segunda-feira, 12 de abril de 2021

Assim é a natureza humana? II

 

Freud disse uma vez que “os pais são o primeiro objeto de experimentação sexual dos filhos”,de acordo com a sua teoria da sexualidade infantil,de 1895,abandonada e retomada por ele dezenas de vezes.

Mas,como Freud pode e deve ser criticado (como qualquer um),dialeticamente falando,há um sentido contrário nesta afirmação:”Os filhos também são objeto sexual dos pais”,principalmente aqueles que apresentam disturbios originados na infância,por esta ou outra razão.

Alias existe uma dialética possível que permeia todo o pensamento de Freud,criando dicotomias prováveis:o complexo de édipo e o de electra;a inveja do pênis e a inveja da vagina(Melanie Klein),o ego e o id e esta entre os pais e os filhos.Mas isto é outro assunto.

Explicar estas atitudes recorrentes dos pais com relação aos filhos ,no entanto,passa por uma hierarquia de valores,mais afeita à Kant,do que a Freud:é muito mais frequente que os pais,seres conscientes que decidiram ter os filhos,manipulem-nos do que estes últimos aos pais,porque as crianças são inconscientes por sua condição.Mas os fatos impostos aos filhos reverberam na idade adulta.

Dependendo do grau de consciência do sujeito adulto doente não se há de ,com a explicação, justificar os seus atos condenáveis ,como estes do vereador e da sua esposa,mesmo porque a sua origem(da doença) não está necessàriamente ligada à relação com os pais.

Freud diz que as causas do desenvolvimento patológico da criança(que se refletem no adulto)são aleatórias,mas por outro lado é inevitável que estas causas se liguem ao processo inevitável de perda do aconchego familiar quando a criança adquire consciência do mundo,dos limites do mundo.

O modo como estas causas atuarão depende desta passagem,do modo como ela é feita.

A discussão é ampla e outros psicólogos contestariam este percurso explicativo,mas no que tange à violência paterna só se pode entendê-la dentro de certas hipóteses postas por Freud.

A violência é uma tentativa ,deformada,de integrar-se ao meio.Ela surge do ruido entre a subjetividade e o meio.Mas o crime,a destruição do meio(desintegração)já é uma tentativa resolutiva da subjetividade,que não se desata.É uma tentativa de construir uma identidade( uma auto-estima) a partir de um ato violento,que lhe dá senso de propósito e reconhecimento do meio,mesmo que por um ato condenável (por este meio).

Aqueles que leram o meu primeiro artigo sobre os perfis de politicos e figuras históricas se lembrará destes conceitos.

Ressalvado aquele que não é mais dotado de consciência do que faz,a explicação da violência dos pais contra crianças,que é algo comum em todos os lugares,só tem esta explicação fundante e básica:a busca de uma identidade e de um reconhecimento,exacerbado por uma pressão interna ,causada por este ruido,esta descompensação entre o sujeito e o meio.

O gosto dos dois criminosos por ostentação de poder,por construir uma imagem de realização,que nunca preenche o vazio de sentido do sujeito(porque não desata o desequilibrio)é uma forma de destruir o mundo,ainda que idealmente,ostentando,agredindo aos outros,mostrando-se superior.

Em alguns casos,como parece ser este crime de agora,esta necessidade se torna tão dominante que chega ao ponto de “ exigir” tortura e agressão,brutalidade,que concede impressão de força a este descompensado.

A brutalidade de Hitler,o seu autoritarismo permanente(bem como dos nazistas)tem o mesmo papel e como os nazistas ,este “ casal” tem tanta necessidade desta manifestação de poder,desta auto-imagem,que após uma brutalidade ,vive estas perfomances de modo natural,como cuidar do cabelo.

No final da segunda guerra nenhum nazista demonstrou remorso,mas antes justificou e aprofundou as justificativas da violência.

Este casal vai agir do mesmo jeito.

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