segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Marighela e os Curas

Eu tinha prometido falar um pouco mais sobre a relação entre os comunistas e os cristãos e não cheguei a dar sequer uma pincelada nisto quando tratei de Palmiro Togliatti e os comunistas Italianos.A bem da verdade todo o sucesso ,no século XX,dos  italianos se deveu,depois da política do secretátrio-geral,a uma aliança dos comunistas,já um pouco combalidos,com o cristianismo laico da Itália.Aquele famoso funeral de Enrico Berlinguer com dois milhões de " vermelhos",se deveu muito a isto,a uma aliança com a única organização de massa da História,a  religião,afirmação que faço com a convicção de que olho seguro,inclusive,para o futuro.
Aqui no Brasil,o episódio desta aliança mais conhecido(mas não o único)foi o de Marighella e   os Dominicanos,seguindo uma tendência geral,que na Itália,tinha aspectos bem fundamentados,mas em outros lugares,como aqui,funcionava como uma alternativa desesperada dos comunistas diante do seu não-crescimento e diante do fato de que alguns religiosos,pela fé,queriam fazer também a revolução.A atitude de Marighella ,depois do  64,revela ,para mim,um certo desespero,de não conseguir arregimentar e de ver a revolução,aparentemente em curso(não era verdade),gorar,mais uma vez.
Amigos ,existe uma avaliação da direita,de que esta aliança,pelo menos no Brasil,tornava a Igreja mais perigosa para o regime,simplesmente porque,como disse,ela tinha(como sempre teve)massa.Mais do que isto  revelava a fraqueza dos comunistas,que não cresciam.
Eu sou um homem  de esquerda,não comunista e  uma das  razões é porque eu concordo  com estas avaliações e acrescento mais uma ,a de que esta aliança é anti-profissional,no sentido da atividade revolucionária,e oportunista,porque os objetivos e o método dos comunistas(materialistas)são diferentes do  dos católicos.
Quando a revolução russa se estabilizou ,com Lênin e  depois com Stálin ,a relação entre o poder soviético e  a religião  sempre se estabeleceu dentro de uma espécie   de gangorra.A violência comprovada sobre a religião  era sobrepujada  pela  necessidade de aliança e cooptação pelo Estado Soviético,em face da impossibilidade de destruí-la pela força.Então  fez-se  um pacto entre o Estado e a Religião da seguinte forma:o Estado não mata e a religião  não atrapalha o totalitarismo,que ,para  Hannah Arendt,tem como uma de suas origens ela mesmo.
Após Togliatti,Gramsci e o PCI a relação se  tornou doce,igualitária,mas só do ponto de vista político,porque os métodos e os objetivos,como disse,diferem.O cristianismo laico  não faz contradição entre a libertação terrena e a sempiterna,como o catolicismo institucional,mas os valores católicos ou cristãos diferem da atitude  revolucionária no sentido de que ,mesmo na revolução,deve  se buscar o " não matarás",o respeito à honestidade e  ao bem,o que não se coaduna com as concepções  marxistas de lutas de classes,por exemplo.
Os dominicanos não tinham  preparação para estas atitudes revolucionárias e ficavam cheios de pruridos quanto a usar identidades falsas ou a ter que matar trabalhadores comuns em assaltos a bancos(que já era um problema).Eles possuíam ainda o reflexo tutelar e hierárquico  da igreja  institucional,seguindo estes valores  .O caráter tutelar e hierárquico dos religiosos se contradiz  com  o do revolucionário,o qual,senão é escravo  da vontade,deve ser fiel  à sua norma,à norma da revolução,referência da sua atividade e não deve,muito menos,ser tutelar ou hierárquico.O revolucionário busca o conhecimento por si mesmo e se não é anti-institucional necessariamente não pode  ser  totalmente institucional,pois isto o paralisa.Ele existe para mudar as instituições.
Uma das razões pelas quais Thomas Jeferson achava,acertadamente,que não haveria  revoluções na América Latina,era esta dependência institucional  dos católicos,aqui hegemônica.
Eu não sou contra a participação do cristão(acho difícil a do católico institucional)na atividade marxista revolucionária,mas se esta é a que predomina ,o cristão  deve deixar a sua religião como critério íntimo e agir  como a  atividade revolucionária preconiza.Como Engels afirmou  durante a Comuna de Paris.
Sem isso ,sem este critério prévio, a revolução pode se  tornar  um inferno  para o cristão,depois da sua vitória,só havendo o meio fraudulento de superar isto,como disse acima,uma falsa revolução.
Na democracia  tal aliança se torna,como nós vemos ,em muitos lugares ,um oportunismo atroz,pois se abandona  a transformação,usando a   massa  cristã para fins só eleitoreiros.Isto não é atual não?


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