sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

O mediato e o imediato na Tragédia de Brumadinho

O que impressiona em toda esta tragédia,além dos abutres que se aproveitam daquilo que podia ter sido evitado(Rede Globo deve ganhar um prêmio aí pela cobertura),é que as análises do problema se limitam ao imediato.Explico:só questões administrativas e jurídicas são chamadas à baila.
A reiteração do problema não forma um padrão de compreensão na mente do brasileiro e principalmente das autoridades.Tudo é visto como um erro humano evitável por providências imediatas não tomadas.
Mas não é isso não.A sociologia vai além desta visão abstrata(vazia)do problema:o processo de compreensão descritiva do problema descarta este “ homem” que erra, trazendo uma certeza mais próxima do fato,unindo o imediato com o mediato ,ou seja, a sociedade brasileira com o fenômeno.
A razão que causa as tragédias é a mediação do interesse político sobre a profissionalidade.Os engenheiros,os técnicos ,os responsáveis pela administração de qualquer bem público ou privado sabem que têm que atender a diversos interesses aos quais se submetem.
Não posso me referir diretamente aos laudos dos engenheiros presos,mas eles só o foram por causa de dúvidas quanto à sua veracidade
Qualquer estudante de segundo grau de administração sabe que o seu princípio é fazer uma obra e depois mantê-la permanentemente.É só ter uma equipe,um profissional capaz de identificar ,na voragem do tempo ,os naturais desgastes e corrigi-los.Mas se isto for feito como vão ficar os interesses de super e sub-faturameto ?É a tal obsolescência programada.
Mas a compreensão sociológica é mais ampla:ela une as questões técnicas com o caldo de cultura que justifica o seu descaso.Para sobreviver,muitos brasileiros aceitam estas imposições políticas,que,ademais,garantem ganhos econômicos e financeiros maiores.E a prova desta hipótese científica e que em outros setores tal intercurso perverso é comum:qual professor de universidade particular não teve(como eu)que aprovar um aluno incapaz porque ele pagava?quantas vezes atores sem formação passam na frente de outros mais qualificados e com estudo?quantos escritores demagógicos são mais bem sucedidos do que os que têm um conteúdo menos escandaloso?quantas vezes o sistema de saúde dá mostras de descaso porque tratar a população não reproduz capital?
O problema da Vale é só a ponta do iceberg sociológico nacional brasileiro,permeado de mais e mais exemplos de genuflexão da profissão aos interesses do capital,do ganho imediato.
Historicamente isto apenas confirma o que explicou Caio Prado Júnior em seu “ História Econômica do Brasil”:o país é o dos ciclos,em que um ciclo é substituído por outro depois que o anterior dilapidou todas as riquezas nacionais.
Economicamente o Brasil é um país sem visão de longo prazo e sem noção de responsabilidade coletiva,onde o inimigo é o próximo.É um experimento social darwinista “bem sucedido”.
O brasileiro médio só tem consciência desta competição e legitima os seus frutos imediatos,mas não vê que no plano geral é ela que mantém a miserabilidade,o estado precário dos serviços e realizações nacionais.
Quem vai ajudar na indução de uma auto-consciência nacional quanto a estes problemas recorrentes?.Assunto para outro artigo.

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