quinta-feira, 12 de março de 2015

O retorno de Marina



Na  ocasião  em  que   Marina   condicionou  o  apoio  a  Aécio  Neves  no  segundo turno, a  lutar  para  acabar  com a reeleição  eu  não  percebi  o  alcance  desta  proposta.
Como  não  vai haver  reforma  política  nenhuma,o  caminho  para  mudar  esta  situação  toda  é pela  atividade política  propriamente  dita,idéias,propostas,criação  de  partidos e  programas.
O  começo  se    efetivamente  pela proposta  de  Marina,porque  ,embora  eu  não  seja  contra a  reeleição,no  Brasil,nas  condições  atuais,ela  favorece  a  constituição de  grupos    na  administração  pública,associados  ao  poder  que  continua.Isto  facilita  a  continuidade  de  interesses,que,diante  de  benesses  não  querem  mais sair.
Efetivamente é  difícil  mudar  o  Brasil  em  quatro  ou  cinco  anos.Mas  só se  muda  em  quinze  se  houver  partidos  ,programas e  políticos  austeros.Partidos  programáticos  fortes e  um  funcionalismo  profissional.Mudar  em  5  ou  quinze  depende  de  algo  mais profundo.
Longe  de  mim defender  o  governo  autoritário  de  Getúlio  ,de  37 a  45,mas uma  das  condições  para  ele  fazer  as  mudanças  que  estão    até  hoje  foi  um  funcionalismo  profissional  de  alta  qualidade.
No  final  da  ditadura de  64,nós  discutíamos  o retorno  desta  profissionalização e  muitos  entendiam  ,inclusive  eu,que    com  o  parlamentarismo  era  possível separar  a  esfera  política  do  serviço  público.Eu  ainda  penso  desta  forma,porque,no  presidencialismo,depois  do pacote  de  Abril,em  77,o  Presidente    tem  uma  forma  de negociar  com  o  Congresso  o  seu  programa  de  governo,através  da  distribuição de  cargos.
Muita  gente  fala  no  financiamento  público de  campanha.É  uma  boa  medida,mas a causa  desta  situação é  este  toma      cá,que  expressa  uma  realidade  mais  complexa  do  problema  da  corrupção.
O  financiamento  público  de  campanha  não  dará  certo se  este  problema continuar.O  problema  da  corrupção  não  é  só o da  campanha      o  do sistema,típico  deste presidencialismo  de  coalizão ,que  nós  vemos  prosperar  desde  o fim da  ditadura.
Assim  sendo ,se  voltarmos  ao  constitucionalismo  brasileiro  tradicional ,de  alternância e  divisão de poder nós poderemos  colocar  de  fato a essência  do  poder republicano e  da democracia,bem  como,até  mesmo,uma  visão  social  mais moderna,porque  dividir  o  poder  é  um  pouco  de  socialismo  também.
Cada  governo será  obrigado  a  qualificar  mais as  suas  decisões.Para  isso  terá  que  ter um  programa  mais  bem  amarrado  e  será  possível  ,acima  de tudo,construir  ,a  partir  dos  partidos,uma  política  de  estado que  oriente  as  políticas  públicas.
  muito  tempo,neste  blog,eu  me  referi  ao  fato  de que para  mim a  verdadeira  política  é  a de  estado,porque  ela  considera  as necessidades  nacionais  e  coletivas,  as  quais  são mediações  que  devem  nortear  a atividade  imediata  dos  políticos.
Os  políticos  brasileiros  só olham  para  o  seu umbigo,para o  seu  nariz.Existem  políticas que  se  referem  aos  interesses  locais,mas  na  maior  parte,estão imbricados  com  problemas  nacionais.
Um exemplo  é  o  da segurança.Não  se pode  pensar  em resolver  o  problema  do  tráfico  nas  grandes  cidades,se  não  houver  políticas  coordenadas  nacionalmente,para  impedir entrada  de  armas e  drogas.Esta  tragédia  não  se  resolve  porque  cada  um destes  problemas  não  está  coordenado.Sabe-se    porquê...
Ele  não  se resolve  porque  cada  governo  implementa  uma  política  que  o seguinte  destrói.Este  é  o  mal  de uma  divisão  de  poder,mas a  partir  dela  ,a  sociedade,que  foi às  ruas  em  2013  tem  mais condições  de pressionar  a  política  nacional a  se  comportar  de  um  modo  diferente.
Neste  sentido  a  estratégia  de retorno  ao proscênio de  Marina  está  dada.A  falta    de  grandeza  de  Aécio,que    vive  chorando,pode  tê-la Marina,na  medida  em  que  é  a única,aparentemente,que  põe  as  questões  de fundo  ,que  estão  presentes  nesta  atual  crise.
Ainda  que  se faça  um  acordo  para  tirar  Dilma,isto  vai  esgarçar  o  processo  político  brasileiro,que    está  apodrecendo.As  questões  de fundo,estruturais , ficarão  ao sabor  destes  interesses  particulares,representados  pelos  presidentes  da Câmara e  do Senado e  a  política   de  Estado,conectada  com  um  projeto , ficará  para  as  calendas.

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