segunda-feira, 4 de maio de 2015

Macunaíma:ai que preguiça!



Também pelo  lado da  preguiça   poderia haver  uma  intenção de mostrar  como  o povo  brasileiro  era    geneticamente”,” racialmente”  condenado  à  marginalização  do mundo do  trabalho,mas  a  razão  é  aquela:o escravo não tem em princípio    interesse no  trabalho,no produto do  trabalho.É  outra  lição  de  “ O Capital”,citando  os luditas,os  primeiros operários que,no início do  século  XIX,quebravam as  máquinas,imaginando  que  assim  os  seus  empregos  estariam  garantidos.
O  processo  de  alienação  vai se tornando progressivamente  consciente  por parte do operário/trabalhador  moderno,no  sentido  de  que  ele pode  trazer  para si  o  trabalho,para  jogar um  papel  a  seu favor.A  mediação mais  decisiva  deste  processo de    apreensão” é a  cultura,a  arte,a  manifestação  axiológica  do trabalhador  diante  deste  mundo,que  paulatinamente  ele vai  tomando para  si.
Macunaíma  não  apresenta  propriamente  esta  progressão.Mas  a  busca  do  herói  pelo  muiraquitã,razão  pela qual ele deixou  a  floresta  para ir à cidade,expressa  um  pouco  esta  luta,este  caminho  para buscar  o que é  seu,buscar  a  sua  identidade e  adquirir  capacidade  crítica.
Em  dois momentos extraordinários  fica  clara  esta    elevação  da  consciência”,mesmo que  de  modo  transverso.O  primeiro  é  a da  fonte que  embranquece  Macunaíma.O segundo  momento é  quando  ele  faz um  breve,mas  importante  discurso,parafraseando  outro herói,Policarpo Quaresma.Macunaíma  diz:”Pouca  saúde  e uma  saúva  os males do Brasil são”(Policarpo  disse  antes :” Ou o  Brasil  acaba  com a  saúva  ou  a  saúva  acaba  com o  Brasil”).
São  momentos  de um  processo  de  (auto-)transformação,compreendendo  mais  e  mais a  sua  situação  real  dentro de uma  sociedade  nova  na  qual  ele não se  adapta.
Repito:não fica  clara  a questão(direta)da escravidão,mas  a  condição  cultural  a  prepara.No final  com a  feijoada,  fica  declarada  a    mistura”  brasileira,que admite,em  princípio a todos,a todas  as  raças  que  constituíram  o  Brasil.

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