domingo, 1 de novembro de 2020

Crivella e o comunismo

 

Numa entrevista numa radio aqui do Rio de Janeiro,à propósito de sua reeleição,Marcelo Crivella se referiu a um fato que pouca gente sabe ,mas que é a pura verdade:a origem da ideia comunista moderna não é de Marx,mas do cristianismo primitivo.

Eu já me referira a isto em outros artigos:o comunismo também faz parte da tradição judaico-cristã,que passou para o iluminismo alemão(aufklarung) e daí para Marx,que tentou dar-lhe um sentido científico,sem conseguir.

Ele se referiu à Ananias,um personagem do novo testamento e revelou como se deu este “ comunismo”:todos ,na comunidade,abriram mão de seus bens para dá-los a igreja que os administrou distribuindo-os entre os fiéis.Mas o mais importante é o critério que se tornou universal,e que não é cientifico,mas lógico e humano.Talvez esta seja a única adequação pura entre um discurso lógico e o real(passando pela emoção):” de cada um segundo a sua capacidade,a cada um segundo sua necessidade”.

O comunismo é uma ideia antiquissima na história da humanidade e um conceito polissêmico,ou seja,plural,como plural é a sua realidade.

Há muitas formas de comunismo.Colocar bens e instrumentos de trabalho em comum,é uma forma,como aconteceu em Canudos.O Contestado não tinha esta comunização de bens,mas não deixava de ser um outro tipo.Os novos baianos passaram anos numa comunidade,dividindo o pouco dinheiro que obtinham.

De qualquer maneira o comunismo,seja nas versões tradicionais,em que seus participes se despojam de posses ou interesses,é diferente do que foi projetado por Marx e pelo Iluminismo,pois estes últimos queriam um comunismo da superabundância econômica,a divisão de muitas riquezas produzidas pela indústria,por todos.

Neste tipo de comunismo a desigualdade natural do homem não sofre pressão de um regime politico:o socialismo ,por definição,é uma fase preparatória apenas do comunismo,em que,num periodo esperadamente pequeno,admite-se igualar desiguais,para fazer um aumento da produção e garantir o objetivo acima explicado.Este sacrificio socialista é só inicial,para a partir da base capitalista ,apressar o desenvolvimento e a produção de riquezas.Quando ele se prolonga ,como na URSS,no socialismo real,ou ele entra em processo de necrose,empobrecendo a população ou torna-se um totalitarismo,uma revolução nacional,uma revolução confinada num lugar,estiolada e repressiva,em que o trabalho fica exaustivo e sem finalidade e onde a individualidade desparece,como no romance “ Nós” de Zamiatin.

No comunismo,em que as pessoas possuem riquezas e podem se liberar da faina exaustiva,tendo tempo livre,a desigualdade natural é respeitada,bem como as diferenças.Assiste razão à Hannah Arendt ,que em “ A Condição Humana” estebeleceu uma ligação entre os liberais clássicos como Locke e Marx.Coisa que muito radical aí não entendeu até hoje.


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