Também pelo lado da
preguiça poderia haver uma
intenção de mostrar como o povo
brasileiro era “ geneticamente”,”
racialmente” condenado à
marginalização do mundo do trabalho,mas
a razão é
aquela:o escravo não tem em princípio
interesse no trabalho,no produto
do trabalho.É outra
lição de “ O Capital”,citando os luditas,os
primeiros operários que,no início do
século XIX,quebravam as máquinas,imaginando que
assim os seus
empregos estariam garantidos.
O processo
de alienação vai se tornando progressivamente consciente
por parte do operário/trabalhador
moderno,no sentido de
que ele pode trazer
para si o trabalho,para
jogar um papel a seu
favor.A mediação mais decisiva
deste processo de “
apreensão” é a cultura,a arte,a
manifestação axiológica do trabalhador diante
deste mundo,que paulatinamente ele vai tomando para
si.
Macunaíma não
apresenta propriamente esta
progressão.Mas a busca
do herói pelo
muiraquitã,razão pela qual ele
deixou a
floresta para ir à
cidade,expressa um pouco
esta luta,este caminho
para buscar o que é seu,buscar
a sua identidade e
adquirir capacidade crítica.
Em dois momentos extraordinários fica
clara esta “
elevação da consciência”,mesmo que de
modo transverso.O primeiro
é a da fonte que
embranquece Macunaíma.O segundo momento é
quando ele faz um
breve,mas importante discurso,parafraseando outro herói,Policarpo Quaresma.Macunaíma diz:”Pouca
saúde e uma saúva
os males do Brasil são”(Policarpo
disse antes :” Ou o Brasil
acaba com a saúva
ou a saúva
acaba com o Brasil”).
São momentos
de um processo de
(auto-)transformação,compreendendo
mais e mais a
sua situação real
dentro de uma sociedade nova
na qual ele não se
adapta.
Repito:não
fica clara a questão(direta)da escravidão,mas a
condição cultural a
prepara.No final com a feijoada,
fica declarada a “ mistura”
brasileira,que admite,em
princípio a todos,a todas as raças
que constituíram o
Brasil.
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