O conceito de humildade,assim como o de povo ,é uma abstração.Não existe um pé-de-fruta.Existe
um pé de banana.Povo,humildade são a mesma coisa.Existem as pessoas,os
indivíduos,não o povo.A
expressão que consagra esta
abstração e os seus objetivos políticos manipulatórios
é “ Vox populi ,Vox dei”,como se a vontade de todos
fosse a mesma.
Dentro das lutas
entre patrícios e plebeus em Roma a idéia de que
os patrícios faziam
o que os plebeus queriam era construída por
esta abstração.
O conceito
de humildade passa pelo mesmo
problema,com uma única diferença:é
que ele ,embora sendo uma abstração , tem um ponto
de contato com a
realidade,como no caso da fruta.
O conceito
mais universal de humildade é derivativo da
atividade ideológica da Igreja
Católica,no processo de constituição
dos pecados capitais.Deriva do
conceito de soberba,o orgulho
desmedido.
Neste
sentido a humildade é a
atitude santa,virtuosa, diante do pecado da soberba.A
igreja define a humildade como uma virtude essencial para obtenção
da graça.A humildade é se
submeter aos critérios de tutela da Igreja,fundadosna
genuflexão diante de algo
transcendental,maior do que o
homem:Deus.
Em Filosofia,Transcendental é diferente
de transcendente,porque este último
tem relação com a experiência
humana,enquanto que o primeiro
,não.Deus é transcendental,não sendo tocado
por experiência ,humana,nenhuma.
A
humildade,neste sentido abstrato,é aceitar
esta hierarquia,mas ela tem
um significado,humano,mais
importante,que tem a ver com
o papel político
da religião,qual seja
,despojar todos os homens de qualquer
ambição,mínima que seja,nem pelo
pensamento,de modo a que o fiel
não corra o risco de cair na
soberba.
Esta definição,este conceito, é uma
esperteza da Igreja.Ela sabe
que para manipular os fiéis,igualando-os, e só o consegue se despojá-los de qualquer ambição.Se na
comunidade eclesial a desigualdade
natural dos homens surgisse,outros vícios nasceriam,notadamente a inveja,pondo a perder a unidade.
Ocorre
que,como a psicologia moderna demonstra,não
há progresso,material e mesmo
espiritual,sem ambição(que não é soberba),sendo esta uma característica
legítima da psicologia humana,se não
descambar para a ostentação vazia.Dizia Locke também,os homens são desiguais.
No albor da
sociedade capitalista moderna,a necessidade
de ambição se tornou irrefreável
e aí o conceito de humildade cristão/medieval teve que mudar.No Renascimento vemos uma pura
refutação enorme desta humildade abstrata,mas
o fato é que a humildade
,num caráter concreto,é referenciada aos desejos legítimos do
individuo e mais ainda,do ponto de vista de uma ética austera ,moderna,a humildade,concretamente considerada,é
um(auto-)reconhecimento do esforço,do trabalho para conseguir as habilidades que,num determinado momento aparecem.É a famosa ” ética protestante”,que pode muito bem ser absorvida pelo pensamento laico,retirando as
finalidades religiosas e substituindo-as pelo bem da humanidade,através do progresso material
e cultural.Não é motivo de culpa reconhecer
os próprios méritos legitimamente conquistados.
Humildade(no
sentido abstrato)é uma invenção católica/medieval,que castra o sujeito em um dos seus atributos psicológicos mais decisivos.
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