quarta-feira, 25 de setembro de 2024

Ernesto,o incorruptível

 

Eu sou inteiramente infenso a qualquer forma de corrupção.Como todo mundo,desde há 10 mil anos,sou um ser errante e como tal cometi e cometo muitos erros,mas o maior prejudicado destes erros fui sempre eu,não os outros.

Ouvi,de meu pai stalinista,que a corrupção tinha a ver fundamentalmente com a burguesia e o modo de produção capitalista,mas eu cansei de ver do “ nosso” lado também.

De modo que me enganar hoje ,com promessas vãs e repetidas não é mais possível e diante deste reconhecimento,isto é,do reconhecimento de que não há muita diferença entre os “ revolucionários” e os “ reacionários”,naquilo que é essencial,desconfio permanentemente destes heróis,que dizem uma coisa na sua frente e pelas costas fazem outra.

Também repudio estas ideias de que um incorruptível é alguém que não tem mulher ,que não vive a vida,como o Imperador Augusto e Robespierre.

No filme de Andrei Wajda sobre a Revolução Francesa é exposto um encontro que nunca aconteceu entre ele e o corrupto Danton,no qual este ultimo o acusa de ser um castradão,sem conhecimento da vida.

Como se houvesse uma relação real entre corrupção,desvio e vida.Só o há se nós aceitarmos o conceito de Nelson Rodrigues “ a vida como ela é”.

Só que para o revolucionário,para aquele que tem compromisso com a mudança e a emancipação da humanidade, a vida como ela é,é para ser mudada,transformada ,num processo de luta constante.

Não existe este critério de aceitar as coisas como são.Isto é uma reinterpretação de novo de Nelson,quando ele fala sobre o “idiota da objetividade”(Nelson era kantiano e não sabia):o revolucionário é movido mais e mais pelo realismo da vontade.Ainda que as chances de mudança não estejam dadas ele deve expressar o seu pensamento.

Tal postura perpetua o conceito final da vida de Darcy Ribeiro: “defendi os índios e perdi;defendi as mulheres e perdi;defendi os pobres e perdi,mas eu não queria estar no lugar de quem me venceu não”.

Esquerda é incorruptível.

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