sexta-feira, 8 de maio de 2015

Macunaíma,herói de nossa gente



Na  Europa,os  povos  que  a  constituem,receberam  uma  base cultural  dos  gregos e romanos.Não é  que  nós  não a  tenhamos    recebido  também,no  entanto,nós  somos um  país  colonizado e  diferentemente  da colonização,por exemplo,da  América  Hispânica,não  tivemos  uma  elite  cultural  formada  em  universidades(elite criolla).O  projeto tão  conhecido  do  colonialismo  português,que  foi   o  último a  desaparecer,resultou  na  falta  de  um  pensamento  autóctone bem desenvolvido,o qual    começou  a  ser  um  problema  nacional  com a  república e com  o século  XX.
Neste  século  XX  avulta  em importância o trabalho  de Mário de  Andrade e  de  “ Macunaíma”,como  uma  tentativa de  ,pelo  menos,colocar  os  critérios deste  debate.
Normalmente  não  se  associa  o nome de  Mário  à    Antropofagia”,que  é uma  criação de  Oswald,mas  de  uma certa forma,Macunaíma  não  é estranho  a   este pensamento.
O  que  animava  aos modernistas era  a  constatação  de  que  pagávamos um  preço terrível pela colonização  portuguesa.Como conseqüência dela  nós  nos  acostumamos  a  importar  modelos  da  Europa,no que Darcy  Ribeiro   chamava  de    modernização  reflexa”.
A importação  da cultura  francesa era uma medida  de    civilização”.Os  modernistas brasileiros  quiseram  superar  este  verdadeiro estado de   dependência  cultural ,mas  diante  da vontade de mudar  constataram  a  falta  de  condições internas próprias  para  se lançar nesta aventura.
A  hegemonia  dos  modelos  culturais  estrangeiros  os impedia  de  começar  de  modelos originais ,então  inventou-se  a    antropofagia”,a idéia  de que  ,como os canibais  caetés que  comeram  o  Bispo Sardinha,nós  deveríamos comer o que  vinha  de  fora  para  depois  vomitar algo novo,algo  transformado.
A  bem  da  verdade  não existe  nenhuma  cultura original,nada  é original.Dizia  Parmênides “  ex  nihilo nihil(do nada  ,nada).O que  cada país  da  Europa  fez  ,no entanto,foi  criar  culturas  particulares  novas,no sentido  de  “ fontes”  universais  e  epocais(transcedentes),que traziam  relação  com  as suas regiões países.
Não existem Dante ou  Shakespeare  sem  os gregos e romanos,mas  eles    são  nacionais  e  universais.A  partir  de suas experiências regionais  criaram  idéias “  novas”,universais  e  que  servem de modelo para  outras  culturas,tornando-se fontes  de  tradições  culturais diversas.
Muito embora,no tempo  da  independência  este  esforço nacional tenha sido presente,somente  no  século  XX,com uma  visão nacional consolidada,conforme  eu  expliquei  antes,foi possível começar  a  produzir  uma  cultura nacional  plena,mas ainda  incapaz de  se  tornar    fonte”(modelo)ou  universal.
O modernismo  brasileiro,a  antropofagia e  a  contribuição  de Mário  buscam  fundar as  bases  desta visão nacional e não é  à  toa que usam  os  índios  canibais  para  iniciar.
É  uma  tentativa  de  recomeçar tudo desde  a colônia,que  é  o  período causador  deste  nosso  atraso,mas  com  óculos  do presente.
  que  não  temos  a condição  de  nos  voltar  para  nós  mesmos,vamos  engolir  o  de  fora  e regurgitar  algo diferente.
A  antropofagia  ainda  vale?Como  dizem  alguns  críticos,o modernismo  paulista  é estéril?Na minha opinião  ele ainda  é importante no sentido de reconhecer as  dificuldades essenciais  da  cultura  nacional para se  desenvolver.
Como  disse  em artigo anterior  ele apresenta  a  possibilidade  de  o  brasileiro  excluído apreender uma  cultura  predatória  e imperialista  de um modo diferente,mas  o  sentido  da antropofagia  não  era  aquele  que  ocorreu  depois  com os ciclos  regionalistas  do  nordeste  brasileiro,os quais  fizeram  um movimento  distinto,o  de se  voltar  para  dentro do país    para expô-lo  em  suas  mazelas.
Foi  assim  com  os  escritores,com o  teatrólogo Nelson Rodrigues e  assim  sucessivamente.Contudo,aquelas  universalização  e epocalidade  não  foram  atingidos até hoje.

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