O que impressiona em toda esta tragédia,além dos abutres que se
aproveitam daquilo que podia ter sido evitado(Rede Globo deve ganhar
um prêmio aí pela cobertura),é que as análises do problema se
limitam ao imediato.Explico:só questões administrativas e jurídicas
são chamadas à baila.
A reiteração do problema não forma um padrão de compreensão na
mente do brasileiro e principalmente das autoridades.Tudo é visto
como um erro humano evitável por providências imediatas não
tomadas.
Mas não é isso não.A sociologia vai além desta visão
abstrata(vazia)do problema:o processo de compreensão descritiva do
problema descarta este “ homem” que erra, trazendo uma certeza
mais próxima do fato,unindo o imediato com o mediato ,ou seja, a
sociedade brasileira com o fenômeno.
A razão que causa as tragédias é a mediação do interesse
político sobre a profissionalidade.Os engenheiros,os técnicos ,os
responsáveis pela administração de qualquer bem público ou
privado sabem que têm que atender a diversos interesses aos quais
se submetem.
Não posso me referir diretamente aos laudos dos engenheiros
presos,mas eles só o foram por causa de dúvidas quanto à sua
veracidade
Qualquer estudante de segundo grau de administração sabe que o seu
princípio é fazer uma obra e depois mantê-la permanentemente.É
só ter uma equipe,um profissional capaz de identificar ,na voragem
do tempo ,os naturais desgastes e corrigi-los.Mas se isto for feito
como vão ficar os interesses de super e sub-faturameto ?É
a tal obsolescência programada.
Mas a compreensão sociológica é mais ampla:ela une as questões
técnicas com o caldo de cultura que justifica o seu descaso.Para
sobreviver,muitos brasileiros aceitam estas imposições
políticas,que,ademais,garantem ganhos econômicos e financeiros
maiores.E a prova desta hipótese científica e que em outros setores
tal intercurso perverso é comum:qual professor de universidade
particular não teve(como eu)que aprovar um aluno incapaz porque ele
pagava?quantas
vezes atores sem formação passam na frente de outros mais
qualificados e com estudo?quantos
escritores demagógicos são mais bem sucedidos do que os que têm um
conteúdo menos escandaloso?quantas
vezes o sistema de saúde dá mostras de descaso porque tratar a
população não reproduz capital?
O problema da Vale é só a ponta do iceberg sociológico nacional
brasileiro,permeado de mais e mais exemplos de genuflexão da
profissão aos interesses do capital,do ganho imediato.
Historicamente isto apenas confirma o que explicou Caio Prado Júnior
em seu “ História Econômica do Brasil”:o país é o dos
ciclos,em que um ciclo é substituído por outro depois que o
anterior dilapidou todas as riquezas nacionais.
Economicamente o Brasil é um país sem visão de longo prazo e sem
noção de responsabilidade coletiva,onde o inimigo é o próximo.É
um experimento social darwinista “bem sucedido”.
O brasileiro médio só tem consciência desta competição e
legitima os seus frutos imediatos,mas não vê que no plano geral é
ela que mantém a miserabilidade,o estado precário dos serviços e
realizações nacionais.
Quem vai ajudar na indução de uma auto-consciência nacional quanto
a estes problemas recorrentes?.Assunto
para outro artigo.
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