quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

A bolsa de colostomia

A questão mais importante da atuação do Presidente e de seus assessores(bem como da família)é perceber o óbvio:uma coisa é a pessoa física,outra a condição institucional do Presidente da República.Nós podíamos usar Heidegger:a essência de um Presidente é diferente do da pessoa fisica,muito embora sem esta não haja a outra,num termo de ligação concreto.
Eu citei no artigo anterior a relação tumultuada entre Douglas Mac Arthur e o presidente Truman e a História tem outros muitos exemplos deste tipo de choque entre personalidades.
De modo geral esta postura confusa de não reconhecimento do caráter institucional da figura politica publica se presta a um só objetivo:o seu enfraquecimento para justificação de um eventual autoritarismo.
Todos se lembram do que aconteceu com Sarney,na época da mudança do tempo do seu mandato,uma pressão vinda da esquerda.Quando pareceu inevitável que ele iria ter só quatro anos de governo,Sarney pensou em renunciar,alegando que o Presidente da República não podia ser fraco.
Estas considerações e especialmente esta última nos põem alguns problemas:se o congresso decide mudar o tempo de mandato porque o Presidente sairia enfraquecido?Porque considerar a fraqueza do presidente Bolsonnaro diante do fato de que ele mentiu,perdendo,pois,toda a credibilidade e confiança do povo(uma vez que pode mentir outras vezes)?
A fonte do poder é multifacetada:é simultaneamente decisões tomadas no tempo,combinadas com o estado de direito,um princípio essencialmente conservador,durável.
Ao eleger um presidente(bem como qualquer politico)se faz uma escolha levando em conta estes dois elementos a se equilibrar.Hoje existe um movimento para evitar a volatilidade da ação dos politicos.Se se é eleito para o senado,cumpre o mandato.Se se elege para Presidente o mesmo.
Mudar as regras do jogo no seu desenrolar;não respeitar os fundamentos do poder,são causas de diluição do poder.
O presidente Bolsonaro tornou-se com este episódio malfadado,menos que capitão:voltou à condição de pessoa física,de alguém que não entendeu(ou não o quer)a passagem entre uma essência e outra no plano da vida em geral.Diluiu a formalidade necessária do cargo,base decisiva de sua credibilidade e agora se estes fatos continuarem a diluição da cadeira presidencial vai ser total.
Num artigo escrito logo depois da eleição de Bolsonnaro disse que paradoxalmente era ele o fiel da balança no que tange à manutenção do regime democrático,pois ele foi eleito para tal,mas agindo assim,ele e a democracia correm risco.O paradoxo vai se transformar em vazio (de poder).
Aquilo,no entanto,que está ruim,pode piorar:como cidadão entendo que não só o que se faz ou o que se diz tem um papel nestas diluição e perda de credibilidade.Como pessoa física a proteção da intimidade e do pudor é um direito do Presidente da República,mas na situação de figura formal e pública,algumas exceções são admissíveis.
Ainda que expor a bolsa de colostomia possa significar para Bolsonnaro uma devassa na vida pessoal,é fundamental que se faça.Isto acabaria com os rumores,daria credilibidade ao Presidente,na medida em que ele fosse capaz de tal “ sacrificio” em nome do Brasil.
Lembro-me do caso de Miterrand,que escondeu um câncer,que se tivesse sido revelado o teria afastado do segundo mandato.E mais :o caso de Costa e Silva,cuja doença já estava nele desde o inicio.Quem sabe se a revelação não teria antecipado o processo de redemocratização em muitas décadas?Quem sabe Bolsonaro não defenda a democracia na prática,ainda que sendo admirador do regime militar?

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