sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Garrincha III

 

O paradigma nacional

A figura do jogador de futebol e particularmente de Garrincha,a partir de 38,se tornou um paradigma nacional,de comportamento médio(como sempre)nacional.

Ademir Marques de Menezes,contou certa vez que teve que visitar no hospital um menino com câncer terminal,pouco antes da final de 50,a qual o menino não asssistiu.Ademir ficou se perguntando:”Será que eu sou Deus?”

O jogador de futebol,no Brasil, se tornou uma figura tutelar,quase um deus efetivamente.O menino brasileiro se tornou igual ao homem grego,que se formava éticamente na relação com os deuses.

O jogador se tornou portador de valores,características(caráter),formadoras da nacionalidade.Eu não comungo da visão de Olavo de Carvalho de que os jogadores são falsos heróis,mas ,como seres humanos que são,carregam dentro de si o bem e o mal,o acerto e o erro ,e às vezes ,nem sempre predomina o melhor do jogador.

As classes mais favorecidas do Brasil,inclusive que se dizem de esquerda, ressaltam o lado inútil do futebol ou mesmo distorcido.Mas ,tirando a religião, não há mais nada que atinja mais o povo do que o futebol,e ele é republicano,laico e popular.E no passado só o futebol permitiu a ascensão de pessoas pobres,que sem ele,não teriam visibilidade ou chance de atingir o espaço das classes altas.

O surgimento de Garrincha reuniu em si todos estes valores de ascensão dos pobres e reação das classes altas.Estas últimas ressaltam as dificuldades pessoais de Garrincha para impedir esta ascensão e os menos favorecidos se identificam com Garrincha,de maneira acrítica.Mas o meio termo é que equilibra as coisas.

Se não assiste razão à classes altas atacar os pobres através de Garrincha,não há razão nos pobres em elevá-lo sem revelar os seus erros também.

Olhem,eu não posso ser acusado ao dizer estas coisas,de preconceituoso contra as classes menos favorecidas,porque eu já fiz um artigo revelando características criticáveis num intelectual de alto nível como Karl Marx.Se lerem este meu artigo,que está no meu blog A Ponte,verão lá os erros e algumas irresponsabilidades que ele cometeu e que o marxismo tem que mostrar também.A vida é assim.

Garrincha é uma ótima pessoa ,de boa indole,mas comete erros.Os pobres ao não expor também estas limitações,supostamente para evitar que esta crítica caia sobre eles ,perdem um elemento decisivo da luta pela sua emancipação:credibilidade,que é essencial na luta por justiça.

Eu me lembro de minha mãezinha,que era cafuza como Garrincha,ao lembrar de seus feitos futebolisticos,notadamente em 1962,quando nasci:os olhos dela brilhavam.Foi o ano do começo da ascensão dos mais pobres.


                                 minha mãe adorava o Garrincha

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