Quando eu disse que não acreditava na
sinceridade nem de França nem de Alemanha ao se colocarem contra a independência da Catalunha foi
porque no final das contas isto os torna como “ garantidores” da unidade
espanhola e os ajuda nos seus respectivos projetos nacionais hegemônicos.
A direita entende que em todo este movimento
existe um propósito comunista.Vejam só,Merkel,o Presidente da França(quem?)e
Obama estão mancomunados para fazer o comunismo na Europa.
Como se pode pensar assim desde que a Alemanha
lançou este projeto hegemônico no caso da Grécia?Em que medida isto seria um
projeto comunista e não nacional-hegemônico?A Alemanha,como eu já relatei obrigou
a Grécia a se atrelar economicamente a ela,vendendo armas inúteis para aquele
país.Isto foi denunciado pelo Partido Verde da Alemanha.
O que interessava ,dentro do contexto,quanto à
continuidade dos democratas na casa branca,era a facilidade com que a visão
universalista,não nacional,dos democratas,se encaixava neste objetivo geral.
Se os democratas fossem mais nacionalistas era
difícil aceitar o evidente crescimento da Alemanha no coração da Europa.
Quando no último ano do governo Obama houve um
massacre numa escola,a oportunidade de controle de armas se colocou como nunca
diante dele,mas todos os analistas concordaram que a postura idealista melosa
do Presidente não firmou a causa.Chorar em público não adianta nada,mas
argumentos e uma visão geopolítica capaz
de ver por trás do comércio de armas os reais interesses.Todo idealista
tende a ser um chorão inócuo...
Desde Napoleão,com o bloqueio continental,que
se sabe que a península ibérica é
essencial para se “fechar” a Europa,em torno de uma dominação.
Na segunda guerra Hitler tentou de todas as
formas comprometer a Espanha na sua
guerra contra a URSS e os comunistas,ma Franco,sobre quem eu tenho uma profunda
antipatia,agiu politicamente,separando seu país desta luta anti-comunista
européia:quem quisesse integrar brigadas que pudessem ajudar os alemães na
invasão da URSS que o fizesse,mas o exército não,a Espanha não.Na minha opinião
esta postura era racional,mas perigosa ,porque se os nazistas vencessem e
tomassem a Europa,a Espanha seria
tragada pela Alemanha.Acho até que dificilmente Franco terá torcido por uma
vitória dos alemães...
Mussolini deveria ter agido assim,já que o
fascismo italiano era mais forte no continente do que o alemão,mas o seu erro
de comprometer a Itália no empreendimento custou caro a ele e aos italianos,que
não queriam a guerra.
Pois bem,a situação se repete agora,mutatis
mutandi.A evidente hegemonia crescente da Alemanha precisa “ fechar” a Europa,começando
primeiro por este lado,revelando que se aprendeu uma lição:primeiro conter as
extremidades.O reino unido já foi embora e agora a Espanha(e Portugal)se
enfraquece e fica nas mãos das grandes nações,mais uma vez,corroborando uma situação que vem desde o atentado de
Madrid,que forçou,de fora para dentro,uma mudança político-institucional no
país,que era alinhado à coalização anti-terrorista,contra o Iraque, e se
retirou,mostrando que o terror tinha condições de chantagear o governo espanhol
e obter resultado.
Assim sendo,levando-se em conta todos estes
elementos nós vemos que a comunidade comercial européia não era um conceito
suficiente para amarrar uma unidade “ espiritual” cuja vitória uniria outras
partes do mundo,inclusive AL e África.
Não é um conceito econômico que vai servir de
base a isto,mas uma visão real de comunidade baseada em critérios de justiça e
igualdade ,para além dos interesses puramente nacionais.Tenho manifestado a
necessidade de preservar as nações como unidades culturais e históricas,mas se
integrando numa comunidade universal.Aliás, dialeticamente, só há integração se
há partes diferenciadas do processo.
Desde Kant ,com o seu “ Projeto de Paz Perpétua”
,em que ele lança a idéia de “ comunidade universal”,que a questão sempre foi esta, a de igualar
desiguais.Mas a solução sempre foi a de tratar isonomicamente todas as nações.Esta
proposta foi feita por Kant,por Dante Alighieri bem antes,Rui Barbosa ,no
Congresso de Haia em 1908 ,e em inúmeras vezes e épocas.
As diferenças nacionais prejudicam porque cada
um vê o seu lado,mas se não houver uma mudança das grandes nações em considerar
as necessidades das pequenas,a comunidade universal humana não vai se construir,como
não se constituiu até hoje,na avaliação de Milton Santos e na de Foucault que disse “ o homem morreu”,ou seja,o
projeto humanista morreu.
À propósito disto tudo,a intenção,aparentemente
socialista da Catalunha parece ser uma resposta ao fim deste projeto:mais vale
garantir o bem –estar de uma comunidade do que defender uma nação(Espanha)que
só nos prejudica.Quer dizer as tradições culturais e históricas não são mais
importantes do que o bem-estar material da comunidade.Como se a Catalunha autônoma não fosse capaz de
melhorar unida à Espanha;como se a tradição espanhola da Catalunha fosse
desaparecer;como se esta tradição fosse culpada de uma suposta miséria do povo
catalão;como se a Catalunha sozinha,na relação com outros países ,fosse capaz
de progredir ,de superar o problema de desemprego nacional espanhol.
E para concluir:não é verdade que maioria do
povo catalão seja a favor da separação.Quem votou no referendum foi uma minoria
disposta a se locupletar,a enriquecer e virar as costas para os outros.E isto
não é nada incomum na “ esquerda”,muito pelo contrário...vide Brasil...
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