quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Uma defesa de Paulo Freire

Muitos artigos atrás disse que o patrono da educação brasileira era Anisio Teixeira,por abordar a questão nacional,e mantenho esta minha assertiva.
É discutível a postura educacional de Paulo Freire,de mediatizar a educação com a ideologia,pelo fato de favorecer o partidismo,em muitos casos passando por cima da escolha consciente do oprimido,mas em outro artigo tratarei do seu método.
O professor,por mais que queira ser isento,diante de certos fatos,não tem como não alertar os seus alunos.Tenho escrito artigos sobre o dia do professor,” comemorado” no dia 15 último e me reporto,muitas vezes,a experiências pessoais,comuns a todos os professores:uma destas experiências é a má qualidade do ensino,a excludência que incide sobre determinadas faculdades particulares,que atinge os alunos.Este último fenômeno era muito comum ,no passado(e ainda hoje),quanto à escola pública:o aluno de escola pública não saía preparado e não era priorizado na hora do primeiro emprego.Estudiosos afirmam que ,ainda que não se diga isto hoje,a prática,ocorre,porque o aluno de escolas particulares está mais preparado.
Diante de uma situação como esta um professor consciente tem que advertir os seus alunos,senão os estará enganando.A sala de aula não é dissociada da vida.Há um conceito pedagógico dando conta de que na hora do estudo o professor tem que induzir o aluno a gostar do que ele vê imediatamente,mas em certos contextos históricos e sociais uma blindagem deste tipo não é possível porque a realidade de fora da escola passa por cima dela inexoravelmente.
Quando era professor de faculdade particular,na área de direito,fiquei sabendo do absurdo de certos escritórios não aceitarem alunos oriundos de algumas delas,ato discriminatório pura e simples e preveni os meus aprendentes desta situação,não deixando de criticar a minha empregadora por não tratar do problema.Isto não é ideologizar,é dizer a verdade e cumprir com o dever de professor.
Mas duas coisas eu queria dizer a respeito de Paulo Freire:a primeira diz respeito à acusação da direita “ moderna” quanto à sua responsabilidade no analfabetismo funcional reinante hoje.Como já expliquei nos artigos anteriores não se falava em Paulo Freire na época da ditadura,porque isto dava cadeia.Foi a ditadura,usando Piaget(sem o consentimento dele),que acabou com a capacidade abstrativa do aluno,em favor da apreensão concreta da realidade,o que facilitava o projeto de inserir este “ novo aluno” numa prepocupação com as necessidades imediatas de sua vida,sem conectá-las com os problemas gerais,coletivos,nacionais,coisa que perdura até aos dias de hoje.
Pode-se objetar que o método Paulo Freire é assim e esta é outra discussão,mas ele não inseriu as suas propostas neste projeto de “ analfabetização” da sociedade.O objetivo dele era mais especifico.
A segunda coisa é que Paulo Freire é,a meu ver,um dos maiores críticos do stalinismo e do totalitarismo em geral.Quando eu já estava em crise com o stalinismo,o insight de Paulo Freire,em certo texto,foi decisivo para marcar a minha oposição a esta forma de violência politica de esquerda.Eu cito aqui a frase dele,mais ou menos,de memória:”o totalitarismo stalinista é completamente reacionário porque ele parte do pressuposto de que destruindo toda uma sociedade para colocar outra,melhor,no lugar,é possível construir a utopia.”
Quer dizer ,o rompimento violento com o passado é ilegítimo,por mais que o passado seja reacionário.Como um bom professor ele mostra que a atitude de ensino não é compatível com a violência,a destruição,mas com a construção.

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