segunda-feira, 1 de março de 2021

Porque não posso falar em Stalin III?

 

A História oscila entre os fatos vividos no momento mesmo e a sua interpretação posterior.E de modo geral o que,no final,predomina ,é a interpretação,que constitui o fato histórico como se fosse um anacronismo,algo fora do tempo.

É como o descobrimento do Brasil.No momento em que Cabral chegou aqui o fato histórico não era este,mas depois,com o ulterior desenvolvimento dos acontecimentos ,os historiadores cristalizaram esta ideia de um “ Descobrimento”.

Como eu disse no artigo anterior, é impossível mudar o passado,mas mudar os seus efeitos no presente e preparar um futuro melhor é possível.Shakesperare dizia:” o passado é o prólogo”.Mudando a nossa percepção do passado é mais que possível evitar a sua repetição,seguindo o conselho de Santayana.

Não há como construir a utopia,que é ,afinal,uma ruptura com o vil do passado da humanidade,fazendo a mesma coisa que este passado.

Stálin é uma figura do passado.Ele é comparável a todos os criminosos do passado,que são objeto de crítica,inclusive de suas viúvas, e está atrás até do despotismo esclarecido.

Os seus métodos impõem inevitalmente a repetição dos erros e crimes do passado e toda a sua justificativa para o que fez é tirada de ideologias do passado:assim como a igreja católica,na sua forma inquisitorial,confundiu intecionalmente o erro dos homens com o pecado,para introduzir na vida um medo constrangedor de se cometer erros banais para não cair no pecado,Stalin transforma os seus horriveis crimes em erros e cria toda uma pletora de jsutificações para seus atos de ignominia.Os seus campos de concentração(gulags)são campos de trabalho, são campos de reeducação(como se o dos nazistas não o fossem também e igualmente os campos de trabalho neocoloniais,do Rei Leopoldo ,entre outros,que visavam “ civilizar” os africanos e os “ povos inferiores”[no passado remoto,a escravidão era justificada pelo desnivel de compreensão entre o senhor e o servo,o senhor e o escravo]).

Neles as pessoas recebem salários irrisórios que não lhes permitem comer e vestir,embora a moradia de “ qualidade” lhes seja concedida pelo Estado.

São baseados na Lei ,que não os prevê,mas que o Estado entende serem necessários na luta que se trava contra o capitalismo e os exploradores.

Muito embora eu perceba ,quanto mais pesquiso toda esta fase da História,uma lacuna no pensamento de Marx,que propicia estes erros e crimes,entendo que em seu texto fundamental sobre a questão do socialismo “ A Guerra Civil em França” há uma desaprovação quanto ao surgimento de figuras como estas de Stalin ,no âmbito à sua crítica do socialismo,como fase prévia à construção do comunismo:para ele o socialismo é só admissível nesta condição de fase anterior,porque em determinado momento,para obter a superabundância, há que igualar no trabalho todos que estão na sociedade.Mas depois esta fase tem que ser superada necessariamente,porque senão ela se tornará opressiva,por ofender a desigualdade natural dos homens,que Marx e Engels reconhecem na “ Critica ao Programa de Gotha” ,conforme provam entre outros autores,Hannah Arendt,em “ A Condição Humana”.

O fenômeno stalinista é esta extensão indevida deste socialismo,como fase inicial,eventual,do comunismo.Conhecendo os intelectuais comunistas e marxistas como eu conheço,tenho certeza de que Marx e Engels estariam em 1917,apesar dos avisos de Martov e dos Mencheviques e de Plekhanov,mas seriam obrigados,para não contradizer o que escreveram ,a repudiar aquilo que começou em 1928 e se prolongou até 1953 e de certo modo até 1989,na URSS: o stalinismo.


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