A
possibilidade legal de ensino religioso nas escolas vai de encontro ao que eu
tenho dito freqüentemente sobre a situação do Brasil hoje,cada vez mais refém do
conservadorismo e das características do
atraso.
Nós
somos um povo que não só é objetivamente atrasado,com milhões de pessoas no
subdesenvolvimento,mas também mentalmente arcaico,legitimando esta pobreza como
algo próprio da grandeza.
Ficou
mais do que provado ao longo da história que a laicização do estado e da sociedade são
condições culturais e políticas para o progresso material.A crença é
legítima(abandonei de há muito a idéia marxista que diz o contrário,separando a
crença do seu uso pela política),mas a
sua manipulação não.
Num
país em que eleitoralmente o pensamento religioso tem mais influência do que as
questões próprias da política,como o bem-estar do povo,ensinar religião nas
escolas significa aprofundar esta manipulação,na medida em que a sua influência
se tornará mais forte,ainda que indiretamente.
A
religião tem uma função legítima enquanto manancial de valores,que serve
inclusive a quem não é religioso,mas ela não pode e não tem condições de
resolver os problemas sociais propriamente.
De
modo geral toda religião se funda na compaixão e na piedade que tornam o mundo
melhor,mas não suficientemente protegido dos sofrimentos que afligem as pessoas,notadamente
as menos favorecidas e que é função do estado prover e resolver em
definitivo,dentro da perspectiva social que eu entendo ser a base de toda a
governança daqui para a frente,com ou sem marxismo.
A
mediação religiosa dever ser privada e íntima como preconizou Engels na Comuna
de Paris em 1871.Não há como impedir que o eleitor-cidadão use aquilo que
aprende na sua religião de escolha na hora do voto,mas é preciso que ele
entenda que os objetivos da política são diferentes daqueles que o seu
orientador espiritual aconselha.
Em
grande parte a aceitação da sua condição de pobreza faz do cidadão alguém que busque na religião um apoio (material
inclusive),mas este acaba sendo uma justificação
da inércia do estado,da política e dos políticos,reproduzindo um situação de resignação
que atrasa o país ,já que temos tarefas
de crescimento,como país industrial que
somos.
A
abulia diante da pobreza que se reproduz por uma humildade abstrata,humildade
do despojamento,tira do cidadão a ambição de progredir e facilita o trabalho do
mau político que não se importa mais com esta pessoa despojada,que está feliz
com esta condição( o que não é verdade).
Então
a religião não pode interferir no estado e o estado na religião.Mas o que se vê
é o contrário.
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