quarta-feira, 22 de julho de 2015

Porque digo que a esquerda é anacrônica



A  entrevista  de  Padura    ensejo a mais  alarido  por  parte da  esquerda  brasileira,que o  usa para  mostrar  que  o  socialismo(que  eu defendi  durante  parte da minha  vida)deu,de  fato,certo.
Vamos ver  o  que  ele  disse:” Há  mais  famintos  em uma  quadra  de  São  Paulo do  que em  toda  Cuba”.
Vamos  devagar.No século retrasado(séc. XIX)os  escravocratas   dos Estados  Unidos  e  do  Brasil  gostavam de  gozar  com os liberais  ingleses ,que,com a  sua  liberdade,garantida  aos  trabalhadores  inclusive,gerava  fomes  intermináveis,dentro de cortiços  sujos,em  volta   de fábricas,que eram verdadeiras  prisões.
Os  dogmas  são inarredáveis,a  esquerda  não  raciocina.É verdade  que a  disposição de ajudar  dos  cubanos é  uma  conquista  da  humanidade,mas  isto  não é  suficiente para resolver  o  problema.A  questão  social não  é uma  questão de boa-vontade,para  quem se  diz  militante de esquerda,com uma  teoria  por trás.Questão  de boa-vontade  é  um conceito da  religião,que  trabalha com o princípio da  fé.Para quem  é  de esquerda a  questão  social  exige  conhecimento  sociológico,histórico,estudos e  não  discursaria  emocional(embora a emoção  tenha  o  seu lugar).
Uma  vez  o  guru do  Presidente  Clinton,Lester  Turow,autor  do livro  “ A  sociedade  da  soma  zero”,disse  uma  coisa  importantíssima para  a esquerda  anacrônica:se  nós  analisarmos  as  questões  históricas  de forma  rígida,como um conceito objetivo  somente,dir-se-á  quantitativo,nós  pensaremos  assim:se  o feudalismo  durou  1000  anos,é  porque  ele é  mais  afeito à natureza humana  do  que a democracia  moderna que  só tem  duzentos  anos imperfeitos!”.
O  raciocínio  de  Padura e  da esquerda é  mais  ou  menos do mesmo  tipo:porque não    famintos em Cuba pode  haver  prisões ,valendo a pena,para  garantir  direitos  sociais,massacrar  direitos  formais.Dialeticamente,no entanto(esta  dialética  que a  esquerda  brasileira  nunca estudou),estas  coisas  não estão separadas.É o mesmo  raciocínio de Marieta  Severo:”  Se  nós incluímos  podemos  roubar”.Mais  importante  do  que  garantir  a liberdade de expressão do  Charlie  Hebdo,é  matar  a  fome  dois  muçulmanos.Se estes  comerem  vale  a pena  matar  jornalista.
Se  em Cuba  não    fome,não tem  importância  associar o  socialismo com prisões.A  história,como o  movimento,não é pré-dada e  ela  se  faz fazendo,dentro de critérios  que são os  mais  desejados  pela  comunidade universal,não  modelos  feitos por  teóricos ou  aiotalás  ou coletividades  totalitárias,mas  construídas  por  todos.
A  esquerda,principalmente a  brasileira,não estuda,não gosta de cultura,tendo os mesmos  objetivos  do  capitalismo predatório,que  é  o de  reproduzir  poder,em nome  pessoal e  não coletivo,que  só serve  para  os outros.
Vendo  que  os  erros do  socialismo colocaram os cubanos  na  inevitabilidade de negociar   com  os  Estados Unidos( e tiveram  sorte  porque  tem um democrata  lá na Casa Branca,imagine se  tivesse  um republicano...),em vez  de  defenderem  uma transição  que  não prejudique os  cubanos(sim porque  a transição  vai vir de um jeito  ou de outro),ficam  defendendo  os seus  erros  pessoais sem observar   que a  transição é  inevitável e  que se a esquerda  não  ajudar  aquele  país,dentro do reconhecimento  corajoso de que  o  socialismo falhou,Cuba  ficará  pior  do que  no tempo de Fulgêncio  Batista,ficará como  uma Bulgária  ou  Rússia,dominado por  máfias,enquanto  muito esquerdista  brasileiro  toma  uísque...
A Suíça  não tem  fome    quinhentos  anos.Não adianta vir  com esta  história de  que  os  suíços  se suicidam.Manda  psicólogos  para  aquele  país  para resolver  este  problema.Esta  história de  que a Suíça só é o que é porque  canalha  põe  o dinheiro  lá é  baboseira de quem não lê.
Países  nórdicos ,o Canadá , Austrália e  outros  não têm  fome há uns  150  anos e  não  têm  prisões.Vamos  mudar  o  paradigma ,vamos  ler.Não vamos  mais pensar  em nós  mesmos,esquerda.



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