Há muito tempo vinha querendo tratar desta figura histórica que nunca me agradou(e os motivos explico logo).Desejava tratar de alguns aspectos de seu governo longevo,especialmente a reforma agrária que foi feita sobre a vontade do congresso boliviano,o qual teve que decidir sob pressão de sicarios de Evo,quase sentados nas cadeiras.
A Bolivia sempre foi assim:fez ,de tempos em tempos,reformas agrárias que depois retrocederam,como todas que se baseiam só na entrega pura e simples das terras aos camponeses,que,sem dinheiro e sem ajuda do governo,as perdem depois.Quando Guevara esteve lá os efeitos de um destes retrocessos eram visiveis.
Estas reformas visam apenas ganhar apoio e legitmidade e foi com ela que Evo Morales sustentou uma de suas reeleições.
Nunca apreciei Evo Morales porque logo no inico de seu governo lançou uma invectiva contra o Brasil e esta invectiva me reporta a algo que eu ouvira em casa atribuído a Guevara:o Brasil é um país de fala e origem portuguesas,cercado de uma América Hispânica.
O processo da Independência da América Hispânica incluiu também a do Brasil:foi um processo latino-americano,mas sem que isto signifique uma unidade do continente.Este era o sonho de Bolivar,para os hispânicos,mas nem nos de fala hispânica e nem nos de portuguesa,este sonho se sobrepôs aos interesses mesquinhos,particularísticos ,de cada região e de cada elite.
No intuito de estabelecer um poder local ,estas elites,na maioria republicanas(o Brasil era uma monarquia) e mais preocupadas com este conceito do que com o de nação,procuram outras regiões,inclusive no Brasil.
Foi assim na Confederação do Equador,que pretendia reunir Venezuela e Colômbia com o norte e nordeste brasileiros.Mas o que prosperou progressivamente e ao longo do século XIX,mais e mais,foi a percepção de que às expensas do Brasil se poderia unificar de vez a América Hispânica ,realizando o sonho bolivariano.Na Europa ,a Alemanha conseguiu se unificar às custas da Áustria e isto se repetiria aqui.
Ao assumir o primeiro governo, Evo Morales citou um fato histórico que marcou um ponto de inflexão nesta história toda:o modo como o Acre foi “ tirado” da Bolivia,em troca de um cavalo.Porque este fato é um ponto de inflexão?Porque a Bolivia e parte da hispanidade acusou o Brasil de ter uma postura imperialista.Se isto se consolidasse haveria um pretexto de unidade destes países em relação ao Brasil.
Por isso falo tanto em nação:Morales palrava tanto em comunismo,internacionalismo,mas na hora H ele usa nação para propósitos internacionalistas,mas também de seu país e de ...sua eleição...Este politico nunca me enganou...Sempre reproduziu um oportunismo tipico de esquerda...
Mas esse artigo aborda a parte final de sua carreira politica, justamente travada pelo congresso boliviano e é sobre os desdobramentos desta feliz realidade que eu teço alguns comentários,não percebidos(intencionalmente)pela esquerda nacional...
Houve nova eleição e quem ganhou é alguém ligado à esquerda.Para a esquerda nacional foi um golpe,para tirar o povo do poder etc,etc.Mas a democracia quis seguir o seu curso,dentro do estado de direito e não fechou as portas para a esquerda boliviana, a qual tomou uma decisão que eu considero importantíssima nos dias que correm:o governo Morales não é igual ao de Maduro,mas privilegiou os setores mais pobres da população.Até aí tudo bem,acho normal e necessário,mas o comceito mais importante para a esquerda mundial entender,que só lê orelha de livro de Karl Marx,é que não há mais lugar para,em nome da luta de classes(orelha),romper com a estrutura institucional,de cidadania,de um país,de uma nação.
Não há razões e condições de um rupturismo milenarista,de salvação dos pobres.Faz parte do processo de emancipação do trabalho,o reconhecimento da nação e da cidadania.Não adianta ficar quarenta anos no poder e não entender isto.Está aí o México,governado por um partido só,que não o tirou da extrema miséria e dependência.
O traço mais distintivo do discurso do novo presidente é “ governar para todos” e há um outro politico,cujo nome me foge,que expressou princípio idêntico.
A visão rupturista de luta de classes acabou e a esquerda do passado também.
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