segunda-feira, 21 de março de 2022

Ucrânia IX

 

A politica é a guerra por outros meios

Mas algumas outras questões precisam analisadas ainda em todo este contexto e mais ainda a disposição pessoal minha é de defender sempre a diplomacia,para evitar estas mortes de inocentes(como sempre)e a fuga de civis de seu torrão natal.

Na verdade se os países do ocidente fossem realmente independentes e humanitários,despojados de interesses hegemônicos,este problema todo seria antecipado e soluções outras teriam sido achadas antes ,dispensando os desejos carniceiros dos cartéis de armas.Mas eles é que mandam.

É dentro deste contexto tantas vezes reiterado que quero apresentar um problema.Leitor:a melhor forma de atacar e diluir uma ditadura,especialmente de esquerda,não é a confrontação.Vou relembrar:Tudo isto estava planejado por Putin,mas o que desencadeou o processo foi a perda de apoio interno após a condena do dissidente.

O outro lado,o ocidente,viu nisto uma oportunidade de forçar a democracia na Rússia e de quebra impor seus interesses hegemônicos sobre a Rússia ,sobre a Europa e sobre o mundo.Ponto.

Criada a confusão ,todos estes interesses estao consagrados aí,tendo possibilidade de obter os seus objetivos,um pouco mais um pouco menos,mas eles vão ser alcançados.

A confrontação cria um drama que ajuda a estes objetivos escusos.Uma politica alternativa menos dramática ,mais direta e mais justa, prejudicaria.

Mas esta confrontação faz parte também ,outra vez,da politica da guerra-fria.

A guerra-fria,para muitos autores se iniciou em 1917.As acusações entre o poder bolchevique nascente e o ocidente só pararam por causa do nazi-fascismo.Outros autores inclusive entendem que avant la lettre a 2 ª guerra não está totalmente apartada desta fase histórica.

Na verdade ,a partir de 1917 a guerra-fria estava ab ovo e eclodiu no discurso de Fulton em 1946.

A única coisa que não era prevista e que é fundamental na guerra-fria é o poder nuclear.A terceira guerra não se deu por causa do poderio nuclear,o qual dizimaria a humanidade como um todo.

As condições convencionais para uma terceira guerra sempre estão aí,à espreita,inclusive agora,mas os arsenais nucleares o impedem.Ainda não se formou,felizmente,aquilo que alguns estudiosos chamam de exterminismo,o suicidarismo da humanidade.

Antes da segunda guerra cartéis da guerra já atuavam,mas com o pontapé inicial dado por Churchill em Fulton e com esta conjuntura de expectativa nunca realizada ,a corrida armamentista toma ares mais de negócio do que de auxilio às nações.

Explico:até a segunda guerra a corrida armamentista se escoava na guerra,terminava com o conflito.Mas na guerra-fria a corrida armamentista ,além de ser um negócio,era e é parte do processo politico.Se no passado a guerra é a politica por outros meios,agora isto se confirma,de um modo um pouco diverso.E como negócio,como politica, os cartéis da guerra não se mantêem só no plano do conflito entre as nações,mas se espraiam para dentro delas encontrando justificativas ideológicas para armar traficantes,criminosos de colarinho branco e outros marginais.

Em 68 a contestação do status quo era imensa.Não era só um fenômeno da esquerda,mas do mundo ocidental.Para conter o impulso principalmente da juventude, a direita manipulou a educação e espalhou a droga para desviar a consciência dos jovens de objetivos humanitários,tornando-o viciada e egocêntrica(egoista também).Junto com a droga vêm as armas.

Muito se fala na mudança da abordagem para combater a droga,mas não há outra maneira de terminar com ela,se não terminar o tráfico e terminá-lo é desarmá-lo.

Churchill,extremamente derrotado na segunda guerra,ele e o seu país,fomentou a guerra-fria para continuar na crista da onda,se colocando como um campeão da liberdade,mas com isto os processos de contrução de um complexo industrial militar,como denunciou Eisenhower em 1960,vieram para ficar.

Como não era possível a confrontação URSS/EUA,o campo da descolonização na África,na Ásia serviu de local de terçar armas e mostrar força.

Aí é que este complexo industrial-militar se formou para ficar até hoje.Ele percorreu a guerra do Vietnã,a África e quando acabou a URSS não havia razão para a sua continuidade.

Mas ,por insistência dos Estados Unidos e da Inglaterra da Sra Thatcher ,a URSS caiu de uma vez só,sem uma transição mais que exigivel,para proteger o povo russo das mudanças e dentro deste açodamento as soluções mais fáceis e mais autoritárias ganharam força:os arsenais militares foram tomados por apoiadores de Yeltsin,vendas de armas cresceram,no rastro da invasão do Afeganistão e com tudo isto era de se esperar que a otan não morresse e que novas guerras fossem criadas,como a da Iugoslávia.

Com esta narrativa provo que a mediação mais importante da guerra-fria sobrevive.E que a confrontação a mantém viva.

Em determinados momentos do periodo propriamente dito da guerra-fria abriu-se uma brecha nesta confrontação:até certo ponto na relação Kennedy/Kruschev,mas o momento mais memorável é o da Ost Politik do Chanceller Willy Brandt,a politica para o leste.

Esta politica encurtou a diluição da URSS,porque na medida em que o contato do leste com o ocidente cresce os desejos internos de democracia(e de consumo)aumentam.

Em Cuba a transição não ocorreu ainda,porque uma pletora de politicos americanos,que exploram há décadas a comunidade cubana de Miami,não larga o osso.

A melhor maneira de enfrentar ditaduras,notadamente de esquerda é não confrontar e não isolar,mas os cartéis não deixam e a politica passa a ser a guerra por outros meios.

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