sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Nada de ruptura juridica

 

Mais análises sobre a luta de classes

Volto para discutir novamente um conceito que tenho criticado sobejamente:o de luta de classes,um dogma renitente na esquerda.

Quando eu era um militante radical nos inicios dos anos 80 do século passado tinha um professor de sociologia muito rigoroso Nelson Maciel Pinheiro Filho,que me ajudou muito.Uma vez eu repeti os conceitos sobre luta de classes do marxismo e ele ,logo,aduziu:mas as classes não existem por si mesmas,elas se relacionam e só existem neste relacionamento.

O paradigma da luta de classes se “ consolidou” antes do aparecimento da sociologia que provou as afirmações acima e afinal este relacionamento contém em si uma dialética também.

Como mostra Popper,a origem do conceito únivoco,monistico, de luta de classes,deriva das concepções de Aristóteles que serviram de base para a análise da realidade social e natural.

Nesta perspectiva só se viam os conflitos entre os diversos setores da sociedade como ocasião em que mudanças ocorriam,mas a tradição experimental ,que cresce desde a ciência moderna e que se reflete mais no pensamento empirico anglo- saxônico,começou a revelar aquilo que a sociologia tornaria uma “ lei” cientifica:que não só os processos de ruptura tèm lugar,mas também os de colaboração e integração.

Este tipo de dúvida influenciou até a teoria da evolução de Darwin Wallace:o biólogo só se fixou na luta pela sobrevivência como motor das modificações da seleção natural,mas ,e foi este professor de sociologia que me indicou,na natureza há também processos de seleção a partir de integrações e “ colaborações “ entre os seres vivos.Num livro,à época,muito importante,” Ensaios de Sociologia”,de Octavio Ianni,importantíssimo sociólogo,até hoje,há um artigo em que se faz referência à visão divergente do anarquista Piotr Kropotkin,quanto à seleção natural,observando que em muitos casos a integração entre os seres vivos produz mudança também.O exemplo dado lá é o do peixe-piloto com o tubarão que favorece a sobrevivência do primeiro.Mas há outros exemplos como o das formigas,cupins e abelhas que se protegem coletivamente.

De modo que a dialética é não só rupturista,mas integrativa,como é de sua natureza óbvia,sendo o paradigma da luta de classes,unilateral e falsa.

Neste sentido, ao defender uma politica de esquerda,no interior de uma nação e de uma cidadania,baseá-la só numa classe e nos direitos desta classe é um convite à destruição do meio e de seus liames normativos,psicológicos e políticos mesmo.Assim se fazem as guerras civis e os cataclismos que geram os nazismos da vida.

Se é certo que há que se priorizar aquele que está numa situação pior,por incidência maior da exploração,não há justificativa para uma ruptura institucional e jurídica.

É a diferença entre Marx e Kant.Enquanto Marx funda o progresso numa única classe,que precisa superar as outras,Kant fundamenta uma hierarquia de valores ,em que os mais desvalidos são abordados prioritamente,mas sem descuidar das necessidades e direitos dos outros.

O desconhecimento destas verdades leva às maiores distorções que conhecemos.



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