Segue o Drama
Eu pensei que já tinha visto tudo.Mas não,a coisa
piorou.Depois das acusações mal fundamentadas contra Santos-Dumont, apareceu
uma defesa da elite de Ipanema na questão do tráfico negreiro.Você leitor que
se acostumou na escola a ler os poemas de Castro Alves sobre o horror do
tráfico e sobre as condições da senzala,que leu as narrativas dos escravos que
chegavam da África nos
portos,chorando,foram enganados!Mary Del Priore revelou a verdade:eles chegavam
no Valongo e recebiam flores,doce de leite,perfumes.
Detesto estes professores especializados,cheios de
antolhos.Eles não olham senão para o próprio umbigo.Não vêem a sua função
social enquanto professores,mas só a carreira,só a autoridade.
Os guias que estão veiculados pelo History Channell fazem
parte de uma ofensiva de direita,que,inclusive envolve a direita do movimento
negro,que existe.Aqui um parêntesis:o History Channel vende para o Brasil,passa
no Brasil, e não poderia,como canal que se supõe científico,se prestar a este
papel,de correia de transmissão de interesses dos Estados Unidos,a matriz.
O truque desta série é fácil de identificar:inicialmente alguns
temas já conhecidos academicamente(mas não do público possivelmente),como o
Aleijadinho,Zumbi e Euclides da Cunha,preparam o terreno para a verdadeira
bomba no final!A escravidão não foi tão violenta assim...
Nos últimos anos ficou claro que a elite de Ipanema é
descendente dos traficantes de escravos .Tirando alguns setores judeus e outros
setores democráticos(Chico Buarque mora em Ipanema)Ipanema representa isto.
Pode-se provar que a mentalidade é a mesma quando se vê a reiteração da tentativa
de segregar setores mais pobres do Rio de Janeiro,da praia.Hildegard Angel,irmã
do comunista Stuart Angel,vive capitaneando a idéia de “ privatizar”
a praia(duvido que seu irmão o defendesse ...)e este modelo segregacionista e
desnacionalizador foi “
exportado” para a barra da
tijuca,onde puseram uma estátua da liberdade,que conecta a região diretamente
com os Estados Unidos.Eu já me referi em outros artigos à intenção de emancipar
a barra.A lagoa de Jacarepaguá, a restinga, não vão ser limpas enquanto isto
não acontecer...
César
Maia tentou chamar a Vieira Souto de Avenida Tom Jobim e foi o que se viu...
Tudo
isto compõe um quadro muito claro que serve de moldura para esta reação
ideológica e intelectual expressada por nefandos guias do politicamente
incorreto.E não se iluda o leitor que os Estados Unidos não tenham conhecimento
disso e não interajam...
O
que é ser politicamente correto?Criar um parlamento para fazer leis que não são
cumpridas não é incorreto?Ser bom não é correto?Ser moral não tem validade?
Todo
este pântano que estes professores e estes publicistazinhos estão criando é
justamente para diluir o modelo nacional-democrático que começou a ser montado
com os partidos do segundo governo Getúlio e que foi destruído pela ditadura
militar.
A
esquerda, que não tem vinculação com o projeto nacional-democrático,mas com a
hegemonia da “ classe operária”, joga água neste moinho.É uma disputa entre
elefantes para dominar o Brasil.
Mas
historicamente,a direita ,que não tem fundamentos senão no apelo da
estabilidade,tem mais facilidade de cristalizar o seu projeto com este único
item,diante da situação caótica em que vivemos.O quadro atual permite ,pela
primeira vez,o nascimento de um partido clássico de direita sem a contrapartida
de um trabalhismo ou de uma esquerda ideológica,social-democrática,moderna.Se
isso acontecer é uma das maiores tragédias da História brasileira e ainda se
pode evitar.
A
lógica de todo negociante ,inclusive Al Capone e Lucky Luciano,é que a sua
empresa prospere,em paz.Assim raciocinavam os negreiros.A garantia de paz era
submetida ao imperativo da continuidade do lucro e da exploração.É lógico que
toda a medida de “ liberalização” da vida cotidiana do escravo contribuía.A colaboração
entre as classes,como eu já expliquei,existe na História,mas isto pode ou não
ser bom ou ruim,dependendo da época,lugar ,e objetivos que a cimentam.
No
caso da escravidão ocorre o mesmo que nos campos de extermínio do nazismo.Não
há prova de que no campo de Cracóvia o chefe,Amon Goeth,retratado por Steven
Spielberg,atirando nas pessoas,o fizesse,mas a explicitação expressa uma tensão
real e uma narrativa legítima.Só que não.Os “ soldados políticos” de Hitler
eram ensinados a fazer tudo em paz e escondido(Maquiavel[capitulo 8 de “ O Príncipe”]),para
evitar problemas na matança.
Em
Auschwitz havia uma orquestra(de judeus)para receber os prisioneiros.Esta é a
lógica da escravidão,do negócio.Não é propriamente “ interação de classes” ou “
etnias”,mas NEGÓCIO.
As
descrições dos cronistas de época davam conta de que a chegada dos escravos nos
portos,desde o inicio,era algo terrível,com choro e ranger de dentes.Os navios
negreiros são a antecipação ,nos
mares,de Auschwitz.As pessoas morriam aos montes,vomitavam o tempo todo.Os
cadáveres de famílias inteiras eram jogados no mar.E daí que o negro
escravizava o negro?O sofrimento não é o mesmo?O branco não se beneficiava?
É
vergonhosa esta narrativa sofistica que só prosperou porque o PT dividiu o
Brasil.A classe média,justamente com medo,serve de base para este movimento.
O
processo de embranquecimento do Brasil ,muito intenso na década de 1920,(Nina
Rodrigues,antropólogo ,considerava o negro naturalmente criminoso)representava
uma continuidade com os propósitos da elite da Regência e depois do Imperador Pedro II,que importou a mão-de-obra
européia no Sul do Brasil,antes ,durante e depois da revolução farroupilha..
O
historiador Boris Fausto diz que a unidade e independência do Brasil foram
garantidos pela monarquia,pelos Bragança,para manter a escravidão,o modo-de-produção
escravista.Aliás quando Pedro I foi à São Paulo o seu interesse não era mais do
que manter a província junto ao Império,já que se separasse ,como ela queria,o edifício
todo ruiria.
Mas
porquê a regência e Pedro II tomaram
esta decisão no Sul?Porque o motivo da
Revolução Farroupilha,um dos mais importantes, era a questão da escravidão,a
mudança do modo-de-produção.Ao importar os europeus o problema do trabalho
nesta região deixou de existir e o motivo da revolta acabou,apenas se
deslocando para a questão da república.As lutas no Sul,que levaram a Getúlio ,se
intensificaram com a formação de um republicanismo nacional,em 1870,oposto à
monarquia.
Jorge
Caldeira,em seu livro sobre Mauá não acentua esta verdade:o capitalista que
poderia impulsionar o desenvolvimento do Brasil,era ligado ao republicanismo de
antes de 1870,separatista,portanto.Inúmeras vezes Mauá tentou viabilizar uma
república no Sul incluindo o Uruguay.Este foi o motivo pelo qual o Imperador
Pedro II nunca quis lhe dar um apoio real.A elite cafeeira do Rio de Janeiro
jogou com este fato real e impediu a substituição do latifúndio pela indústria.
Agora
se fala muito que deveria ter havido um terceiro reinado,com a Princesa Isabel
como governante,mas estes eventos impediram-na de obter apoio político.
A
vinculação da figura da Princesa com a padroeira do Brasil,trazida por um outro
epígono da direita(monárquica) “ moderna” brasileira ,Leandro Karnal,prossegue
com este projeto regressivo,anti-republicano.A direita católica se faz presente
depois que a esquerda perdeu o trem da História e insiste em não reconhecer os
seus erros e projetar uma outra
plataforma,para além do marxismo.
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