sexta-feira, 24 de julho de 2015

Mudança de geração



Os  últimos acontecimentos  no  Brasil,pelo  menos como nos  são  transmitidos pela  mídia  ,dão  conta de que  há uma reforma  politica,mas  não há  nada.O  que há  é  uma  tentativa,outra  vez na  história,  de  compor  a  classe  politica  com os anseios  populares.Dar  os  anéis  para preservar  os dedos,como dizia  aquele  personagem de Tomaso di Lampedusa ,em “ O leopardo”,o Conde  de  Salina.
No  passado,este  passado  que  ainda nos influencia,se realizou algo semelhante mas real.Diante  da inevitabilidade do crescimento das massas com a  questão  social,Getúlio Vargas  usou  esta  máxima do Conde.Contudo  ,dentro da sua  perspectiva de elite,entregou de fato (alguns)  anéis(pouca  gente  se  dá de que  Washington Luís  caiu  mais  por  não reconhecer a  questão  social[que  ele  chamava de “  caso de polícia”]do  que por  qualquer outra coisa).
Uma  das  coisas  que se aprende  ao estudar  ciência politica é  que  não existe  modelo pré-dado no  movimento da  politica.Sempre  algo  novo aparece nesta  concreta  verdade  que é este movimento.
Seguindo  Aristóteles ,de  quem  eu tenho falado muito  aqui ,politica,concreticidade,é  forma e  conteúdo.O  movimento  da  politica,como  qualquer coisa  social é  forma e conteúdo se relacionando.
Neste  sentido  é  obrigatória  a  relação,a  dicotomia,governo/povo,elite/povo,estado/povo,porque  a  forma destas relações o impõe .É  necessário manter a publicidade,os  caminhos  formais da  politica e  do governo .
O  governo,o estado,como  forma,tomou  as  suas  iniciativas recentes em  nome  do  seu  direito  formal,imbricado  com os  anseios  do povo,que  ele  representa,formalmente.
Mas tem sido assim  mesmo?A  forma  está  representando  o  contéudo?O  que se falou nas ruas está se refletindo no Congresso?
Óbvio  que não.As decisões  tem se referenciado ao  que a  “ classe  “ politica quer:manter-se  no topo.Isto  não  configura usurpação de fato?A  divisão  entre  classe média e  trabalhadores  da indústria  não tem  correspondente na  divisão entre governantes  e  governados?Lógico  que  sim.Nós estamos  diante  de uma  situação fetichista de jogar  para  o futuro a responsabilidade  destas reformas,em  termos,darem resultado.Se  não derem ,a democracia  vai se arrumar  de novo,dentro destes mesmos paradigmas  oportunistas.
E a crise vai se aprofundando.Todos ,absolutamente todos,  estão envolvidos  em escândalos  de  corrupção.Há  bem pouco tempo,quando  alguém era  denunciado saía.Aconteceu  com Severino  Cavalcanti(com Sarney  não).Agora  se  todo  mundo sair,quem  fica?Não  vai  ter ninguém sequer para  apagar  a luz.E  pior do que uma acefalia  é  uma impressão de governo,uma  falácia,que  não só  desorienta  mas  perverte  as relações  governo/povo.
A  diferença  entre  Lula  e  Collor é  que  o primeiro  tem  capacidade de negociação(entenda-se  conchavo),não é   isolado e  o segundo sempre  o foi(como Jânio).Lula  é  como Sarney,tem relações,por isso  não cai.
Quando se tem um  governante isolado é  mais  fácil tirá-lo  fora do  que  o Congresso inteiro.É  como no Futebol:uma  derrota  tira  o técnico,não o time  inteiro(porque  não dá[inventa-se  a culpa do técnico]).
O  que tem que  ocorrer  no  Brasil  não é uma mudança de idéias simplesmente.A continuidade da democracia  hoje não se  sustenta    no antagonismo  necessário e na mudança de  concepção,pura  e  simplesmente,de como  as coisas devem ser.Não  é  fazer o voto distrital,criar  uma arremedo de parlamentarismo,não é  não.
É  expressar de  fato a dicotomia  forma/conteúdo,equilibrando estes  dois  termos.E isto hoje  significa  expressar  o  que  as  novas gerações  que foram  às  ruas disseram:combate  à  corrupção;democracia de  fato;a  questão  social não é  obra,mas  educação ,saúde  e segurança(não é teleférico  na  favela,mas escola);é  emprego  e  salário,que  são os  fatores  reais que  garantem e  garantirão  a redistribuição de  renda,que  o Governo Dilma(Lula),deseja.
Lula e  Dilma acham  que  garantir  crédito é  formar uma classe  média,mas  isto  só é possível  quando ,pelo  menos ,três gerações  de uma família puderem se  firmar,pelos  empregos,nesta  classe.  O rolezinho é  bom  mas  não  quer  dizer nada dentro deste  propósito.O  ensino básico continua  ruim ,para  a maioria  da  população e  o PT  não  faz  nada.
A  solução,a  reforma, é  mudar a  estrutura e  mudar a estrutura  hoje é deixar as novas gerações  entrarem e  mostrando  grandeza,os  que estão  aí,há  muitas décadas,devem dar o exemplo e  sair,dentro do  espirito republicano de  alternância e  divisão do poder.
Eu  acho que  poderia  até  oferecer uma  proposta aos  partidos  aqui:os  candidatos,os  cargos só poderiam  ser ocupados  uma vez,por  vez,quero  dizer, a pessoa  se  elege ,é  nomeada,mas  quando termina  o prazo ela vai para outro cargo ou fica  de quarentena,até poder voltar.Não se  trata  só de não à  reeleição,mas de  não ao continuísmo na  parte de baixo,ou no  sistema politico como um todo.
Com a  palavra os partidos.


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