sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Humildade



O conceito  de humildade,assim  como o de povo  ,é uma abstração.Não existe um pé-de-fruta.Existe um pé de banana.Povo,humildade  são a mesma  coisa.Existem as pessoas,os indivíduos,não   o  povo.A  expressão que consagra   esta abstração  e  os seus objetivos  políticos  manipulatórios  é    Vox populi ,Vox dei”,como se a vontade de todos fosse a mesma.
Dentro  das lutas  entre patrícios  e plebeus  em Roma a idéia de  que  os  patrícios  faziam  o que os plebeus queriam era construída  por  esta abstração.
O conceito de humildade passa pelo mesmo  problema,com uma única diferença:é   que  ele  ,embora sendo uma abstração ,  tem um ponto  de contato  com  a  realidade,como no  caso  da fruta.
O conceito mais  universal  de humildade é derivativo    da  atividade ideológica  da  Igreja  Católica,no processo de constituição  dos pecados  capitais.Deriva  do  conceito  de soberba,o orgulho desmedido.
Neste sentido a  humildade  é  a atitude santa,virtuosa,  diante do pecado  da soberba.A  igreja  define  a humildade como uma virtude essencial para obtenção   da graça.A humildade  é  se submeter aos critérios de tutela  da Igreja,fundadosna genuflexão diante   de algo transcendental,maior do que   o  homem:Deus.
Em Filosofia,Transcendental  é diferente    de transcendente,porque  este último  tem relação com a  experiência humana,enquanto  que o primeiro ,não.Deus  é  transcendental,não sendo  tocado  por  experiência ,humana,nenhuma.
A humildade,neste sentido  abstrato,é  aceitar  esta  hierarquia,mas ela  tem  um  significado,humano,mais importante,que tem a  ver  com  o  papel  político  da religião,qual  seja ,despojar  todos os homens de  qualquer  ambição,mínima  que  seja,nem pelo  pensamento,de modo  a  que o fiel  não corra o risco de cair na  soberba.
Esta  definição,este conceito, é  uma  esperteza  da Igreja.Ela  sabe  que para  manipular os fiéis,igualando-os,  e só o consegue  se despojá-los de qualquer ambição.Se na comunidade  eclesial a desigualdade natural  dos homens  surgisse,outros vícios  nasceriam,notadamente a inveja,pondo a perder  a unidade.
Ocorre que,como a psicologia  moderna demonstra,não há progresso,material e mesmo  espiritual,sem ambição(que não é soberba),sendo esta uma característica legítima da  psicologia humana,se não descambar  para a ostentação  vazia.Dizia Locke  também,os homens  são desiguais.
No albor da sociedade capitalista moderna,a necessidade  de  ambição se tornou  irrefreável  e    o conceito de humildade cristão/medieval teve  que mudar.No Renascimento vemos uma pura refutação enorme  desta humildade abstrata,mas o fato  é que  a humildade  ,num caráter concreto,é referenciada aos desejos legítimos do individuo  e mais ainda,do ponto  de vista de uma ética  austera ,moderna,a humildade,concretamente considerada,é um(auto-)reconhecimento do esforço,do trabalho para conseguir  as habilidades que,num  determinado momento aparecem.É a famosa ”  ética protestante”,que pode muito  bem ser absorvida  pelo pensamento laico,retirando as finalidades religiosas  e  substituindo-as pelo   bem da humanidade,através do progresso material e cultural.Não é  motivo de culpa  reconhecer  os próprios méritos legitimamente conquistados.
Humildade(no sentido abstrato)é uma invenção  católica/medieval,que  castra o sujeito em um dos seus atributos psicológicos   mais decisivos.

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