sábado, 21 de outubro de 2017

Catalunha II



Quando eu disse que não acreditava na sinceridade nem de França nem de Alemanha ao se colocarem  contra a independência da Catalunha foi porque no final das contas isto os torna como “ garantidores” da unidade espanhola e os ajuda nos seus respectivos projetos nacionais hegemônicos.
A direita entende que em todo este movimento existe um propósito comunista.Vejam só,Merkel,o Presidente da França(quem?)e Obama estão mancomunados para fazer o comunismo na Europa.
Como se pode pensar assim desde que a Alemanha lançou este projeto hegemônico no caso da Grécia?Em que medida isto seria um projeto comunista e não nacional-hegemônico?A Alemanha,como eu já relatei obrigou a Grécia a se atrelar economicamente a ela,vendendo armas inúteis para aquele país.Isto foi denunciado pelo Partido Verde da Alemanha.
O que interessava ,dentro do contexto,quanto à continuidade dos democratas na casa branca,era a facilidade com que a visão universalista,não nacional,dos democratas,se encaixava neste objetivo geral.
Se os democratas fossem mais nacionalistas era difícil aceitar o evidente crescimento da Alemanha no coração da Europa.
Quando no último ano do governo Obama houve um massacre numa escola,a oportunidade de controle de armas se colocou como nunca diante dele,mas todos os analistas concordaram que a postura idealista melosa do Presidente não firmou a causa.Chorar em público não adianta nada,mas argumentos e uma visão geopolítica  capaz de ver por trás do comércio de armas os reais interesses.Todo idealista tende  a ser um chorão inócuo...
Desde Napoleão,com o bloqueio continental,que se sabe que  a península ibérica é essencial para se “fechar” a Europa,em torno de uma dominação.
Na segunda guerra Hitler tentou de todas as formas  comprometer a Espanha na sua guerra contra a URSS e os comunistas,ma Franco,sobre quem eu tenho uma profunda antipatia,agiu politicamente,separando seu país desta luta anti-comunista européia:quem quisesse integrar brigadas que pudessem ajudar os alemães na invasão da URSS que o fizesse,mas o exército não,a Espanha não.Na minha opinião esta postura era racional,mas perigosa ,porque se os nazistas vencessem e tomassem a  Europa,a Espanha seria tragada pela Alemanha.Acho até que dificilmente Franco terá torcido por uma vitória dos alemães...
Mussolini deveria ter agido assim,já que o fascismo italiano era mais forte no continente do que o alemão,mas o seu erro de comprometer a Itália no empreendimento custou caro a ele e aos italianos,que não queriam a guerra.
Pois bem,a situação se repete agora,mutatis mutandi.A evidente hegemonia crescente da Alemanha precisa “ fechar” a Europa,começando primeiro por este lado,revelando que se aprendeu uma lição:primeiro conter as extremidades.O reino unido já foi embora e agora a Espanha(e Portugal)se enfraquece e fica nas mãos das grandes nações,mais uma vez,corroborando uma  situação que vem desde o atentado de Madrid,que forçou,de fora para dentro,uma mudança político-institucional no país,que era alinhado à coalização anti-terrorista,contra o Iraque, e se retirou,mostrando que o terror tinha condições de chantagear o governo espanhol e obter resultado.
Assim sendo,levando-se em conta todos estes elementos nós vemos que a comunidade comercial européia não era um conceito suficiente para amarrar uma unidade “ espiritual” cuja vitória uniria outras partes do mundo,inclusive  AL e África.
Não é um conceito econômico que vai servir de base a isto,mas uma visão real de comunidade baseada em critérios de justiça e igualdade ,para além dos interesses puramente nacionais.Tenho manifestado a necessidade de preservar as nações como unidades culturais e históricas,mas se integrando numa comunidade universal.Aliás, dialeticamente, só há integração se há partes diferenciadas do processo.
Desde Kant ,com o seu “ Projeto de Paz Perpétua” ,em que ele lança a idéia de “ comunidade universal”,que  a questão sempre foi esta, a de igualar desiguais.Mas a solução sempre foi a de tratar isonomicamente todas as nações.Esta proposta foi feita por Kant,por Dante Alighieri bem antes,Rui Barbosa ,no Congresso de Haia em 1908 ,e em inúmeras vezes e épocas.
As diferenças nacionais prejudicam porque cada um vê o seu lado,mas se não houver uma mudança das grandes nações em considerar as necessidades das pequenas,a comunidade universal humana não vai se construir,como não se constituiu até hoje,na avaliação de Milton Santos e na de  Foucault que disse “ o homem morreu”,ou seja,o projeto humanista morreu.
À propósito disto tudo,a intenção,aparentemente socialista da Catalunha parece ser uma resposta ao fim deste projeto:mais vale garantir o bem –estar de uma comunidade do que defender uma nação(Espanha)que só nos prejudica.Quer dizer as tradições culturais e históricas não são mais importantes do que o bem-estar material da comunidade.Como se  a Catalunha autônoma não fosse capaz de melhorar unida à Espanha;como se a tradição espanhola da Catalunha fosse desaparecer;como se esta tradição fosse culpada de uma suposta miséria do povo catalão;como se a Catalunha sozinha,na relação com outros países ,fosse capaz de progredir ,de superar o problema de desemprego nacional espanhol.
E para concluir:não é verdade que maioria do povo catalão seja a favor da separação.Quem votou no referendum foi uma minoria disposta a se locupletar,a enriquecer e virar as costas para os outros.E isto não é nada incomum na “ esquerda”,muito pelo contrário...vide Brasil...

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