Na Europa,os
povos que a
constituem,receberam uma base cultural
dos gregos e romanos.Não é que
nós não a tenhamos
recebido também,no
entanto,nós somos um país
colonizado e diferentemente da colonização,por exemplo,da América Hispânica,não
tivemos uma elite
cultural formada em
universidades(elite criolla).O
projeto tão conhecido do
colonialismo português,que foi
o último a desaparecer,resultou na
falta de um
pensamento autóctone bem
desenvolvido,o qual só começou
a ser um
problema nacional com a
república e com o século XX.
Neste século
XX avulta em importância o trabalho de Mário de
Andrade e de “ Macunaíma”,como uma
tentativa de ,pelo menos,colocar
os critérios deste debate.
Normalmente não
se associa o nome de
Mário à “
Antropofagia”,que é uma criação de
Oswald,mas de uma certa forma,Macunaíma não é
estranho a este pensamento.
O que
animava aos modernistas era a constatação de
que pagávamos um preço terrível pela colonização portuguesa.Como conseqüência dela nós
nos acostumamos a
importar modelos da
Europa,no que Darcy Ribeiro chamava
de “ modernização
reflexa”.
A importação da cultura
francesa era uma medida de “
civilização”.Os modernistas
brasileiros quiseram superar
este verdadeiro estado de dependência
cultural ,mas diante da vontade de mudar constataram
a falta de
condições internas próprias
para se lançar nesta aventura.
A hegemonia
dos modelos culturais
estrangeiros os impedia de
começar de modelos originais ,então inventou-se
a “ antropofagia”,a idéia de que
,como os canibais caetés que comeram
o Bispo Sardinha,nós deveríamos comer o que vinha
de fora para
depois vomitar algo novo,algo transformado.
A bem
da verdade não existe nenhuma
cultura original,nada é original.Dizia Parmênides “
ex nihilo nihil(do nada ,nada).O que
cada país da Europa
fez ,no entanto,foi criar
culturas particulares novas,no sentido de “
fontes” universais e
epocais(transcedentes),que traziam
relação com as suas regiões países.
Não existem
Dante ou Shakespeare sem os
gregos e romanos,mas eles já
são nacionais e
universais.A partir de suas experiências regionais criaram
idéias “ novas”,universais e
que servem de modelo para outras
culturas,tornando-se fontes
de tradições culturais diversas.
Muito embora,no
tempo da
independência este esforço nacional tenha sido presente,somente no
século XX,com uma visão nacional consolidada,conforme eu
expliquei antes,foi possível
começar a produzir
uma cultura nacional plena,mas ainda incapaz de
se tornar “
fonte”(modelo)ou universal.
O
modernismo brasileiro,a antropofagia e a
contribuição de Mário buscam
fundar as bases desta visão nacional e não é à toa
que usam os índios canibais
para iniciar.
É uma
tentativa de recomeçar tudo desde a colônia,que
é o período causador deste
nosso atraso,mas com
óculos do presente.
Já que
não temos a condição
de nos voltar
para nós mesmos,vamos
engolir o de
fora e regurgitar algo diferente.
A antropofagia
ainda vale?Como dizem
alguns críticos,o modernismo paulista
é estéril?Na minha opinião ele
ainda é importante no sentido de reconhecer
as dificuldades essenciais da
cultura nacional para se desenvolver.
Como disse
em artigo anterior ele
apresenta a possibilidade
de o brasileiro excluído apreender uma cultura
predatória e imperialista de um modo diferente,mas o
sentido da antropofagia não
era aquele que
ocorreu depois com os ciclos
regionalistas do nordeste
brasileiro,os quais fizeram um movimento
distinto,o de se voltar
para dentro do país para expô-lo em
suas mazelas.
Foi assim
com os escritores,com o teatrólogo Nelson Rodrigues e assim
sucessivamente.Contudo,aquelas
universalização e
epocalidade não foram
atingidos até hoje.
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