A questão mais importante da atuação do Presidente e de seus
assessores(bem como da família)é perceber o óbvio:uma coisa é a
pessoa física,outra a condição institucional do Presidente da
República.Nós podíamos usar Heidegger:a essência de um Presidente
é diferente do da pessoa fisica,muito embora sem esta não haja a
outra,num termo de ligação concreto.
Eu citei no artigo anterior a relação tumultuada entre Douglas Mac
Arthur e o presidente Truman e a História tem outros muitos exemplos
deste tipo de choque entre personalidades.
De modo geral esta postura confusa de não reconhecimento do caráter
institucional da figura politica publica se presta a um só
objetivo:o seu enfraquecimento para justificação de um eventual
autoritarismo.
Todos se lembram do que aconteceu com Sarney,na época da mudança do
tempo do seu mandato,uma pressão vinda da esquerda.Quando pareceu
inevitável que ele iria ter só quatro anos de governo,Sarney pensou
em renunciar,alegando que o Presidente da República não podia ser
fraco.
Estas considerações e especialmente esta última nos põem alguns
problemas:se o congresso decide mudar o tempo de mandato porque o
Presidente sairia enfraquecido?Porque considerar a fraqueza do
presidente Bolsonnaro diante do fato de que ele
mentiu,perdendo,pois,toda a credibilidade e confiança do povo(uma
vez que pode mentir outras vezes)?
A fonte do poder é multifacetada:é simultaneamente decisões
tomadas no tempo,combinadas com o estado de direito,um princípio
essencialmente conservador,durável.
Ao eleger um presidente(bem como qualquer politico)se faz uma escolha
levando em conta estes dois elementos a se equilibrar.Hoje existe um
movimento para evitar a volatilidade da ação dos politicos.Se se é
eleito para o senado,cumpre o mandato.Se se elege para Presidente o
mesmo.
Mudar as regras do jogo no seu desenrolar;não respeitar os
fundamentos do poder,são causas de diluição do poder.
O presidente Bolsonaro tornou-se com este episódio malfadado,menos
que capitão:voltou à condição de pessoa física,de alguém que
não entendeu(ou não o quer)a passagem entre uma essência e outra
no plano da vida em geral.Diluiu a formalidade necessária do
cargo,base decisiva de sua credibilidade e agora se estes fatos
continuarem a diluição da cadeira presidencial vai ser total.
Num artigo escrito logo depois da eleição de Bolsonnaro disse que
paradoxalmente era ele o fiel da balança no que tange à manutenção
do regime democrático,pois ele foi eleito para tal,mas agindo
assim,ele e a democracia correm risco.O paradoxo vai se transformar
em vazio (de poder).
Aquilo,no entanto,que está ruim,pode piorar:como cidadão entendo
que não só o que se faz ou o que se diz tem um papel nestas
diluição e perda de credibilidade.Como pessoa física a proteção
da intimidade e do pudor é um direito do Presidente da República,mas
na situação de figura formal e pública,algumas exceções são
admissíveis.
Ainda que expor a bolsa de colostomia possa significar para
Bolsonnaro uma devassa na vida pessoal,é fundamental que se
faça.Isto acabaria com os rumores,daria credilibidade ao
Presidente,na medida em que ele fosse capaz de tal “ sacrificio”
em nome do Brasil.
Lembro-me do caso de Miterrand,que escondeu um câncer,que se tivesse
sido revelado o teria afastado do segundo mandato.E mais :o caso de
Costa e Silva,cuja doença já estava nele desde o inicio.Quem sabe
se a revelação não teria antecipado o processo de redemocratização
em muitas décadas?Quem sabe Bolsonaro não defenda a democracia na
prática,ainda que sendo admirador do regime militar?
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