade seja deveras o meu
casamento.
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