Eu tinha prometido falar um
pouco mais sobre a relação entre os comunistas e os cristãos e não cheguei a
dar sequer uma pincelada nisto quando tratei de Palmiro Togliatti e os
comunistas Italianos.A bem da verdade todo o sucesso ,no século XX,dos
italianos se deveu,depois da política do secretátrio-geral,a uma aliança dos
comunistas,já um pouco combalidos,com o cristianismo laico da Itália.Aquele
famoso funeral de Enrico Berlinguer com dois milhões de "
vermelhos",se deveu muito a isto,a uma aliança com a única organização de
massa da História,a religião,afirmação que faço com a convicção de que
olho seguro,inclusive,para o futuro.
Aqui no Brasil,o episódio desta
aliança mais conhecido(mas não o único)foi o de Marighella e os Dominicanos,seguindo
uma tendência geral,que na Itália,tinha aspectos bem fundamentados,mas em
outros lugares,como aqui,funcionava como uma alternativa desesperada dos
comunistas diante do seu não-crescimento e diante do fato de que alguns
religiosos,pela fé,queriam fazer também a revolução.A atitude de Marighella
,depois do 64,revela ,para mim,um certo desespero,de não conseguir
arregimentar e de ver a revolução,aparentemente em curso(não era
verdade),gorar,mais uma vez.
Amigos ,existe uma avaliação da
direita,de que esta aliança,pelo menos no Brasil,tornava a Igreja mais perigosa
para o regime,simplesmente porque,como disse,ela tinha(como sempre teve)massa.Mais
do que isto revelava a fraqueza dos
comunistas,que não cresciam.
Eu sou um homem de
esquerda,não comunista e uma das razões é porque eu concordo
com estas avaliações e acrescento mais uma ,a de que esta aliança é anti-profissional,no
sentido da atividade revolucionária,e oportunista,porque os objetivos e o
método dos comunistas(materialistas)são diferentes do dos católicos.
Quando a revolução russa se
estabilizou ,com Lênin e depois com Stálin ,a relação entre o poder
soviético e a religião sempre se estabeleceu dentro de uma
espécie de gangorra.A violência comprovada sobre a religião
era sobrepujada pela necessidade de aliança e cooptação pelo Estado
Soviético,em face da impossibilidade de destruí-la pela força.Então
fez-se um pacto entre o Estado e a Religião da seguinte forma:o Estado
não mata e a religião não atrapalha o totalitarismo,que ,para
Hannah Arendt,tem como uma de suas origens ela mesmo.
Após Togliatti,Gramsci e o PCI a
relação se tornou doce,igualitária,mas só do ponto de vista
político,porque os métodos e os objetivos,como disse,diferem.O cristianismo
laico não faz contradição entre a libertação terrena e a sempiterna,como
o catolicismo institucional,mas os valores católicos ou cristãos diferem da
atitude revolucionária no sentido de que ,mesmo na revolução,deve
se buscar o " não matarás",o respeito à honestidade e ao bem,o
que não se coaduna com as concepções marxistas de lutas de classes,por
exemplo.
Os dominicanos não tinham
preparação para estas atitudes revolucionárias e ficavam cheios de pruridos
quanto a usar identidades falsas ou a ter que matar trabalhadores comuns em
assaltos a bancos(que já era um problema).Eles possuíam ainda o reflexo tutelar
e hierárquico da igreja institucional,seguindo estes valores .O
caráter tutelar e hierárquico dos religiosos se contradiz com o do
revolucionário,o qual,senão é escravo da vontade,deve ser fiel à
sua norma,à norma da revolução,referência da sua atividade e não deve,muito
menos,ser tutelar ou hierárquico.O revolucionário busca o conhecimento por si
mesmo e se não é anti-institucional necessariamente não pode ser
totalmente institucional,pois isto o paralisa.Ele existe para mudar as
instituições.
Uma das razões pelas quais
Thomas Jeferson achava,acertadamente,que não haveria revoluções na
América Latina,era esta dependência institucional dos católicos,aqui
hegemônica.
Eu não sou contra a participação
do cristão(acho difícil a do católico institucional)na atividade marxista
revolucionária,mas se esta é a que predomina ,o cristão deve deixar a sua
religião como critério íntimo e agir como a atividade
revolucionária preconiza.Como Engels afirmou durante a Comuna de Paris.
Sem isso ,sem este critério prévio,
a revolução pode se tornar um inferno
para o cristão,depois da sua vitória,só havendo o meio fraudulento de
superar isto,como disse acima,uma falsa revolução.
Na democracia tal aliança se torna,como nós vemos ,em muitos
lugares ,um oportunismo atroz,pois se abandona a transformação,usando a massa
cristã para fins só eleitoreiros.Isto não é atual não?
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