O projeto de previdência,que está tramitando no congresso,expressa
as concepções de direita próprias do setor politico brasileiro que
está no poder:economia de mercado acima de tudo;enfoque principal no
enxugamento das despesas.Não há como negar que ele é o mais
radical dos últimos anos,mas não é uma reforma no sentido exato
do termo.
Reforma é quando os fundamentos de qualquer coisa são alterados.Na
politica a oposição entre reforma e revolução tem,no entanto,um
termo de ligação,neste conceito,de mudança.O que é mudança?
Em sociedade e em politica mudança é alterar as bases de alguma
coisa,de algum pensamento,de algum valor,de algum instituto.
A partir de 1929 se constituiu na
maior parte dos países aquilo que se denominou o “ Welfare
State”,cujo ponto nodal é a previdencia(Welfare State quer dizer
estado previdenciário).A previdencia ,como o nome diz,procura
antecipar os problemas da sociedade e prever medidas
capazes de evitar catástrofes como aquela da quinta-feira negra.
Uns mais,outros menos,mas na média,todos buscam uma intervenção
estatal apta a evitar cataclismos sociais.Fora alguns países ,no
entanto,o estado previdenciário sempre foi uma mediação
política,ao sabor dos interesses.
A previdência é como uma poupança prévia estabelecida,mas na hora
em que o estado precisa,cometendo erros,é nela que busca condições
de fechar os rombos de seus desatinos.Uns mais,outros menos,com a
exceção de alguns países,repito,o retrato da sociedade moderna é
este.
O Brasil não é diferente.O que eu
pergunto,há muito anos,é quando vamos parar de discutir a
previdência de dez em dez anos e realizar o nosso welfare state.
Esta proposta atual não garante necessariamente a solução
definitiva do problema.Ela é eminentemente técnica,um pouco mais
radical,mas não altera fundamentalmente o quadro histórico da
previdência no Brasil,que está sempre mudando.Mudando não no
sentido fundamental,mas de adaptação aos achaques do estado.É só
medida cosmética,não reforma.
Visa a dar uma resposta imediata à situação calamitosa do
Brasil.Não tem,pois,a visão de estado que obriga a olhar o futuro.
Além do mais ,como eu já disse,a solução do problema mais grave
do Brasil,o desemprego ,e na sua esteira,os outros,segurança
,educação e saúde,depende de um pacto nacional,entre os setores de
classe brasileiras.Não são só comunistas(modernos[se os há]) que
dizem isto,são as agências econômicas e de análise social.
Desde 1929 não existe mais a “ economia de mercado”.Fico
admirado que jornalistas conhecidos,obrigados profissionalmente a
informar bem,digam que a economia de mercado,por si mesma,vai
realizar este propósito social saneador.Isto depois de uma crise
como a de 2008.
O investimento na proteção pura e simples do trabalhador é tão
nociva quanto a economia de recursos,pretendida nesta proposta (1
trilhão),porque falta uma visão de longo prazo e esta começa e
termina com a solução definitiva do problema da previdência,o
qual,por sua vez,depende de ela não ficar ao talante da politica
imediatista e conchaveira que se faz no Brasil.
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