sexta-feira, 3 de julho de 2015

A crise grega



Todas  as mídias  no  Brasil e quiçá  no mundo  passam  ao  largo  do  verdadeiro problema que transparece  na crise  grega.Quando  a  comunidade  européia,como  um  sonho  antigo,foi  estabelecida,todos  achavam  que  ia ser a  realização da igualdade  entre  as  nações  européias.
Mas  todos  igualmente esquecem  que estas nações,ou algumas  delas  ,permanecem  presas  ao seu  passado imperialista  e  colonial  e  dentro da  comunidade  européia ,em  vista  disto,não  acabaram  os  processos  políticos  hegemônicos  e  isto  é  a  causa  desta  crise  grega,que  expressa algo  que  acontece  recorrentemente  entre  os  países  hegemônicos e  os pequenos  que  não têm  pretensão e  nem condição de hegemonia,como  é o  caso  da  Grécia.
Como a  Inglaterra  cresceu  no  mundo e  na  Europa?Só  com a  importação  de  matérias-primas  de  suas  colônias?Não.Num  livro importantíssimo Nelson  Werneck  Sodré  analisou o  famoso  tratado de methuen  em  1758,pelo  qual  Portugal  compraria as  roupas  da Inglaterra  e  mandaria  para  a  ilha  o  vinho.
De  modo  geral  foi  assim  que  a  indústria  inglesa  cresceu e se  fixou,porque  a exportação  da  roupa  aumentava  o crescimento  das  manufaturas e  dos lanifícios  enquanto que  em Portugal  a  exportação  do  vinho  mantinha  o  país  fora  da  competição industrial  moderna(até  hoje).
Também as relações  com  os países  se    na  medida  a  beneficiar  estes  países  hegemônicos:eles  exploram  a matéria –prima  dos países pobres,com  mão-de-obra  barata(uma  terceirização  avant La  lettre)  ,industrializam-nas e  revendem  para as  colônias,estes  produtos , a  preços  escolhidos  pelas metrópoles.
Não  é  à toa  que  a  Inglaterra  fica  sempre  de  fora  da  comunidade.Quem  conhece  História  sabe  que  a  Inglaterra,para se  proteger,sempre  jogou  na  divisão  política  e  econômica  do  continente,exceto  no caso  do “  bloqueio  continental”  contra  Napoleão,uma  situação excepcional.
No  mais  foi  sempre assim.Hoje  se  ela  participa  desta  comunidade,em  que existe  um  projeto hegemônico,se  dilui,então  prefere  ficar a  meio  caminho  do  continente  e  dos  Estados  Unidos,uma  força  econômica  que  a  ajuda (mas  decerto  modo  ,a  longo prazo,a  ameaça,pois  ela  pode  se  diluir  também,na  hegemonia  norte-americana).
O  projeto  hegemônico  chama-se  hoje,Alemanha,que usou a  Grécia para  o seu estabelecimento,com a ajuda  de  outras nações  da  Europa  Ocidental.A  Grécia  é um  dos países  mais  militarizados  do continente,não se  sabe  bem  porquê,sendo  um  país  pacífico  como  é,desde a  sua  independência  em 1831.
Ocorre  que a  Alemanha  impõe este  comércio,como  necessidade  de  manutenção  do  equilíbrio da  economia  mundial,não  cabendo à  Grécia decidir  o contrário,isto  é,negar  ,e  preferir  importar  livros,por  exemplo,para  preparar  melhor  os  seus trabalhadores.
A  catrefa  de  Papandreou aceitou  este  modus  vivendi e  deixou  para  os  líderes  atuais a  tarefa  de  resolver  um  problema  que  eles não criaram.
Austeridade,como querem  os  alemães,significa  apertar  os  cintos,não investir e pagar  direitinho  aos  credores  ou em  outras  palavras,condenar  os  aposentados a  salários  minguados,o  mesmo  para  os trabalhadores,e condenar  muitos  ao desemprego e  subemprego  por dez  anos  no  mínimo,garantindo a Grécia  como    cupincha”  forçado  da Alemanha.
A  Grécia  pode  ser o  grande  laboratório de uma  nova  atitude  se disser não  no Plebiscito de  domingo,no  sentido de  se  dispor  a  pagar  os credores   mantendo  o crescimento.
Me  lembro de  Tancredo  Neves,aqui  no  Brasil,numa entrevista  depois de eleito  ,dizendo  que  não  pagaria a dívida  com a  fome  do  povo  brasileiro.
A  Argentina,depois  da  moratória,cresceu  a  7%   ao ano,e foi  pagando a  dívida(até hoje).É  assim que  deve  evoluir  a comunidade  das  nações.O  mundo só mudará  quando  o  menor,o  pobre,puder  dizer :eu  não  quero comprar  armas  e  isto  for  obedecido  pela  grande  potência,animada  de  chauvinismo.

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