Seguindo o
artigo anterior eu sou,dentro do espirito republicano laico moderno,contra
qualquer forma de proselitismo,de qualquer poder sobre a sociedade civil e
,notadamente dentro da família. Embora,como disse no artigo anterior,a Igreja Católica tenha deixado
muito recentemente de realizar vocações impostas,a parte mais verdadeira do pensamento de Pio XII ,ela
ainda usa mecanismos de intermediação forçada das relações sociais,como ficou
evidenciado em muitos dos discursos do
Papa Francisco. Ele disse que a África(e os outros continentes)deveria ser
construída na base do amor cristão,sem deixar deixar margem para outras formas
de amor legítimas. Apesar de aconselhar
que não haja invasão da privacidade dos homoafetivos,nunca mudou a sua opinião
de que isto é coisa do diabo. Com a posição da igreja contra o controle populacional
ela tem mais influência sobre a sociedade do que o Estado,que é conivente por
razões eleitorais e manipulatórias.
Mas neste artigo
eu quero dizer,no âmbito do espirito moderno de que é a comunidade a base de
qualquer poder,conceito que nasce do protestantismo,mas se amplia em formas não
religiosas,que toda a forma de proselitismo é coisa da idade média mais
obscura.
A preparação do
indivíduo na família,por exemplo,é tida como um direito inalienável dos pais e
estes têm o direito de impor as suas concepções ideológicas ou religiosas,como
derivação disto,mas esta concepção é
uma imposição,como explica o
existencialismo. Psicologicamente,aquele que vem ao mundo recebe a existência
como algo de fora para dentro. Nem Jesus Cristo,na manjedoura,escapou disto,a
menos que ele tenha sido(e isto escapou aos evangelhos),como Buda,que assim que
nasceu,falou à mãe,como gente grande ”Vim ao mundo para aliviar o sofrimento
dos homens”,depois do quê voltou à
condição de bebê ,no berço. Esta situação só tem similar no evangelho ,quando
,em Mateus(pareço um pastor),Maria perde de vista o bendito fruto,para
encontrá-lo,recitando a Torah como rabino. Quando ela reclama ele diz; “ Que
tenho eu contigo mulher?”,demonstrando não malcriação em relação à nossa
senhora,mas consciência do seu papel no mundo,na adolescência,um pouco mais
tarde do que o Sidarta.
Nem se fale na
questão do batismo O articulista que vos fala,ateu ,como seu pai,foi batizado
às escondidas,por sua mãe católica,porque senão algo sério aconteceria...Jesus
foi batizado na idade adulta e a criação deste batismo de recém-nascidos é uma
invenção política de Constantino ou pelo menos começa a ser forjada no
interesse político que este Império
Romano atribuiu ao cristianismo:legitimação do mesmo,pela adesão da
maioria cristã.
Mas tudo isto
permanece hoje,de uma forma oculta,como o mostraria Foucault,nestes conceitos
pseudo-democráticos que a igreja joga cada vez mais e que servem para manter a
situação como está. Pergunto de novo,a quem serve um discurso papal de crítica ao abandono das
populações s e este continua?Enchentes,todo ano,pessoas desabrigadas...Tenho
certeza de que a caridade não é suficiente.
Ora o espirito
de liberdade,se deve surgir desde o momento da existência é não ampliar a imposição que já nasce com
ela,mas começar a oferecer consciência,reconhecendo as limitações claro,mas não
admitindo proselitismo nenhum. O mais impositivo destes proselitismos, a
religião(depois que a ideologia foi embora) vende a sua legitimidade pelo
amor,mas o amor é uma coisa,construída,que não se identifica só com a
religião,pois existem formas de amor ,afeição e sexualidade. A admissão desta
pluralidade é a condição da liberdade de escolher. Assim sendo,por mais bem
intencionados que os pais sejam,o amor paterno só o é enquanto a educação é
feita para os filhos e não para eles e isto só se faz admitindo a escolha dos
filhos,logo,a educação por um valor religioso é obrigatoriamente impositiva,uma
forma de vocação imposta,que só é válida se o sujeito ,se o filho aceita,o
que,muitas vezes,acontece por impossibilidades da criança que se frustra e talvez por causa da relação
inevitável de relação amorosa entre pais e filhos.Para pedir a atenção dos pias
ele aceita a religião Mas em qualquer caso existe o risco geral de repressão
daqueles que discordam,porque as maiorias,ou dentro delas,muitos gostariam de
sair e quando vêem os que saem os atacam ou reprimem,num mecanismo claro que
une repressão e ressentimento.
Quando cristo no
Getsemani pede ao pai que o afaste do cálice ele está revelando esta verdade
existencial que quem sabe surgiu intuitivamente diante dos homens do
passado,segundo a qual existe,pelo nascimento,uma ditadura dos pais,in potentia
e que há que buscar uma superação disso sempre.
Muitas vezes o
cristão, no afã de se aproximar de seu Deus,esquece esta virtude do cidadão,a
liberdade. Ele passa ao largo do Estado,porque Deus é mais importante e nisto a
sociedade perde.
Eu não aceito
nenhuma forma de proselitismo,prioritariamente familiar,porque o maior ensinamento
é a escolha.
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