sexta-feira, 13 de novembro de 2020

Depois de Evo Morales

 

Há muito tempo vinha querendo tratar desta figura histórica que nunca me agradou(e os motivos explico logo).Desejava tratar de alguns aspectos de seu governo longevo,especialmente a reforma agrária que foi feita sobre a vontade do congresso boliviano,o qual teve que decidir sob pressão de sicarios de Evo,quase sentados nas cadeiras.

A Bolivia sempre foi assim:fez ,de tempos em tempos,reformas agrárias que depois retrocederam,como todas que se baseiam só na entrega pura e simples das terras aos camponeses,que,sem dinheiro e sem ajuda do governo,as perdem depois.Quando Guevara esteve lá os efeitos de um destes retrocessos eram visiveis.

Estas reformas visam apenas ganhar apoio e legitmidade e foi com ela que Evo Morales sustentou uma de suas reeleições.

Nunca apreciei Evo Morales porque logo no inico de seu governo lançou uma invectiva contra o Brasil e esta invectiva me reporta a algo que eu ouvira em casa atribuído a Guevara:o Brasil é um país de fala e origem portuguesas,cercado de uma América Hispânica.

O processo da Independência da América Hispânica incluiu também a do Brasil:foi um processo latino-americano,mas sem que isto signifique uma unidade do continente.Este era o sonho de Bolivar,para os hispânicos,mas nem nos de fala hispânica e nem nos de portuguesa,este sonho se sobrepôs aos interesses mesquinhos,particularísticos ,de cada região e de cada elite.

No intuito de estabelecer um poder local ,estas elites,na maioria republicanas(o Brasil era uma monarquia) e mais preocupadas com este conceito do que com o de nação,procuram outras regiões,inclusive no Brasil.

Foi assim na Confederação do Equador,que pretendia reunir Venezuela e Colômbia com o norte e nordeste brasileiros.Mas o que prosperou progressivamente e ao longo do século XIX,mais e mais,foi a percepção de que às expensas do Brasil se poderia unificar de vez a América Hispânica ,realizando o sonho bolivariano.Na Europa ,a Alemanha conseguiu se unificar às custas da Áustria e isto se repetiria aqui.

Ao assumir o primeiro governo, Evo Morales citou um fato histórico que marcou um ponto de inflexão nesta história toda:o modo como o Acre foi “ tirado” da Bolivia,em troca de um cavalo.Porque este fato é um ponto de inflexão?Porque a Bolivia e parte da hispanidade acusou o Brasil de ter uma postura imperialista.Se isto se consolidasse haveria um pretexto de unidade destes países em relação ao Brasil.

Por isso falo tanto em nação:Morales palrava tanto em comunismo,internacionalismo,mas na hora H ele usa nação para propósitos internacionalistas,mas também de seu país e de ...sua eleição...Este politico nunca me enganou...Sempre reproduziu um oportunismo tipico de esquerda...

Mas esse artigo aborda a parte final de sua carreira politica, justamente travada pelo congresso boliviano e é sobre os desdobramentos desta feliz realidade que eu teço alguns comentários,não percebidos(intencionalmente)pela esquerda nacional...

Houve nova eleição e quem ganhou é alguém ligado à esquerda.Para a esquerda nacional foi um golpe,para tirar o povo do poder etc,etc.Mas a democracia quis seguir o seu curso,dentro do estado de direito e não fechou as portas para a esquerda boliviana, a qual tomou uma decisão que eu considero importantíssima nos dias que correm:o governo Morales não é igual ao de Maduro,mas privilegiou os setores mais pobres da população.Até aí tudo bem,acho normal e necessário,mas o comceito mais importante para a esquerda mundial entender,que só lê orelha de livro de Karl Marx,é que não há mais lugar para,em nome da luta de classes(orelha),romper com a estrutura institucional,de cidadania,de um país,de uma nação.

Não há razões e condições de um rupturismo milenarista,de salvação dos pobres.Faz parte do processo de emancipação do trabalho,o reconhecimento da nação e da cidadania.Não adianta ficar quarenta anos no poder e não entender isto.Está aí o México,governado por um partido só,que não o tirou da extrema miséria e dependência.

O traço mais distintivo do discurso do novo presidente é “ governar para todos” e há um outro politico,cujo nome me foge,que expressou princípio idêntico.

A visão rupturista de luta de classes acabou e a esquerda do passado também.



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