quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

A lei de Anistia II




Toda  esta  confusão  que  gira  até  hoje  em  torno  da  Lei de  Anistia  nos  remete  ao  modo  como  ela  foi  feita  em  1979,o  que  por  sua  vez  nos  remete a  como  as  coisas  são  feitas politicamente  no  Brasil,com  os  pactos  de  elites,em  que  o  povo  sempre  paga  o  pato.
Quando  o  Presidente  Figueiredo  afirmou  “ lugar de brasileiro  é  no  Brasil” enviando  o  projeto,ele  estava  com a  sincera  intenção  de  encerrar  o  periodo  histórico  da  ditadura  no  Brasil,mas  sob  certas  condições ,estabelecidas  previamente  pelos  que  montaram  a  estratégia  de abertura e  de  retorno  à  democracia:Geisel  e  Golbery.
O  presidente  Ernesto  Geisel  foi  o responsável  por  todo  o  processo  político de  distensão  lenta,  gradual  e segura.Golbery  foi essencial  numa  outra  questão,que  até  hoje  rende  amuos  entre  os  setores  de esquerda,divididos  pelo exilio.Era  fundamental  para  a ditadura  que  quando  a democracia  voltasse  as  condições  anteriores  ao  que  eles  denominaram  erradamente  de    Revolução”  não  retornassem  também.
Foi  o  papel  histórico  de Golbery  do  Couto  e  Silva  evitar,por  ações  incisivas  no  estertor  da  ditadura,que  tal acontecesse.
Então, junto  com  o  projeto  de anistia,veio  também  o  pluripartidarismo,de  cima  para baixo,para  dividir  as  opisções.Hoje  se  sabe  dentro  desta  intenção de  divisão,que Golbery açulou  os  desejos  de  Lula  de  fazer  o  seu  próprio  Partido,o  que  frustrou  muito comunista  que  veio  do  exilio  pensando  em manipular  o  metalúrgico  e  fazer  grandes  partidos  comunistas,numa  reviravolta  histórica  com  que  todos    sonhavam.
Golbery  ficou  no  Governo  Figueiredo  boa  parte  do  tempo,para  garantir  que  as  coisas  saissem  como  ele  e  Geisel  queriam(vigiando  Figueiredo  para  que  não  pusesse  tudo  a  perder).Quando  sentiu  que  tudo  ia  se  completar  foi  embora.
Dentro  deste  mesmo  contexto de  dividir  as  oposições  surge  a  anistia.Pouca  gente sabe  destes  detalhes.Muita  gente  acha  que  a culpa  de  até  agora  este  problema  das  reparações  não  ter  sido resolvido  é  da  ditadura,mas isto é  uma  meia-verdade.É  lógico  que  que  ela  não tinha(e  não  tem)  interesse  nenhum  nelas,mas  a  condição essencial  da  volta à  democracia passava  necessariamente pela  anistia e  ela  veio de  uma  forma  radical,considerando  esta  referida  falta  óbvia  de  interesse.Ela  consagrava  a  libertação  de  todos  os  presos e  a  volta  de todos.Mas  isto  era  evidentemenete  um truque  ,porque a  ditadura  jogou  com  o  fato de  que  os  políticos  que  ficaram  no  Brasil  temiam   o retorno de  alguns  exilados,notadamente  Brizola,Arraes  e  Prestes.Eles  temiam  que  estes  tomassem  o  lugar  dos  que  ficaram  lutando contra  o regime  e  a primeira  contraproposta  da  oposição  não  incluia  os três.E  não incluia  parcelas  significativas  de  militantes  menos  conhecidos.
Também  era  um truque da  negociação,porque  a oposição  jamais  poderia  impedir  estes  políticos  de voltar.
Mas  era designio  evitar  que  tivessem  um  retorno  triunfal  e  jogassem  na  sombra  os  autóctones...
Como  resultado a  lei de anistia  acabou  beneficiando os  intentos  da dupla infernal  e deixou de  fora  muita  gente  genuinamente  do  povo.
Esta  é  uma  das  razões  porque  eu  acredito  que  os  ex-presidentes  Jango  e  Juscelino,bem  como  Lacerda,podem  ter  sido  assassinados.Eles  eram  uma ameaça  ao  projeto  Golbery-Geisel .Já  imaginou  uma  campanha  da  Anistia  com eles  à  frente?Muita  gente  na  oposição  sonhava  com estes  políticos,porque  ficaram alijados  da  política  com  o  golpe,sem  as  suas  lideranças.
Mas também  é  uma  das  razões porque  até  hoje  esta  reparação  é  dificil,porque o  projeto  vencedor  foi  o da  ditadura,anistiando  ilegal  e  moralmente  os  torturadores,com  uma  anuência  tácita  das oposições  não  exiladas.Então  toda a  política  posterior e   atual  não  discute a  revogação desta  lei  que    o  beneplácito a criminosos,coisa  única  nos  anais  do  direito.
Quando  Tancredo  morreu e  subiu  Sarney,este que tinha  mais  compromissos  com o  passado do  que  com  o  futuro,jogou  todas  as grandes  questões éticas  do regime  anterior  para  debaixo  do  tapete e  criou  uma  obsessão  muito  conveniente  pelo  problema  econômico,um drama  que  ajudou  a esconder  outros  problemas  que  precisavam  ser  solucionados.
Pedro  Simon,recentemente,partícipe  da  negociação  para  a anistia,disse  que em  grande  parte,a  culpa  da  situação  atual das  reparações,é  dele  mesmo,dos setores  democráticos  que,como sempre,pensam  com  pragmatismo  e  não  com  grandeza.
Como tenho  falado  aqui em  inúmeros  artigos é  sempre  assim.Se  Juscelino e  os outros  não  tivessem  colocado  na  presidência  um  suposto  títere  como  Jânio,não  teria  acontecido  o  que  aconteceu.O  mesmo se  pode  dizer  da  detonação  da  candidatura  de Tancredo  Neves em  1960,por  Juscelino,que  não  queria em  Minas  um potencial adversário,favorecendo a  vitória  de   Magalhães Pinto,que  ajudou  na  cassação  do ex-presidente.Fato  igual  é  o que  Aécio  fez  em  Minas  ano  passado,que  lhe  causou esta terrível derrota  eleitoral  no pleito  presidencial.
São  sempre  as  razões  pragmáticas  que  predominam,não  os  valores.


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