domingo, 28 de março de 2021

Adoro ciência,mas no lugar dela

 

No século XVIII,o do iluminismo,criou a ideia de que tudo podia ser explicado pela ciência.Tudo estava explicado e os homens do passado tinham sido irresponsáveis por não agir assim.

É o nascimento do monismo cientificista,da ideologia cientificista.Já no inicio do século XIX ,no plano prático e no plano filosófico,fraturas e contestações se opuseram a este otimismo cientificista e monista que achava que a busca pura e simples da causa dos fenômenos era suficiente para diluir todos os dramas humanos,passados e futuros.

Até mesmo a existência se guiava por este principio,mas estas fraturas referidas começam na constatação óbvia de que não é preciso buscar na ciência o fundamento da existência.

O monismo cria esta impressão,mas desde a sua formação no meio ideológico,as contestações foram claras ,na figura de um Kierkegaard,Dostoievski e mesmo na de Machado de Assis em “ Quinca Borba”,que detona uma das formas deste monismo tacanho por natureza.

Mas como Kierkegaard é do inicio desta formação,é decisivo para a nossa compreensão do problema.Contudo quem efetivamente me mostrou ,pela primeira vez, o caráter falso deste monismo ,cuja origem é a história da ciência e a construção da narrativa de sua evolução foi Ortega y Gasset,no seu texto,” Em torno a Galileu”.

Ao estudar na escola,nós aprendemos a história da ciência segundo uma narrativa feita posteriormente,segundo interesses que à ciência se acoplam.E um traço decisivo e distintivo desta narrativa é a autoridade absoluta da ciência,vantagem que reverbera sobre os seus continuadores e expositores.

A ciência,em grande parte,rompeu com as barreiras de classe:de Benjamin Franklin até Julio Verne,houve uma progressiva descontrução do mito de que só determinadas classes,com uma educação esmerada podiam fazê-la.Mas isto não autoriza a reprimir quem,nas classes altas,faz ciência e muito menos autoriza a falsear o periplo da ciência,em favor das classes menos favorecidas.Temos que ter isenção.

A primeira vez que eu notei as incongruências do monismo foi pela leitura de Ortega y Gasset,porque ele revela que no Ser,em tudo que existe e na ciência há sempre equivalentes ,formas de s e chegar aos objetivos diferentes,distintos,não únicos.

Quando crianças nós aprendemos a rigidez das experiências de Galileu na Torre de Pisa e a sua originalidade.Até aí morreu o neves.Esta constatação de equivalência é óbvia e conhecida,mas o que avulta deste reconhecimento é que só equivalentes apresentam possibilidades outras de descobertas e identifica eventualmente limitações e erros dos cientistas.

Diz Ortega:

A propositura de uma rigida adequação da linguagem com a realidade não procede.A experiência de Pisa pode ser equiparada por uma outra com tubos de ensaio ou com carrinhos de rolimã e assim por diante.

Se pudesse ser um deus ocorreria a Galileu jogar uma esfera contra a outra e chegar às descobertas de Newton sobre ação e reação.A relatividade galileana se dá no mesmo ambiente daquela de Einstein,mas Galieleu não sabia.Ele disse que no vácuo,no espaço sideral,dois objetos ,um martelo e uma pena,cairiam ao mesmo tempo e um astronauta ,na Lua,o provou.

Mas desde a época de Galileu até sempre,estiveram presentes a gravitação,no sentido de Einstein e logo os objetos são influenciados pela gravidade,pelas ondas gravitacionais,havendo,pois,uma resistência.Esta resistência dilui outra vez o monismo ,pois o principio físico da queda dos corpos,do movimento idêntico entre estes corpos,não corresponde às grandezas matemáticas deste movimento,porque neste plano a queda não é igual,confirmando o que Ortega diz acima.

Ora pela limitação de época(Galileu não podia sequer supor a relatividade)ou por interpretação, a ciência não é uma pura adequação subjetiva com o mundo real.As transformações galileanas são possíveis,dentro de certos limites,que não são reais,supondo o vácuo,só sendo válidas as de Lorentz.Então estas transformações de Galielu são falsas?Não,são limitadas e interpretativas.

Com a leitura de Ortega y Gasset se descortinou diante de mim as limitações da ciência,não a sua invalidez,como quer esta direita aí.Pelo contrário,a ciência se torna mais humana,mas discutivel,ou seja,democrática e...mais popular,mais palatável para as pessoas comuns.

O cientificismo do século XIX transformou a ciência no único saber válido,o que não é admissivel.As vicissitudes históricas e as limitações do tempo propiciam estes erros ,mas também interesses particularísticos.

Quando,por causa destes erros,a ciência fracassa ,ela permite que setores atrasadíssmos da religião tentem ocupar este espaço.

Mas no lugar dela a ciência é linda e indispensável.

Construir uma existência baseada no principio da explicação e explicação cientifica(objetiva)é,entre outras coisas,loucura.A pessoa que organiza a sua subjetividade na objetividade(stalinismo),está no fora-de-si de Hegel,está na insanidade próxima.

O discurso lógico explicativo(totalitário)fecha a subjetividade num circulo vicioso irresolúvel,porque por este principio toda a existência,em seus momentos(no tempo),deveriam ser explicados,o que é absurdo.Diante deste absurdo a subjetividade cria modelos universais,pretensamente suficientes(dialética,racionalidade,metafisica),para dar conta do tempo e da existência,dando-lhe sentido,mas este sentido só é obtido pela escolha,mesmo aquela que se revela depois errada.

Kierkegaard inaugura o existencialismo com a queda no absoluto,na fé,o direito de crença pura e simples,mas num outro texto ,OU_OU,radica a existência numa escolha,potencialmente presente na crença,na fé.

A errância do ser humano,sua condição inelutável é distinguida por Nietzsche e neste passo a ciência acusa estes filosofos de irracionalistas e grandemente irresponsáveis.Admitir o erro como normal seria fundamentar o descaso com os outros.

A única maneira de evitar erros que causem danos aos outros é um equilibrio entre a existência e a ciência,pelo esforço,e pelo esforço interpretativo de compreensão do mundo,adaptando a subjetividade a ele,sendo este um dos papéis mais importantes do intelectual.

Assiste razão aos racionalistas em parte quanto a esta critica,mas a solução não é a contraposição da existência e da ciência ,mas a sua relação equilibrada na experiência humana.Nem a existência(subjetividade)invade a ciência,nem a ciência objetaliza e fecha a existência.Mas a existência precede a ciência,assim como precede a essência ,que só pode ser compreendida quando o homem é capaz racionalmente de saber.




Nenhum comentário:

Postar um comentário